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Anais DCIMA Final-1

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Página 535<br />

uns segundos. Por assombro, ou magia, o rosto dela era o mesmo, não<br />

envelhecera. Mal tive tempo de ver os braços e as pernas, a memória foi abrindo<br />

brechas, compondo o corpo inteiro daquela noite. Tarso escondeu a canoa entre<br />

os pilares da palafita, e entrou pela escadinha dos fundos. A mulher já tinha<br />

sumido. Permaneci ali mais um pouco, relembrando... Nunca mais voltei àquele<br />

lugar. (HATOUM, 2009, p.13-14).<br />

Logo, mediante a postura do narrador, constata-se que fica notória a divisão estabelecida entre os sexos<br />

parecerem estar "na ordem das coisas" (BOURDIEU, 2002, p. 17), como se diz por vezes para falar do que é<br />

normal, natural, a ponto de ser inevitável, ela está presente em todo o mundo social e, em estado incorporado,<br />

nos corpos e nos hábitos dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento<br />

e de ação, para que o narrador se identifique e se incorpore, enquanto dominante, nesse espaço categorizado<br />

pela sexualidade e por divisões sociais.<br />

3. Considerações finais<br />

Diante dessas considerações teóricas revisitadas, a partir do empréstimo para a análise literária do<br />

conto Varandas da Eva, conclui-se que de modo geral, possuir o corpo sexualmente do outro, é dominar no<br />

sentido de submeter a seu poder, "possuir" (ao passo que resistir à sedução é não se deixar enganar, não se<br />

deixar "possuir") no escrever de Bourdieu.<br />

Ter que promover e participar das manifestações (legítimas ou ilegítimas) que comprovam a<br />

masculidade do narrador, de seus amigos: Gerinélson, Tarso e Minotauro, bem como do proprio tio, Ranulfo<br />

por meio da demonstração da virilidade se situam na lógica da proeza, da exploração corporal e/ou sexual<br />

feminina, do que traz honra e, é necessário que haja essas práticas sexuais, dentro de uma sociedade<br />

androcêntrica.<br />

Portanto, mais do que um conjunto de órgãos definidos pela anatomia humana, o corpo é também é<br />

um composto de reflexos e sensações, um repositório de signos e ressignificações, o corpo é carregado por<br />

relações expressivas, subjetivas de sentido, tem materialidade e, é o veículo que para Bakhtin (2015) carrega<br />

o interior da vida e das representatividades sociais. Ele, o corpo, é o discurso que por meio da sexualidade se<br />

define a personalidade do indivíduo em sociedade, as intervenções que nele se operam, a imagem que dele se<br />

produz, os sentidos que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam e a educação social em que ele é<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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