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Anais DCIMA Final-1

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Página 530<br />

que nega o corpo masculino como fonte de prazer, fazendo com que dessa<br />

negação seja mantida uma separação entre corpo, genitais e envolvimento<br />

afetivo. (NOLASCO, 1995, p. 41).<br />

Desse modo, o narrador e seus amigos são incorporados ao meio social, para constituir-se enquanto<br />

sujeitos andromórficos corporizados de subjetividades heterossexuais, quando o tio do narrador, Ranulfo, já<br />

incorporado à ideologia da sociedade dominante do macho, em que já foi educado outrora, aos padrões<br />

tradicionais definidos pelo modelo patriarcal para o comportamento masculino em que “dissimulam as<br />

possibilidades do encontro nas relações sociais” (NOLASCO 1995, p. 43), em que definem o que cada homem<br />

irá aprender, e que irão repassar os atributos biológicos e culturais que o homem é continuamente exposto a<br />

ser no ambiente social pré- estabelecido, como se comprova na passagem do conto:<br />

Invejávamos tio Ran, que até se enjoara de tantas noites dormidas no Varandas.<br />

A vida, para ele, dava outros sinais, descaía para outros caminhos. Enfastiado,<br />

sem graça, o queixo erguido, ele mal sorria, e lá do alto nos olhava, repetindo:<br />

Cresçam mais um pouco, cambada de fedelhos. Aí levo todos vocês ao balneário.<br />

(HATOUM, 2009, p.8).<br />

Ou em fragmentos como este em que “Tio Ran, homem de palavra, foi generoso: espichou dinheiro<br />

para a entrada e a bebida. Depois tirou um maço de cédulas da carteira.” e “Tio Ran nos levou em seu Dauphine,<br />

parou quase na porta, nos desejou boa noitada.” (HATOUM, 2009, p.9), nos quais se verifica que a educação<br />

que é ensinada aos meninos, perpassa pelo<br />

programa social de percepção incorporada aplica-se a todas as coisas do mundo<br />

e, antes de tudo, ao próprio corpo, em sua realidade biológica: é ele que constrói<br />

a diferença entre os sexos biológicos, conformando-a aos princípios de uma<br />

visão mítica do mundo, enraizada na relação arbitrária de dominação dos homens<br />

sobre as mulheres, ela mesma inscrita, com a divisão do trabalho, na realidade<br />

da ordem social. A diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo<br />

masculino e o corpo feminino, e, especificamente, a diferença anatômica entre<br />

os órgãos sexuais, pode assim ser vista como justificativa natural da diferença<br />

socialmente construída entre os gêneros e, principalmente, da divisão social do<br />

trabalho. (BOURDIEU, 2002, p. 18- 20).<br />

Tal aceitação, a ordem natural das coisas, é observada por meio de duas situações intrigantes retratada<br />

pela tia do narrador, tia Mira. Ela aceita sua condição natural das coisas para o trabalho e, também incorpora<br />

ao discurso de poder da sexualidade que dará autenticidade a masculinidade do sobrinho e dos amigos, por<br />

meio de relacionamentos sexuais, somente corporizados, não afetivos, como se observa em<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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