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Anais DCIMA Final-1

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Página 533<br />

a sexualidade é uma figura histórica muito real, e foi ela que suscitou, como<br />

elemento especulativo necessário ao seu funcionamento, a noção do sexo. Não<br />

acreditar que dizendo-se sim ao sexo se está dizendo não ao poder; ao contrário,<br />

se está seguindo a linha do dispositivo geral de sexualidade. Se, por inversão<br />

tática dos diversos mecanismos da sexualidade, quisermos opor os corpos, os<br />

prazeres, os saberes, em sua multiplicidade e sua possibilidade de resistência às<br />

captações do poder, será com relação à instância do sexo que deveremos libertarnos.<br />

Contra o dispositivo da sexualidade o ponto de apoio do contra-ataque não<br />

deve ser o sexo-desejo, mas os corpos e os prazeres. (FOUCAULT, 1999, p.<br />

147).<br />

Por este motivo, no conto de Hatoum, o narrador, seus amigos e o próprio tio, Ranulfo, não são<br />

questionados ao fazer uso do corpo da mulher para suas ações sexuais, isso se deve ao fato de na sociedade, já<br />

existir uma “repartição social da legitimidade sexual, aos homens foi atribuído o registro dos direitos”<br />

(BIRMAN, 20016, p. 57) e enquanto para as mulheres, a função dos costumes. Em uma sociedade feita por<br />

homens e para os homens, entre as ordens do direito e dos costumes se condensariam todas as oposições que<br />

diferenciaram os homens das mulheres como “público/privado, espaço social/ família. Razão/sentimento,<br />

produção/ reprodução” (Ibidem), tais repartições priorizando as primeiras colocações, favorecendo o universo<br />

masculino, criado para a governabilidade tanto do espaço social quanto do imaginário feminino, fazendo com<br />

que as leis instituídas na sociedades, prevalecessem para os que são de direitos (os homens), não para os de<br />

costumes, no caso, as mulheres.<br />

Para Freud (2016), a civilização está obedecendo às leis da necessidade econômica, visto que uma<br />

grande quantidade da energia psíquica que ela utiliza para seus próprios fins tem de ser retirada da sexualidade.<br />

Com relação a isso, a civilização se comporta diante da sexualidade da mesma forma que um povo, ou uma de<br />

suas camadas sociais, procede diante de outros que estão submetidos à sua exploração. Essa camada, depois<br />

de incorporada ao processo da ordem das coisas ditas normais no panfleto social, passa a se identificar então<br />

como tal, no caso do conto deste artigo, pode-se constatar isso quando o narrador, mantém sua primeira noite<br />

amorosa quando adentra<br />

Um caminho estreito e sinuoso conduzia ao Varandas da Eva. Aos poucos, uma<br />

sombra foi crescendo, e no fim do caminho uma luminosidade surgiu na floresta.<br />

Era uma construção redonda, de madeira e palha, desenho de oca indígena.<br />

(HATOUM, 2009, p.10).<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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