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Anais DCIMA Final-1

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Página 308<br />

poéticas, para desenvolver movimentos aliados ao que se quer passar para o<br />

público, com sentimento, memória, emoção aliadas à técnica. A dança (e as artes<br />

circences) lida com um corpo para além do aspecto biológico. Este corpo é um<br />

complexo constituído e em construção, de acordo com o contexto e época em<br />

que vive. Pina Bausch, citada livremente, afirma não entender por que só se fala<br />

da dança, o mundo precisa ser incluído. O ser, o corpo que dança, não é algo<br />

descolado de um espaço, de valores, de crenças e do imaginário individual e<br />

coletivo que permeiam a formação de todos os seres. O corpo dançante, como<br />

todos os demais, é movido pelo desejo e pelo imaginário que o alimenta e o<br />

move, pois no início, era o movimento (MARTINS, 2009).<br />

Assim é que a artista Virginia prepara o próprio corpo e os corpos de seus alunos, sem exibicionismo<br />

nas suas práticas. Há amor, dedicação, prazer, suor, lágrimas, envolvimento, exaustão, corpo em ação, aliado<br />

a todas as sensações que vêm daquela imersão a que se refere Merleau-Ponty. Não há como trabalhar de outra<br />

maneira. Virginia afirma o quanto de si está em cada movimento, em cada respiração, em cada sopro da própria<br />

vida que é o fazer circense, afirma não saber viver de outra maneira. A entrega às sutilezas do preparo físicoemocional<br />

é inteira. No nosso entendimento, o artista que prepara o corpo sob tais princípios, saberá repassar<br />

à equipe e ao público esse compromisso com a qualidade físico-emocional e tecnicamente, mas, sobretudo,<br />

enfatizará a disposição do sujeito de estar entregue às artimanhas das acrobacias vivenciadas a cada<br />

apresentação.<br />

Ao retomar o título deste texto, O corpo sabe do que é capaz, o portador dele, nem sempre, nos<br />

referimos às maneiras explícitas ou sutis de cerceamento da espontaneidade corporal. Tais mecanismos<br />

opressores e oprimidos são, felizmente, porosos, por experiências próprias afirmamos que, quanto mais<br />

proibido o fruto, mais saboroso ele se torna! Quanto mais enclausuramos algo, mais frestas se nos apresentam<br />

para (ex)piação. Vale lembrar, no entanto, para aqueles que cedem aos interditos e, obedientes, camuflam<br />

desejos, potências, capacidades, anseios, necessidades de expressão corpóreo-emocional, que eles mal sabem<br />

o quanto seu próprio corpo grita, somatiza, reage, porque o corpo intui ou sabe o que quer. Mesmo não<br />

atendido, em seus desejos e reclamos, ele continua a manifestar-se em sintomas diversos. Seu papel é<br />

incomodar o portador por não escutá-lo, e, enquanto vivo for, o fará, pois não controlamos, totalmente, a<br />

intensidade dos nossos desejos. Eis o dilema de quem não consegue soltar as amarras que o prendem a<br />

limitações.<br />

Virginia reitera tais afirmações, para ela, o corpo vai muito além da estrutura física, afirma que o corpo<br />

é uma caixinha de cristal que deve ser cuidada com zelo e ciúmes, com decoro e sem limites, cuidar no sentido<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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