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Anais DCIMA Final-1

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Página 517<br />

2013b;). Após isso, faremos um estudo da discursivização do sujeito quilombola na instância do saber<br />

historiográfico, a partir de Moura (1992). Em seguida, faremos uma análise das duas letras de música<br />

supracitadas.<br />

Trabalhamos aqui com a consideração de que a historiografia é um domínio de saber<br />

institucionalizado, ligado à universidade, possuindo efeitos de poder que mascaram outros saberes,<br />

considerados como menores. Já as duas letras de música são monumentos históricos produzidos por sujeitos<br />

que não estão ligados a uma instituição produtora de saber científico, como a universidade, e que por isso é<br />

um saber mascarado pelo saber sistematizado da historiografia.<br />

1. A genealogia e os saberes dominados<br />

Para situarmos nossa discussão sobre a insurreição dos saberes dominados, precisamos voltar a uma<br />

formulação de Foucault (2013a) acerca dessa questão. Tal formulação está vinculada às suas elucubrações<br />

sobre dois fenômenos observados no âmbito da epistemologia de seu tempo. Por um lado, aquilo que o autor<br />

denomina de eficácia das ofensivas dispersas e descontínuas, que pode ser caracterizado como uma<br />

proliferação de críticas das coisas, das instituições, das práticas, dos discursos, e que ele coloca em termo dos<br />

discursos da antipsiquiatria, que enfrentaram o funcionamento da instituição psiquiátrica, e dos ataques contra<br />

o aparelho judiciário e penal, para citar alguns exemplos.<br />

Trata-se de eficazes críticas descontínuas, locais e particulares que se descobrem no efeito inibidor das<br />

teorias globais, totalitárias. É esse caráter local da crítica que caracteriza o primeiro fenômeno, indicando uma<br />

espécie de reprodução teórica autônoma, não centralizada, que não precisa da concordância de um sistema<br />

comum para estabelecer sua validade.<br />

O segundo fenômeno é o procedimento com o qual se estabeleceu essa crítica local, que Foucault<br />

(2013a, p. 265) denomina de “retorno de saber”, querendo dizer com isso a temática não mais do saber, mas<br />

da vida; não do conhecimento, mas do real. Tal temática produziu, segundo o autor, a “insurreição dos saberes<br />

dominados” (idem, p. 266). Cumpre, agora, esclarecer o que Foucault (2013a) entende por tal termo, que são<br />

duas coisas, a saber.<br />

Primeiro, trata-se dos “conteúdos históricos que foram sepultados, mascarados em coerências<br />

funcionais ou em sistematizações formais” (FOUCAUL, 2013, p. 266). Tais conteúdos históricos são os únicos<br />

capazes de possibilitar o encontro das lutas, dos confrontos que são mascarados pelas organizações funcionais<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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