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Anais DCIMA Final-1

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Página 281<br />

1. A desapropriação das terras<br />

De acordo com estudos antropológicos e certificação realizada pela Fundação Cultural<br />

Palmares, Saco das Almas se constitui como território quilombola, que remonta aos descendentes do antigo<br />

escravo “Timóteo”, a quem coube à fundação do lugar. Em função de sua participação em 1822, na guerra pela<br />

Independência do Brasil, ganha a terra e funda o grupo. Após ter lutado em defesa de uma autoridade oficial,<br />

ainda no período imperial, como recompensa pelo serviço prestado, foi-lhe dada autorização por meio de uma<br />

carta de sesmaria para morar na Data Saco das Almas (AYRES, 2002, p.17).<br />

A Data Saco das Almas, possui uma área total de vinte e três mil, cento e três hectares. Sua<br />

Desapropriação (Decreto nº 76.896) ocorreu no dia 23 de dezembro de 1975, publicado no Diário Oficial de<br />

31 de dezembro de 1976 (um ano depois). A época, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária<br />

(INCRA/MA), desapropriou toda a Data, indenizando todos os proprietários que lá residiam.<br />

Na ocasião da demarcação da área, foram medidos somente onze mil, setecentos e vinte e um hectares.<br />

E, embora tenha havido a desapropriação, os quilombolas atribuem à usurpação efetiva pelos fazendeiros e<br />

fraudes permitindo a inclusão de particulares como proprietários, o fato do INCRA, haver desapropriado<br />

menos de uma parte dos hectares da Data, destinados às várias famílias do lugar. Alguns ex-proprietários<br />

insistiram em permanecer na área, causando conflitos com os quilombolas locais.<br />

Há relatos de que algumas famílias das comunidades Vila das Almas e São Raimundo, foram<br />

enganadas por um parente, que as fez assinarem recibos dizendo servir para o registro de suas terras, mas, na<br />

verdade, eram contratos de venda. Grandes foram às lutas das famílias originais do lugar, para conseguirem<br />

manter seus terrenos.<br />

Os antigos moradores contam que foram “forçados a abandonar a área sob ameaças mais explícitas de<br />

violência contra suas famílias”. Muitos mudaram-se para as regiões periféricas de grandes cidades como São<br />

Paulo, São Luís, Goiás e cidades vizinhas como Chapadinha e Vargem Grande. Nas comunidades de Vila<br />

Criulis, Vila São José, Pitombeira e Faveira, também houve uma forte pressão para que os moradores<br />

vendessem seus terrenos. Muitos foram enganados. Sem saber ler, assinaram documentos, confiando nos<br />

compradores que chegavam de forma intimidadora, declarando serem os legítimos proprietários da terra.<br />

Por outro lado, muitas pessoas transferiram a titularidade para outras vindas do sul do país. Uma delas<br />

teria sido o Secretário do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brejo no ano de 2005, Bernardo Souza, que<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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