Dicionario Etimologico Da Lingua Portuguesa, de Antenor Nascentes
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
eminiscencia<br />
.<br />
•<br />
MATINAR<br />
dos<br />
Hi<br />
.<br />
.<br />
Mata 321 Matiz<br />
MATA A. Ccellio, com dúvida, filiou ao<br />
gót. maitan, cortar, <strong>de</strong>sbastar. Franco <strong>de</strong> Sá,<br />
A <strong>Lingua</strong> portuguesa, 46, repete éste étimo <strong>de</strong><br />
Diez, Dic, 646. Lafayette dá o étimo <strong>de</strong> Constancio,<br />
o céltico mad ou muid, ma<strong>de</strong>ira. Figueiredo<br />
o <strong>de</strong> M. Lübke, REW, 5424, o lat.<br />
matta, esteira. Cortesáo, que confronca com<br />
o esp. mata, <strong>de</strong>riva do lat. matta e cita textos<br />
do Portugaliae Monumento. Histórica, o mais<br />
antigo dos quais é um dos Diplomata, pg. 118-A.<br />
1188: "Do Ubi ipsum locum predictum cum sua<br />
mata cómodo continet Mégacles, RLP, XXII,<br />
55, diz o seguinte: "Ao vocábulo esp. port.<br />
mato, mata, correspon<strong>de</strong> o sardo matta, que<br />
já se le em documentos arcaicos da Sar<strong>de</strong>nha.<br />
'Párente <strong>de</strong> mata, em port., talvez seja moita,<br />
monta. Sendo a voz sarda táo antiga, nao e<br />
admissível que provenha do espanhol. As duas<br />
formas portuguesas po<strong>de</strong>riam satisfatóriamente<br />
explicar-se pelo gót. mathioa, prado. Como,<br />
porém, o sardo nao possui vozes góticas nem,<br />
em geral, germánicas, afora as que lhe vieram<br />
<strong>de</strong> outros idiomas, e sendo matta, como vimos,<br />
palavra própriámente sarda, cumpre buscar<br />
alhures o <strong>de</strong>sejado étimo, tanto mais que o<br />
vinculo semántico que pren<strong>de</strong> mata, moita a<br />
mathioa é antes frouxo. Com mata, concorda,<br />
no sentido, o it. macchia, a cujo respeito po<strong>de</strong><br />
ler-se o que escreveu F. d'Ovidio, Ardí. Glott.<br />
Ital. XIII, p. 361-451, e G. I. Ascóli, ibid, cfr.<br />
Mario Roques, Romanía, t 30, 1901, p. 453-454.<br />
Hfio <strong>de</strong> ser, com certeza, baldados todos os<br />
esforcos que se fizerem para tirar mata e<br />
macchia (do lat. macula) <strong>de</strong> um mesmo vocábulo<br />
mais antigo. Convém ainda consignar aqui:<br />
.sic. nap. matta, multidao, veletr. matto, feixe.<br />
Todas estas vozes po<strong>de</strong>riam rigorosamente provir<br />
do lat. matta, coberta, tapete (tapete <strong>de</strong><br />
verdura), que estudámos em nosso primeiro<br />
artigo, Rev. <strong>de</strong> Ling. Port. n. 19, pg. 64, mas<br />
esta explicacáo nao passa <strong>de</strong> urna engenhosa<br />
hipótese. B' "muito possível que o vocábulo seja<br />
pré-romanico e originario da Sar<strong>de</strong>nha.. Cf.<br />
Meyer-Lübke, Literaturblatt f. aervi. und rom.<br />
Phil-, t. 31, 1910, col. 68-70. REW, n. 5424.<br />
M. L. Wagner, Gli elementi <strong>de</strong>l lessico sardo,<br />
Gagliari, 1907, 50 pg. (extr. do Arch. siorico<br />
sardo, III, 370-419)".<br />
MATACAO — De., matar e cao.<br />
MATACHIM — Do ár. mutawjjihin, plural<br />
<strong>de</strong> miitawaijili, mascarado, part. ativo <strong>de</strong><br />
wajh, máscara, rosto (Dozy, Eguilaz, Lokotsch).<br />
MATALOTAGEM — Do fr. matelotage, que<br />
<strong>de</strong> trabamos <strong>de</strong> marinhagem, paga <strong>de</strong> marinheiros,<br />
amiza<strong>de</strong> entre marinheiros, passou a<br />
significar em port. provisáo <strong>de</strong> mantimentos<br />
para embarque e <strong>de</strong>pois, por extensáo, provisáo<br />
<strong>de</strong> alimentos. A. Coelho tirou <strong>de</strong> matalote<br />
e suf . agem.<br />
'''<br />
MATALOTE — Do fr. matelot, marinheiro,<br />
voc. <strong>de</strong> origem holan<strong>de</strong>sa.<br />
MATAMORRA — V. Masmorra. Houve<br />
influencia <strong>de</strong> matar (Lokotsch) ou restituicáo<br />
da forma etimológica (Cornu, Port. Spr., § 32a).<br />
MATA-MOÜROS — De matar e moro; é<br />
urna das guerras peninsulares<br />
,<br />
contra os mouros ; ridicularizado, passou a ser<br />
um personagem da comedia espanhola (Stappers)<br />
MATAR — Alguns autores <strong>de</strong>rivam do lat.<br />
mactare .imolaí as vitimas sagradas, e outros<br />
do ar. mat, morto. Entre os primeiros, com<br />
dúvida por causa do tratamento do grupo ct,<br />
está Cornu, Port. Spr., § 231, está Diez, Dic.<br />
468, está A. Coelho, está Otoniel Mota, O meu<br />
idioma, 25. Entre os segundos estáo C. Michaelis<br />
<strong>de</strong> Vasconcelos, Glossário do Gane, da Ajuda,<br />
Joáo Ribeiro, Gram. Port-, 317, M. i-mbke,<br />
REW, 5401, Lokotsch. <strong>Da</strong> expressáo shah mat,<br />
do persa shah, rei, e do ár. mat, morto, o rei<br />
está morto, teria vindo um verbo que se espalhou<br />
pelo port., esp., cat., prov., it. e fr. M.<br />
Lübke e Lokotsch julgam fonéticamente ímpossível<br />
o lat. mactare. Bourciez, Ling. Rom-,<br />
§ 183, adota urna opiniáo eclética: occi<strong>de</strong>re,<br />
que se manteve em it , rom. e fr. ant., na<br />
Iberia foi preferido por mactare, tornado "mattare,<br />
sem dúvida lá pelo sáculo VIII e sob a<br />
influencia do persa mat, vulgarizado pelo jogo<br />
do<br />
xadrez.<br />
MATA-SANOS — Do esp. matasanos, mata-<br />
-sáos (A. Coelho).<br />
MATE — 1 (lance do xadrez) : do ar. mat,<br />
morto, da expressáo sha mat, o rei está morto,<br />
formada com o voc. persa shah (Dozy, Eguilaz,<br />
Devic, Lokotsch). — 2 (remate): V. G. Viana,<br />
Vocabulario. — 3 (planta): do quichua mato,<br />
a cuia, pequeña e redonda em que se prepara<br />
a bebida' íe'ita com as folhas <strong>de</strong>sta planta Ulex<br />
paraguayensis) (Mid<strong>de</strong>ndor, apud Lenz, Zorobabel<br />
Rodrigues, Beaurepaire Rohan, Segovia,<br />
Dicionário <strong>de</strong> Argentinismos, Lokotsch, Amerikanisohe<br />
Worter, 47) .<br />
— 4 (peso) : do tamul<br />
marru, que Yule presume <strong>de</strong>rivado do sanscr.<br />
matra, medida; cm indo-ingl. matt (<strong>Da</strong>lgado).<br />
— 5 (fosco): M. Lübke, REW, 5401, pren<strong>de</strong><br />
ao ár. mat, morto (v. n. 1), o que também<br />
faz Devic para o fr. mat, sem brilho. Eguilaz,<br />
com Scheler, Stappers, Brachet, pren<strong>de</strong>m o<br />
esp. mate e o fr. mat ao al. matt, débil, sem<br />
vigor. Larousse pren<strong>de</strong> o fr. ao árabe e Clédat<br />
acha inverossimil esta origem. Figueiredo <strong>de</strong>riva,<br />
com dúvida, do al. mast (com certeza<br />
matt; terá havido <strong>de</strong>scuido <strong>de</strong> revisáó)<br />
MATEMÁTICA — Do gr. mathematiké, scilicet<br />
epistéme, a ciencia das matemáticas, pelo<br />
lat. mathematica. Era a ciencia por excelencia.<br />
Na antiga Grecia, o conjunto <strong>de</strong> conhecimentos<br />
entáo coor<strong>de</strong>nados, <strong>de</strong>pois a astrologia,<br />
finalmente a ciencia das gran<strong>de</strong>zas<br />
(Larousse)<br />
MATEMÁTICO — Do gr. mathematikás,<br />
relativo á instrucáo, pelo lat. mathematicu,<br />
astrólogo, adivinho : (os pitagóricos na segunda<br />
fase) dicebantur in eo tempore mathe~<br />
matikoí, ab lis scilicet artibus, quas jam discere<br />
atque meditari inceptaverant : quoniam geometriam,<br />
et gnomonicam, mtisicam, caeterasque<br />
item disciplinas altiores mathémata veteres<br />
Graeci appellabamt (Aulo Gélio, I, 9). Segundo<br />
Leonel Franca, Historia da Filosofía, 25, Aristóteles<br />
assim apelidou aos filósofos como os<br />
pitagóricos e os eleatas, os quais, ao contrario<br />
.<br />
dos jonios e atomistas, partem <strong>de</strong> principios<br />
a, priori e menosprezam a experiencia; sao<br />
mais ou menos i<strong>de</strong>alistas.<br />
MATEOLOGIA —.Do gr. mataiología, falatório.<br />
em váo.<br />
MATEOTECNIA — Do gr. mataíotechma,<br />
arte friovla, talento inútil.<br />
MÁTERE — Do lat. matere, <strong>de</strong> origem céltica.<br />
MATERIA — Do lat.<br />
.<br />
materia. V. Ma<strong>de</strong>ira<br />
.<br />
MATERNO Do lat. maternu.<br />
MATICAL — V. Mitical.<br />
MATICAR — Há um termo venatorio (A.<br />
Coelho), que Figueiredo, com dúvida, <strong>de</strong>rrva<br />
<strong>de</strong> mato. Há outro da África <strong>Portuguesa</strong>, rebocar<br />
com barro, que para Figueiredo esta por<br />
matacar, <strong>de</strong> mataca, barro. G. Viana. Apost.<br />
II, 120, <strong>de</strong>clara ignorar se éste vocábulo é africano.<br />
... ,., , ,<br />
MATIDEZ — Do fr. matite, qualida<strong>de</strong> do<br />
som <strong>de</strong> pequeña intensida<strong>de</strong>, surdo. abafado<br />
(vernaculizaeáo <strong>de</strong>* Francisco <strong>de</strong> Castro) Plácido<br />
Barbosa propóe massicea.<br />
;<br />
MATIDHA — Figueiredo acha que po<strong>de</strong> ser<br />
alteragáo <strong>de</strong> um hipotético "motilha, do b. lat.<br />
mota,' &o lat. moveré, mover. No b. lat. mota<br />
canum era o que hoje dizemos matilha <strong>de</strong> caes.<br />
A Coelho também cita o lat. moUis e compara<br />
o fr. mente. Pacheco e Lameira, Gram.<br />
Port., 354, reconhece o suf. ilha. G. Viana,<br />
Aposi. II, 123, <strong>de</strong>clarando <strong>de</strong>sconhecido o étimo<br />
filia entretanto o voc. a matulo,.<br />
MATINADA — De matinar e suf. ada.<br />
'MATINAL — Forma haplológica do lat.<br />
inatutinale, da manhá.<br />
— A. Coelho tirou do lat. matutinu;<br />
Figueiredo, do lat. "matinu, forma haplológica<br />
daquele. Segundo Cortesáo e verbo<br />
<strong>de</strong> caga o qual significa levantar-se o calador<br />
<strong>de</strong> madrugada com a sua ave (A. da caca, I,<br />
MATINAS — Forma haplológica do lat.<br />
matutinas, scilicet horas, horas da manhá (A.<br />
Coelho); cfr. esp. maitines, it. mattino (manhá),<br />
fr. matin (i<strong>de</strong>m). M. Lübke, Gram. I.<br />
290, já dá um lat. pop. mattinu; em REW,<br />
5434, nao cita a forma portuguesa. No port.<br />
ant. foi matinhas: Dise que non unnha rezar<br />
outras matinhas (Scriptores, pg. 189).-<br />
MATIZ — A. Coelho <strong>de</strong>rivou <strong>de</strong> mate, sem<br />
brilho. Figueiredo cita o esp. matiz. Cortesáo<br />
<strong>de</strong>riva do esp., que pren<strong>de</strong> ao lat. mixticiu,<br />
misto. Joáo Ribeiro, Soleta Clássica, 7o, <strong>de</strong>riva<br />
<strong>de</strong> mantisa-,-, <strong>de</strong> manto. Diz-se matiz <strong>de</strong><br />
cor diferente, <strong>de</strong> cor sobre outra; as flores matízam<br />
o prado ; o prado com um manto <strong>de</strong><br />
flores; a noite com um manto <strong>de</strong> estrélas; man-<br />
.£52