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Anais DCIMA Final-1

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Página 509<br />

1.3 Freud contra a arte moderna<br />

À maneira do poeta que, em sua obra, mataria o pai da horda ao menos o destituiria de sua posição de<br />

onipotência, André Breton desferiu alguns fortes golpes em Sigmund Freud. No livro Les Vases Communicants<br />

(1955), André Breton fez severas críticas à Interpretação dos sonhos (1900-1901), de Sigmund Freud, e<br />

denunciou a ausencia, na bibliografia desse livro, de um autor chamado Volket M. Welter, que teria<br />

influenciado fortemente as ideias ali expostas. Sigmund Freud, que recebeu um exemplar do livro com uma<br />

dedicatória em que André Breton o previne de suas “impertinências”, respondeu prontamente em cartas,<br />

mostrando que mencionou, no próprio livro, as noções de Volket M. Welter e que a omissão do nome do<br />

mesmo na bibliografia se deve a erros de edição. Aparentemente, Sigmund Freud “deu o troco” às<br />

impertinências de Andre Breton, após estas explicitações, ao afirmar que não está em condições de fazer uma<br />

nítida ideia “do que é e do que quer seu surrealismo”. Talvez, concluiu Sigmund Freud dizendo que não tinha<br />

que compreendê-lo, pois estava tão distanciado da arte.<br />

Sigmund Freud assumiu que não compreendia a arte moderna. E os artistas terão compreendido a<br />

psicanálise? Muitos estudiosos e pesquisadores já denunciaram na apropriação desta pelos surrealistas a<br />

existência de um mal-entendido ou um desconhecimento, negligenciando os ecos que, apesar de tudo, a própria<br />

teoria freudiana, no que concerne à arte e ao artista, oferece ao surrealismo. Sigmund Freud chegou a chacotear<br />

dessa aproximação desencontrada ao escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo austríaco<br />

de origem judaica Stefan Zweig (1881-1942), após a visita que este lhe fez, em companhia de Salvador Dalí,<br />

e 1938. Estavam também presentes a este encontro Gala Éluard Dalí (1894-1982), mulher de Salvador Dalí, e<br />

o poeta britânico Edward William Franck James (1907-1984), proprietário do quadro “Metamorfose de<br />

Narciso” (1936), levado para ser mostrado a Sigmund Freud. Edward William Franck James declarou a Stefan<br />

Zweig, no dia seguinte, que até então estivera inclinado a considerar os surrealistas, que aparentemente o teriam<br />

“adotado como santo padroeiro”, como absolutamente loucos (ou “loucos a 95% como se diz do álcool”), mas<br />

Salvador Dalí o teria feito mudar de ideia “com seus olhos cândidos e fanáticos”.<br />

Sigmund Freud admitiu que seria interessante examinar de um ponto de vista psicanalítico a realização<br />

de um quadro como aquele – o que não chegou a fazer – mas pões em dúvida, na mesma carta a Stefan Zweig,<br />

a legitimidade de se utilizar o termo “arte” no que concerne a obra que não repeitariam certos limites na<br />

proporção entre material inconsciente e pré-consciente. A Salvador Dalí, que sempre reafirmou<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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