Anais DCIMA Final-1

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De acordo com lideranças locais, “quando há necessidade dos quilombolas registrarem Boletins de
ocorrências na delegacia de polícia, dos conflitos em suas terras, na maioria das vezes, não são atendidos”. É
preciso, pois, usar o nome de lideranças e de advogados de Saco das Almas para que suas pautas sejam ouvidas.
Quando é pra registrar um boleim de ocorrência aqui, é muito difícil. Porque
sempre agente não tem acesso, agente não tem essa ação. Mas, hoje agente já
tem um pouco mais. Quando eles não querem registrar aqui, agente sabe...agente
liga pro advogado daí é mais fácil. Agente diz: pois tabom, eu vou ligar pra
fulano, aí eles fazem: Mais antes, agente era sozinho...hoje agente tem um
advogado, é mais fácil. Antes era preciso usar o nome de alguma liderança,
agente diz: não vai registrar não? Então ta bom, vou ligar pro advogado e você
resolve com ele. Aí eles chamam agente e registram o boletim. Basta da o
número de qualquer pessoa que eles fazem o trabalho, mais agente indo
pessoalmente eles não querem registrar não. Agente é recomendado, pelo
pessoal que acompanha a gente, pelos advogados a registrar, se eles disserem
que não vão registrar, liga pros advogados e eles já mudam de ideia, só registram
nessa situação assim. Mais primeiro tem um não. Se não usar o nome de
ninguém eles quererm passar por cima, não interessa não... (Francisco José de
Almeida, 2017).
Assim, grupos familiares quilombolas descendentes de Timóteo, situados em comunidades de Saco
das Almas, que vivem há gerações lá, disputam com os gaúchos o direito de permanecer nas suas terras e
continuar produzindo o seu modo de vida.
A reivindicação pela retomada das demarcações de terras, questão central a eles, divide espaço
na fala de lideranças com a súplica pelo direito à vida.
“Agente acorda com o cheiro forte do veneno que é jogado nas plantações da soja. O governo,
os gaúchos e as empresas dizem que essa expansão vai trazer benefícios para a comunidade, mas...isso nunca
vai acontecer, porque isso exige o sangue do nosso povo”, relata Domingos Ferreira da Silva, liderança da
comunidade Vila São José. Que, continua responsabilizando o estado brasileiro pelos conflitos hoje “sofridos
em Saco das Almas, fruto da demora e omissão na regularização, além da insegurança que predomina na
região”.
O acesso à área vem sendo impedido por fazendeiros que estão no local. “São pessoas com grande
poder aquisitivo e estão unidos para não deixarem os pequenos crescerem”, diz Domingos Ferreira.
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