17.06.2016 Views

Dicionario Etimologico Da Lingua Portuguesa, de Antenor Nascentes

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

i Muitas<br />

.<br />

.<br />

.<br />

.<br />

DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO DA LÍNGUA -PORTUGUESA .<br />

.<br />

XIII<br />

espirito observador e perspicaz, e talento especial para comparar e induzir<br />

com precisáo e seguranca"<br />

O abalizado filólogo portugués estabelece as seguintes regras práticas a<br />

que o estudioso tem <strong>de</strong> se submeter ñas investigacoes etimológicas:<br />

1. a —•<br />

Procurar<br />

nos antigás documentos da língua a palavra cuja origem<br />

se indaga, buscando a forma e a significacáo mais antigás com que aparece;<br />

2.a- — Aceita a hipótese <strong>de</strong> urna origem latina, submete-se o étimo as<br />

leis fonéticas, a ver se elas explicam a transigáo para o portugués;<br />

3. a — É indispensável comparar o vocábulo portugués com os correspon<strong>de</strong>ntes<br />

das outras línguas románicas, vendo a sua evolugáo e diferenciagáo,<br />

se forem formas provenientes do mesmo vocábulo latino;<br />

4. a — No caso <strong>de</strong> conveniencia <strong>de</strong> forma entre a palavra portuguesa e<br />

a latina, como contraprova é preciso ver se também há conveniencia <strong>de</strong><br />

significacáo; havendo divergencia, indagar-se-á se é explicável a passagem<br />

<strong>de</strong> urna a outra significacáo; nao sendo possível explicar, rejeitar-se-á a<br />

hipótese;<br />

5. a — Absentada a hipótese <strong>de</strong> origem estrangeira, nao basta encontrar<br />

vocábulo semelhante na forma e na significacáo; é indispensável explicar<br />

históricamente como e quando po<strong>de</strong> vir para cá;<br />

6. a — Apurado éste ponto, é aínda necessáño sujeitar a palavra as transformacoes<br />

fonéticas próprias da nossa língua.<br />

Mas a pesquisa etimológica nao é urna aplicacáo passiva das leis da<br />

linguagem, conforme observa <strong>Da</strong>uzat. Urna parte muito gran<strong>de</strong> ainda é <strong>de</strong>ixada<br />

á imaginacáo lingüistica, ao faro do sabio, para encontrar em época<br />

prece<strong>de</strong>nte da língua o -antece<strong>de</strong>nte da palavra cuja filiagáo se procura. O<br />

romanista se <strong>de</strong>terá no latim vulgar para passar — como os antigos corredores<br />

— o facho ao latinista. Mas nenhum <strong>de</strong>les se po<strong>de</strong>rá gabar <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir<br />

a origem, primeira das palavras, <strong>de</strong> remontar até urna primeira forma além<br />

da qual nada mais haveria.<br />

For maior que seja o estudo, por maior que seja o trabalho, o etimologista<br />

nao se furtará á indispensável prerrogativa <strong>de</strong> todos os dicionários,<br />

como apontava Littré, a <strong>de</strong> apresentar lacunas e erros.<br />

Nao há trabalho menos agra<strong>de</strong>cido, dizia Bluteau, nem mais exposto<br />

aos insultos da crítica do que a obra <strong>de</strong> um vocabulario.<br />

Um dicionário etimológico <strong>de</strong>ve ser explicativo.<br />

A.quele que se contentasse com indicar a miz sem nada mais, seria aproximadamente<br />

quasi táo instrutivo como um dicionário biográfico que se limitarse<br />

a ministrar nomes e datas (Bréal)<br />

As etimologías <strong>de</strong>vem ser claras. C'sst bien peu <strong>de</strong> chose une étymologie<br />

qui n'est pas evi<strong>de</strong>nte (Meillet, Introduction á l'étu<strong>de</strong> comparative <strong>de</strong>s langues<br />

indo-européennes, pg<br />

. 428)<br />

Muitas vezes, na pesquisa da etimología <strong>de</strong> urna palavra, o elemento<br />

prepon<strong>de</strong>rante & um dado histórico; sem ele, toda explicacáo é falha. Qua?itas<br />

palavras ficam sem a verda<strong>de</strong>ira explicacáo etimológica por falta <strong>de</strong>les?<br />

Nada se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sprezar, nem sequer urna ligeira anedota. O caso se dá com<br />

as etimologías <strong>de</strong> algumas palavras, como chique, dominó, fiasco, larápio, etc.<br />

"A. falta dum dicionário histórico da língua, on<strong>de</strong> cada palavra apareca<br />

com suas antigás formas e significacóes, se ela remonta aos tempos antigos<br />

da língua, ou que permita <strong>de</strong>terminar com probabilida<strong>de</strong> a data mo<strong>de</strong>rna<br />

<strong>de</strong> introducáo das que nao estáo naquele caso, essa falta é o maior obstáculo<br />

que encontra o etimólogo portugués em gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> suas investigagoes<br />

vezes o conhecimento duma forma antiga, do sentido antigo ou<br />

provincial duma palavra, basta para fazer rejeitar urna etimología que alias<br />

se representa com condicoes <strong>de</strong> provável exagáo, ou para <strong>de</strong>scobrir a verda<strong>de</strong>ira<br />

origem". (Adolfo Coelho, prefagáo do Dicionário Manual Etimológico<br />

da Língua <strong>Portuguesa</strong>, pg<br />

. VIII) .<br />

É preciso em certos casos ce<strong>de</strong>r diante do impossível, em vez <strong>de</strong> estar<br />

criando fantasías sem a menor base. Cumpre seguir o conselho <strong>de</strong> Bréal: .<br />

em materia <strong>de</strong> etimología muitas vezes é preciso saber ignorar. Non omnium<br />

verborum dici posse rationem, já reconhecia Varráo no De língua latina,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!