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Anais DCIMA Final-1

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Página 615<br />

portuguesa, nisso se referia a titular da corte, à rainha D. Isabel [...] aqui em<br />

Alcântara, com pouco entendimento das pessoas na festa do Divino, mas eles<br />

procuram muito reconstituir uma corte no decorrer da festa do Divino, e, uma<br />

corte que a Mãe Calu procurava assim, identificar com a corte portuguesa.<br />

(MARANHÃO, 1997, p. 166)<br />

As tradições populares anônimas são transmitidas pela história oral que pertencem a uma memória<br />

coletiva que foi repassada de geração em geração, haja vista a ancoragem usada pelo personagem em relatar<br />

tal fato, retomando o que seu avô e Mãe Calu (ex-escrava que foi ama de leite de Heidimar Guimarães) sempre<br />

contavam a ele. Assim, destaca-se que as nossas vivências são experiências coletivas e ancoradas em grupo.<br />

(HALBWACHS, 2006)<br />

Uma das mais antigas caixeiras da cidade, exemplo de vitalidade nos seus 83 anos, é Ana Benedita<br />

Ferreira, conhecida popularmente como Anica, fala a respeito da festa:<br />

se não tiver caixeira a festa acaba, pois a festa é bonita com o batuque... Quando<br />

eu me entendi, a gente fazia ela da pouca força da gente! Hoje tem ajuda do<br />

governo... acabando o batuque, não tem mais festa do divino. Acaba tudo! Que<br />

bonito é o batuque! Bonito é o batuque! 6<br />

Ela faz a observação que antigamente as dificuldades de realizar a festa eram muitas e hoje há ajuda<br />

de patrocínio, como o do governo do Estado, extinguindo assim as viagens feitas por elas para tirar joias. Em<br />

relação a presença das caixeiras na festa, ela afirma que estas são primordiais, pois fazem parte de todos os<br />

momentos da festa.<br />

A partir dos relatos mencionados acima, pode-se perceber a presença marcante do cruzamento das<br />

memórias individuais que estão ancoradas no grupo a qual a memória se refere, apresentando os familiares<br />

como suficientes capazes na articulação da atividade mnêmica e sua forma narrativa. Assim, segundo Maurice<br />

Halbwachs (2003), a memória individual e a memória coletiva se alimentam e guardam informações<br />

importantes para os sujeitos garantindo a coesão do grupo e o sentimento de pertinência entre seus membros,<br />

pois a memória sempre tem um fundo social.<br />

Atualmente participam da festa do divino somente cinco caixeiras, distribuídas entre as caixeiras do<br />

Império – as três mais antigas e caixeiras do Mordomo Régio. Todas possuem descendência quilombola, sendo<br />

três delas moradoras da zona rural de Alcântara – comunidades de origem quilombolas.<br />

Destas, destaca-se Dona Irene de Jesus, moradora da comunidade de Itamatatiua, a qual afirma:<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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