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Anais DCIMA Final-1

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Página 229<br />

“Creio que aquilo que se deve ter como referência não é o grande modelo da<br />

língua e dos signos, mas sim da guerra e da batalha. A historicidade que nos<br />

domina e nos determina é belicosa e não linguística. Relação de poder, não<br />

relação de sentido (FOUCAULT, 2006, p. 05)”.<br />

Ao olharmos nesta perspectiva, poderemos ajustar nossas lentes e observá-la em sua inscrição na<br />

história dos povos indígenas, em sua perspectiva social, em sua realidade de uso no ativismo indígena, e<br />

consequentemente, em suas reinvindicações por inserção social e acesso aos bens culturais e materiais da<br />

contemporaneidade, nas lutas pela demarcação de suas terras, por espaços de trabalho, etc. Nesta direção, este<br />

olhar sobre a língua, nos aponta na direção dos discursos. Discursos “como práticas que formam<br />

sistematicamente os objetos de que falam” (FOUCAULT, 2008 p. 55). Discursos que formam o ativismo<br />

indígena e pelos quais compreendemos seus sujeitos.<br />

Iniciar a compreensão dos enunciados produzidos pelo ativismo indígena em circulação na internet ou<br />

nas ruas das cidades brasileiras, requer uma ordem do olhar que o considere e analise em sua complexidade<br />

composicional e de suporte. Nesta direção, pensar enunciado, é formular que “é relativamente fácil citar<br />

enunciados que não correspondem à estrutura linguística das frases. (FOUCAULT, 2008, p. 92-93)”.<br />

Ao entrarmos nesta complexa ordem, somos impelidos a pensar enunciado na direção de compreendêlo<br />

no cruzamento em que:<br />

“a comunicação verbal entrelaça-se inextricavelmente aos outros tipos de<br />

comunicação e cresce com eles sobre o terreno comum da situação de produção.<br />

Não se pode, evidentemente, isolar a comunicação verbal dessa comunicação<br />

global em perpétua evolução” (BAKHTIN. 2009, p. 128).<br />

Uma reflexão meticulosa sobre o complexo terreno do ativismo indígena não seria possível sem<br />

considerarmos, como disse Bakhtin, o olhar sobre o terreno da “situação de produção”. É imprescindível a<br />

compreensão de que tal atividade existe na mobilização de uma língua que no passado estava a serviço do<br />

processo de colonização e hoje serve para os objetivos e lutas pelos direitos indígenas.<br />

Na articulação entre o uso da língua portuguesa nas condições acima mencionadas e os povos<br />

indígenas brasileiros, não é possível compreender este ato de enunciar como um simples produto híbrido,<br />

imerso em uma alquimia que não permita a visualização das situações de diálogo (em muitos casos conflituoso<br />

e tenso) proporcionadas pelos diferentes lugares:<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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