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Anais DCIMA Final-1

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Página 528<br />

ainda mais, se quem o pratica, é do sexo feminino, que em um visão androcêntrica, é visto como indivíduo<br />

inferior diante da virilidade simbólica do homem.<br />

No decorrer da História de lutas e resistências por um espaço social valorizado na sociedade, a mulher,<br />

vista como um ser relativo, uma vez que a humanidade é masculina, e o homem define a mulher não em si,<br />

como um ser autômono, mas inessencial perante o essencial, a ele (BEAUVOIR, 2009), a mulher ainda é<br />

identificada dentro desse processo conservador de divisão de papéis sociais, como um objeto de desejo, o qual<br />

desempenharia, funções domésticas e/ou sexuais. Levando em consideração essa última, torna-se mais<br />

relevante para este estudo, quando, em plena pós-modernidade, conquistas de direitos de gêneros sexuais<br />

distintos já são fatos, ainda existam comunidades que propagam a ideia de que a identidade masculina, só<br />

possa ser dada e/ou comprovada quando este esteja de fato, com uma mulher, ou seja, literamente tenha<br />

concretizado com ela o ato sexual, não importando quem a seja, desde que haja uma mulher destinada a realizar<br />

tal feito com o homem.<br />

Diante dessas premissas, é que se esboça esta análise sobre a necessidade da existência de um corpo<br />

feminino para ser portador do objeto de formação da sexualidade masculina, a partir da leitura do conto<br />

Varandas da Eva, do escritor manauara Milton Hatoum, por meio das falas do narrador- protagonista do conto,<br />

em que relata suas primeiras experiências sexuais em um bordel, localizado em um dos balneários, dos igarapés<br />

da cidade flutuante de Manaus.<br />

Por via dos discursos de ele (o narrador) e das demais personagens, vai-se observar, preferencialmente,<br />

as relações de poder que são estruturadas no conto, baseadas na ideia de que a sexualidade é um dos elementos<br />

de maior instrumentalidade, utilizável em maior número de manobras e servindo de articulação às mais<br />

variadas estratégias, funcionando segundo as conjunturais de poder (FOUCAULT, 1999), essas manobras são<br />

usadas pelo narrador- protagonista para rememorar suas primeiras experiências e aventuras sexuais na<br />

juventude, como um modo de demonstrar a seus amigos e a seus familiares, sua autoafirmação de homem, em<br />

uma sociedade ainda marcada por um patriarcalismo vigente, em que justifica a marca sexual que cada um<br />

porta e/ou carrega, constituinte no fato de uma ontologia sexual registrada no imaginário de homem-mulher e<br />

vice-versa (BIRMAN, 2016), como se a experiência do narrador enquanto identitária de ser homem, ou se<br />

comportar como tal na sociedade, dependesse desse tipo de relacionamento.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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