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Anais DCIMA Final-1

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Página 721<br />

com ampla repressão dos sujeitos envolvidos direta e indiretamente na organização política da guerrilha, como<br />

os guerrilheiros e camponeses da região, através da tortura, aniquilação e outras práticas repressivas. Uma das<br />

ações governamentais para o trabalho de reparação às violações do Estado, nesse caso, consiste em anistia<br />

política as pessoas que sofreram a violência do Estado autoritário. Gagnebin (2009), citando Paul Ricoeur,<br />

compreende esses processos de investigação do passado, como a anistia política, pedidos de perdão, dentre<br />

outros, como processos de não elaboração do passado, que corresponderiam a processos de recalque coletivo,<br />

já que as contínuas permanências das repetições violentas de acontecimentos do passado não cessam de<br />

acontecer, equivalendo a recusa do esclarecimento. O esclarecimento seria o reconhecimento dos malefícios<br />

sociais e a interrupção da repetição compulsiva das destruições humanas, como ocorreu no Holocausto.<br />

Elaborar o passado seria romper com a repetição de acontecimentos históricos de degradação dos sujeitos e de<br />

seu meio.<br />

A Chacina da fazenda Ubá representa um recorte da realidade vivida por pessoas em um dado tempo<br />

–década de 80 –tempo este que não possui rompimento com o presente e nem é contínuo a inauguração de<br />

uma nova forma de tratar as questões que envolvem a disputa pelo território no sul e sudeste paraense. O que<br />

poderíamos denominar como passado, retorna à memória dos sobreviventes no decorrer de suas vidas e<br />

também à medida que os atos de eliminação por assassinato, tortura, injustiça são perpetuados em novos<br />

crimes, com o objetivo de disciplinar os atores sociais (FOUCAULT, 2004). Isso fica evidente com os dados<br />

apontados pela Comissão Pastoral da Terra sobre os conflitos no campo do ano de 2016. Foram 61 assassinatos<br />

decorrentes de conflitos no campo. Dentre estes, 48 ocorreram em terras amazônicas. A organização alertou<br />

para o fato de que o 2017 iniciou com 20 assassinatos no campo. O relatório informou ainda que houve aumento<br />

do número de pessoas presas em decorrência de conflitos no campo no ano de 2016. Ressalta-se o número de<br />

200 pessoas ameaçadas de morte. Os dados referem-se a ocorrências na Amazônia brasileira.<br />

A versão oficial histórica da região tem sido desmontada por uma “contra memória” revelada por<br />

pessoas que viveram essa realidade e também através dos rastros da memória. O rasto “inscreve a lembrança<br />

de uma presença que não existe mais e que sempre corre o risco de se apagar definitivamente”, adverte<br />

Gagnebin (p. 44, 2009). Dessa forma a relação entre rastro e memória, segundo a autora, se funda na articulação<br />

mnemônica entre presença e ausência, ao passo que o presente remete ao passado esvaecido, tornando-o dessa<br />

forma, presente, mesmo com a ausência do objeto real a que ele esteja referenciado.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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