30.10.2017 Views

Anais DCIMA Final-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Página 686<br />

Ainda no sentido genérico, qualquer texto artístico pode ser considerado uma<br />

grande metáfora por seu sentido conotativo, por inventar personagens análogas<br />

aos seres reais, por atribuir semas humanos a animais ou a entes inanimados,<br />

pela ficcionalidade de seu universo do discurso. (D’ONOFRIO, 1995. p.39)<br />

Em síntese, consiste-se sempre em um processo de deslocamento, ou seja, transferência de sentido de<br />

um contexto para outro, com destaque para o grau de parentesco. Por exemplo, ao dizer-se “Clara é uma rosa”,<br />

ou “Pedro tem olhos como dois grandes astros no espaço”, estar-se fazendo um exercício de aproximação. No<br />

primeiro caso, Clara assimilaria as características de uma rosa, como delicadeza, beleza. Já no segundo caso,<br />

os olhos de Pedro teriam grandes dimensões. Fundamentalmente, a metáfora é uma estrutura que parte do eixo<br />

paradigmático, portanto da escolha, seleção, para o eixo sintagmático, pois da combinação, ordenamento, onde<br />

tem-se a transferência de sentido de um termo para outro.<br />

Buscando-se suporte teórico em D’Onofrio (1995), o autor destaca que no plano da expressão, ou seja,<br />

do registro, do texto, a metáfora constitui-se de formas diferentes, apresentando-se por meio da predicação<br />

verbal; predicação nominal; por adjetivação; por comparação; por alegoria ou por símbolo; por alusão; dentro<br />

de um aspecto temporal; espacial ou sinestésico. Para o debate aqui levantado, resguardadas as considerações<br />

básicas da metáfora, ao afirmar-se já no título “O seringal e a metáfora do polvo”, estar-se considerando o tipo<br />

de metáfora apontada por D’Onofrio como sendo aquela por alusão. Em sua definição:<br />

Diferentemente do sentido alegórico, o sentido alusivo é dado por um texto que<br />

exige do destinatário o conhecimento de um fato histórico, mitológico, bíblico<br />

ou da vida contemporânea, a que a mensagem faz referência. Exemplificamos<br />

com as seguintes alusões de uso: ‘a dele foi uma vitória de Pirro’; ‘vivo sob a<br />

espada de Dámocles’; ‘virou Babel’; ‘parece uma arca de Noé’. (D’ONOFRIO,<br />

1995. p.44)<br />

Ao usar o termo “pieuvre” no texto “Entre os seringais”, associando-se a estrutura de um seringal a<br />

um polvo assombroso, Euclides da Cunha faz uso da mesma expressão outrora utilizada pelo escritor francês<br />

Victor Hugo dentro da obra Os Trabalhadores do Mar, constituindo-se assim a alusão euclidiana. Essa relação<br />

será discutida no item 3 deste estudo.<br />

2. Entre os seringais: uma “empresa” na belle époque amazônica<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!