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Anais DCIMA Final-1

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Página 320<br />

Ao narrar às impressões do lugar em que vivia, a região do Bico do Papagaio, através do documentário<br />

“Ubá: um massacre anunciado”, uma das testemunhas da chacina alistadas no processo, Pedro Avelino da<br />

Silva, lavrador que na época tinha 64 anos, afirmou: “olha a riqueza naquele tempo, meu senhor, era quem<br />

mandava em Marabá. Era dono de castanhal, era fazendeiro, era só a riqueza. Isso aqui morreu muita gente<br />

meu senhor, naquela época, Marabá fazia dó” (UBÁ, 2006).<br />

Segundo relatos do trabalhador rural Raimundo Bicada na referida produção fílmica, no dia 13 de<br />

junho de 1985, o acampamento foi sitiado por pistoleiros. Estes, tomando uma das trabalhadoras rurais que se<br />

encontrava em um dos barracões, fizeram-lhe dizer o paradeiro dos demais que ali viviam. Raimundo salienta<br />

lhe causou espanto o fato de os pistoleiros não terem sentido clemência daquela moça e afirmou que<br />

possivelmente aquela mulher deveria ter implorado aos pistoleiros lhe poupassem a vida. Raimundo<br />

acrescentou que naquele dia ocorreram muitas mortes; alguns dos corpos, diante da recusa da polícia em<br />

adiantar o recolhimento dos mesmos, passaram ao estado de decomposição e foram ali mesmo enterrados; os<br />

corpos que estavam em melhor estado de conservação, forma remanejados. Os trabalhadores mortos e<br />

identificados no dia 13 de junho foram: João Evangelista Vilarins, Francisco Pereira Alves, Luiz Carlos Pereira<br />

de Souza, Januário Ferreira Lima, Francisca de Souza, grávida.<br />

A chacina continuou no dia 18 de Junho de 1985. José Pereira da Silva, conhecido como “Zé Pretinho”,<br />

que, segundo relatos de testemunhas, havia recebido o recado de que sua morte estava próxima, teve sua vida<br />

ceifada, no mesmo dia que seu sobrinho Waldemar Alves de Almeida e do trabalhador Nelson Ribeiro. As<br />

mortes foram desencadeadas pelo fato dos trabalhadores estarem ocupando uma área até então dominada pelo<br />

fazendeiro José Edmundo Ortiz Virgulino. Edmundo, segundo testemunha do processo e sobrevivente, o<br />

Waldemir, sempre aparecia nas reuniões e afirmava ter a titulação da terra. Porém, segundo Valdemir,<br />

Edmundo jamais apresentou esse título, pois, segundo ele, o que Edmundo tinha era documentação que lhe<br />

autorizava a extração de castanha. Testemunhas afirmam que Edmundo espalhava a notícia de que tinha “um<br />

metro de dinheiro quadrado” para gastar com esse problema da ocupação da terra Ubá, segundo informações<br />

de algumas testemunhas arroladas ao processo (UBÁ, 2006).<br />

Dona Marina, aquela senhora que, grávida de oito meses perdeu o bebê em circunstâncias do<br />

assassinato de seu esposo e demais vítimas, contou sua própria história. Diversos outros “personagens”<br />

passaram a compor minha percepção dos fatos 21 anos após a chacina. Carlito, aquele que assistiu o assassinato<br />

de seu pai pelas fendas nas tábuas da casa de madeira e Marina, viúva do trabalhador rural Zé Pretinho, falaram<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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