17.06.2016 Views

Dicionario Etimologico Da Lingua Portuguesa, de Antenor Nascentes

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

:<br />

.<br />

.<br />

.<br />

.<br />

e<br />

Raigota 432 Ramerráo<br />

tira o osp. raya do b. lat. radia, <strong>de</strong> radiu,<br />

raio. Brachet faz outro tanto para o Ir. raie.<br />

RAIGOTA — De raiz (Figueiredo) . A forma<br />

supüe como ponto <strong>de</strong> partida o radical latino<br />

radie diante <strong>de</strong> sufixo que nao permite<br />

palutalizacáo da gutural, cfr. o aum. esp.<br />

raigón e mais ' as formas narigao, rapagáo,<br />

arraioar.<br />

RAIGRÁS — Do ingl. ray-grass, joio (A.<br />

Cocino).<br />

RAIMUNDO-SILVESTRE — Figueiredo enten<strong>de</strong><br />

que talvez seja corruptela <strong>de</strong> ranúnculo<br />

silvestre.<br />

RAINETA — Do fr. rainette, perereca (A.<br />

Cocino). Estas macas tém a casca manchada<br />

como as costas das ras.<br />

RAINHA — Do lat. regina; esp. reina, it.<br />

regina, fr. reine. Are. reía, raia (til nos dois<br />

i i) : E aquella nobre rreynha comecou <strong>de</strong> fallar<br />

(Corte Imperial, amid Nur.es, Grest. Are., 139).<br />

RAINHA-CLAÚDIA — Traducáo do fr. reine-Claudc,<br />

nome <strong>de</strong> urna ameixa, assim chamada<br />

em honra <strong>de</strong> Claudia <strong>de</strong> Franca, mulhef<br />

do re i Francisco I.<br />

EAINHETA — De rainha. (Figueiredo) .<br />

E'<br />

urna re<strong>de</strong> <strong>de</strong> fio grosso, que cose a copejada<br />

a. rainha, no aparelho <strong>de</strong> galeáo.<br />

RAIO — Do lat. rhdiu; esp. rayo, it. raggio,<br />

fr. ant. rai, mod . rayón.<br />

RAIVA — Do lat. 'rabia em vez <strong>de</strong> rabies;<br />

esp. rabia, it. rabbia, fr. rage. Are. rabila<br />

(Cornu, Port. Spr., § 111). V. M. Lübke, Introdúcelo,<br />

§ 152, Nunes, Gram. Hist-, 97.<br />

-RAÍZ — Do lat. radice; esp. raiz, it. radice,<br />

fr. ant. raiz, mod. ráeme (<strong>de</strong> um dim.<br />

*radicina)<br />

RAJA Do esp. raja (A. Coelho)<br />

RAJA — Do sánscrito raja, reí (<strong>Da</strong>lgado,<br />

Lokotsch). Diz <strong>Da</strong>lgado que as línguas dravídicas<br />

justificam a acentuacáo raja, ao passo<br />

que as neo-áricas justificam raja. G. "Viana,<br />

Ortografía Nacional, 67, Apost-, II, 333, acha<br />

que a adjuncao <strong>de</strong> um h no fim, rajah, alterou<br />

a pronuncia <strong>de</strong> raja (.rai ou rao nos cronistas),<br />

dando urna acentuacáo bárbara, pedida<br />

<strong>de</strong> empréstimo aos franceses que pela índole<br />

<strong>de</strong> sua Hngua nao po<strong>de</strong>m <strong>de</strong> outro modo acentuar<br />

os vocábulos seus ou alheios. A forma<br />

raja existia já na Miscelánea <strong>de</strong> Garcia <strong>de</strong> Reson<strong>de</strong><br />

E ' tcm uns governadores<br />

Rajas que sao regedores,<br />

Tudo mandam... (XCIj<br />

RAJADA — 1 (ventanía): A. Coelho tirou<br />

do esp. rajar; rajar significa abrir,, fen<strong>de</strong>r, partir.<br />

Além disso rajada em esp. é ráfaga<br />

1<br />

2 (maca., mandioca) : <strong>de</strong> rajado, listado.<br />

.<br />

—<br />

RAJAR — Do esp. rajar, fen<strong>de</strong>r (A. Coelho)<br />

.<br />

RAJO De rajar (Figueiredo)<br />

RALA — (rolao) — Do adj. ralo (A. Coelho,<br />

, G. Viana, Apost-, II, 334).<br />

RALE — Figueiredo compara eom relé, que<br />

parece relacionar-se cora relés. Levindo Lafayette<br />

<strong>de</strong>riva do ár. rahhlin, nóma<strong>de</strong>. O eso.<br />

tem ralea, que a Aca<strong>de</strong>mia Espanhola tira <strong>de</strong><br />

ralear, <strong>de</strong> ralo, raro.<br />

RALEIRA — 1 (escassez) : De<br />

ralo, raro,<br />

rolar.<br />

e suf. eirá. 2 (ralacáo) : De<br />

RALETE — De ralo e suf. eie.<br />

RALHAR — Do lat. rabulare, esbravejar,<br />

segundo A. Coelho, Pacheco e Lameira, Gram-<br />

Port., 100, Cortesao, Aditamento, pg. 41, LH,<br />

Nunes, RL, III, 295) ; do latim radulare, raspar,<br />

segundo Leite <strong>de</strong> Vasconcelos, RL, III,<br />

295. G. Viana, Apost-, II, 335, apesar <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r<br />

que nenhum dos étimos satisfaz, ainda<br />

assim acha mais admissível o primeiro, atenta<br />

a significacáo <strong>de</strong> "advogado gritador" que o<br />

voc. rábula tinha em latim. G. Viana consi<strong>de</strong>ra<br />

formas paralelas o toscano raqliare e o<br />

fr. railler. V. M. Lübke, REW, 7001 e 7009.<br />

RALO — 1 (adj.): Do lat. raru, raro (A.<br />

Coelho, Leite <strong>de</strong> Vasconcelos, lAcoes <strong>de</strong> Filología,<br />

216, Opúsculos, IV, 982, Cortesao, Nunes,<br />

Gram. Hist., 149); esp. ralo. Houve dissimilacao<br />

do segundo r. M. Lübke, REW, 7067,<br />

nao cita a forma port. G. Viana, Apost. II,<br />

334, repetindo Diez, Gram., I, 20, prefere ligar<br />

ao lat. raullu, dim. <strong>de</strong> rauus, fraco, emprégado<br />

por Planto na cxpressáo ralla túnica, túnica<br />

fina, leve; argumenta que a significacáo nao<br />

se confun<strong>de</strong> com a <strong>de</strong> raro. — 2 (crivo) : A.<br />

Coelho, que no Dicionário <strong>de</strong>rivou <strong>de</strong> ralar, no<br />

Suplemento consi<strong>de</strong>ra idéntico a ralo, adj. Cornu,<br />

Port. Spr., §§ 106 o 141, tira do lat. radula<br />

e nao <strong>de</strong> raullu por causa da significacáo. Cortesao<br />

e G. Viana, Apost., II, 334, M'. Lübke,<br />

REW, 7022, tiram do lat. rallu; esp. rallo, it.<br />

ralla. — 3 (inseto) : A. Coelho no Dicionário<br />

tira do lat. rallu com dúvida; no Suplemento<br />

dá o duvidoso radula, <strong>de</strong> Cornu. G. Viana,<br />

Apost., II, 335, enten<strong>de</strong> que nada tem com os<br />

prece<strong>de</strong>ntes..<br />

RAMA — Do- coletivo "rama, formado <strong>de</strong><br />

ramu, ramo; .segundo' folia. (M. Lübke, Introdugáo,<br />

n. 145, REW, 7035); esp., it. rama, fr.<br />

'<br />

ant. raime. 'Na- locugáo' em rama, para A.<br />

Coelho é o mesmo que o fi\ rame, do ár.<br />

ñama, que <strong>de</strong>u resma em port. No sentido <strong>de</strong><br />

caixilho é, para o referido autor, o mesmo que<br />

o fr. rame, do al. Rahinen, moldura. "Inventores<br />

da imprensa, os alemáes, á medida que<br />

tornavam conhecido o seu invento, transmitiram<br />

aos. outros povos muitos termos por que<br />

<strong>de</strong>signavam diferentes instrumentos da arte<br />

nascente" (Luiz <strong>de</strong> Lacerda, REP, VII, 49).<br />

RAMALDEIRA — Segundo Figueiredo, provávelmente<br />

<strong>de</strong> Ramal<strong>de</strong>, nome próprio <strong>de</strong> urna<br />

povoacáo -nos suburbios do Porto. G. Viana,<br />

Apost-, II, -337, acha necessária melhor explieacáo.<br />

RAMBIRA — De ramo e suf. eirá (A. Coelho,<br />

M. Lübke, REW, 7035). Sao rnulheres frecuentadoras<br />

<strong>de</strong> tabernas, as quais em Portugal<br />

tém um ramo pendurado á porta (Asrostinho<br />

<strong>de</strong> Campos, Antología <strong>Portuguesa</strong>, Bernar<strong>de</strong>s.<br />

I, 216, nota) . O esp. tem ramera, que<br />

a Aca<strong>de</strong>mia Espanhola pren<strong>de</strong> a um lat. ramu,<br />

membrb viril.<br />

RAMERRÁO' — A. Coelho, com dúvida,<br />

julgou palavra onomatopéica. O Dicionário Contemporáneo<br />

<strong>de</strong>finiu como voz imitativa do som<br />

repetido da soletracáo da sílaba rarri- G. Viana,<br />

Apost., II, 336, reconhece que <strong>de</strong> fato há repeticáo,<br />

mas que seja <strong>de</strong>vida ao habito da<br />

soletracáo é o que lhe parece singular, visto que<br />

os vocábulos comecados pela sílaba rain se<br />

limitam a ramo e seus <strong>de</strong>rivados e a pouquíssimos<br />

mais todos os quais raras vezes se leráo<br />

em cártilhas e sempre se soletraram ra-mo<br />

e nao ram-o. No Glossário <strong>de</strong> Tule & Burnell,<br />

a pi'opósito <strong>de</strong> Ram-Ram, vem o seguinte : The<br />

cominonest salutation between two Hindus<br />

meeting on the road; an invocation of the divinity.<br />

Acha entáo ser certo que os portugueses<br />

a trouxessem da India em temnns posteriores<br />

ao do seu predominio lá por isso aue,<br />

se estivesse divulgada na India <strong>Portuguesa</strong> nos<br />

sáculos XVI , XVII. pmvavelmente <strong>de</strong>is teriam<br />

feito mencáo os escritores portusrueses.<br />

A análise da palavra é a seguinte: Rama é o<br />

nome do herói mítico, personagem principal<br />

do poema Ramáiana. fas línguas vernáp-ias<br />

pronuncia-se rám, com supressáo da vogal breve<br />

final e, quando na pausa, a terminaeáo am<br />

é proferida á. Déste modo, na boca <strong>de</strong> um<br />

indio Ráma-Ráma sóa como ramrcí, <strong>de</strong> (roe se<br />

fez em portugués ramerráo. Ñas Palestras,<br />

232, acrescenta que em G"a. on<strong>de</strong> o vernáculo<br />

é um dialeto marata, o concani, é táo usual<br />

aue se torna fastidiosa: disto proviria o significado<br />

"costumeira". aue se lhe dá hahit^almente.<br />

Joáo Ribeiro. Erases Feitas, I, 1 n -1. nao<br />

julgandn também aue provenha <strong>de</strong> soletrooáo<br />

e 'consi<strong>de</strong>rando fortuita a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com a<br />

saudacáo indiana, enten<strong>de</strong> que é urna leve corruptela<br />

da locucáo rama a rama; isto é. pela<br />

rama ou <strong>de</strong> modo rudimentar. Versos do<br />

Pronto <strong>de</strong> Maña Parda dáo urna das formas<br />

e sentidos la locucáo:<br />

Que quando era o trao e o tramo-<br />

Andava eu <strong>de</strong> ramo em ramo<br />

Nao quero déste mas déste.<br />

Aqui, <strong>de</strong> ramo em ramo, pensa éste autor,<br />

quer dizer <strong>de</strong> venda em venda, ou taverna,<br />

ou casa. E isto é que é o ram-e-ram e equivale<br />

ao trivial varejo. Na pg. 285 acrescenta<br />

que confirma a explicacáo o ditado espanhol<br />

De rama en ramo, interpretado por Zeloro como<br />

sin fijarse en objeto <strong>de</strong>terminado. Em carta<br />

a Joáo Ribeiro, G. Viana manteve o seu étimo,<br />

alegando que nunca se disse em portugués<br />

rame-rame ou ramo-ramo, mas sim ramerráo<br />

únicamente; que seria insólita <strong>de</strong>turpacáo <strong>de</strong><br />

ramo sair rao; finalmente que andar <strong>de</strong> ramo<br />

em ramo, isto é, correr as tabernas, nada tem<br />

que ver com o sentido da expressáo ramerráo,<br />

repetigáo costumeira, fastidiosa. Joáo Ribeiro,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!