17.06.2016 Views

Dicionario Etimologico Da Lingua Portuguesa, de Antenor Nascentes

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

.<br />

.<br />

Figueiredo<br />

.<br />

.<br />

.<br />

.<br />

.<br />

Padrear 373 —<br />

PADREAR — De padre, pai, e <strong>de</strong>sin. ar.<br />

PADRINHO — Do lat. patr'mu, dim. <strong>de</strong><br />

pater, pai; esp. padrino, it. patríno-, fr. parrain.<br />

Brachet cita urna carta carlovíngia <strong>de</strong> 752:<br />

Sanetissimus vir patrinus vi<strong>de</strong>licet seu spiritualis<br />

pater. . . O padrinho é um pai espiritual.<br />

patronatu.<br />

PADROADO Do lat.<br />

PADROEIRO — Do lat. *patronarlu, <strong>de</strong> patronus,<br />

patrono (A. Goelho) .<br />

do are. padroin.<br />

tirou<br />

PAGANÁLIA — Do lat. paganalia, festas<br />

,<br />

<strong>de</strong> urna al<strong>de</strong>ia.<br />

PAGAWEL — Do it. paganello (Figueiredo).<br />

PAGÁO — Do lat. paganu, habitante <strong>de</strong><br />

al<strong>de</strong>ia; esp., it. pagano, fr. payen. Este passou<br />

as pessoas nao cristas porque o politeísmo greco-romano<br />

se manteve mais tempo ñas a-l<strong>de</strong>ias<br />

(Carré, Larousse, Clédat)<br />

PAGAR — Do lat. pacare, apaziguar; esp.<br />

pagar, it. pagare, fr. payer. Quem paga, aplaca<br />

as' iras do credor.<br />

PAGI — Do mapuche (Denz), através do espanhol<br />

PAGINA — Do lat. pagina, tira <strong>de</strong> papiro<br />

colada (Clédat, Moreau, Stappers)<br />

PAGODE — E' intricanda a etimología<br />

déste vocábulo. Lokotsch tirou do persa butkada,<br />

casa dos Ídolos, contaminado com o prácrito<br />

bhagodi, divino. <strong>Da</strong>lgado tratou largamente<br />

do assunto ñas Contribüigoes para a lexicología<br />

e no Glossário luso-asiático . Indicou<br />

quatro étimos. Primeiro, o chinés, pao-l'ha,<br />

montáo precioso, oü poh-lcuh-t'ha, montáo <strong>de</strong><br />

ossos brancos. Yule rejeita a <strong>de</strong>rivacáo e <strong>Da</strong>lgado<br />

observa que em principio do século XVI<br />

os portugueses nao tinham travado relacoes com<br />

a China e o termo era entáo corrente entre<br />

éles, na India. Depois, o portugués pagao, que<br />

foi adotado pelo etimologista Wedgwood e que<br />

Tule julga ter facilitado a adocáo <strong>de</strong> pago<strong>de</strong><br />

pelos portugueses. Observa <strong>Da</strong>lgado que seria<br />

caso singular a <strong>de</strong>formacao <strong>de</strong> pagao em pago<strong>de</strong>,<br />

para <strong>de</strong>signar objetos táo diferentes. Além<br />

disto, a palavra pagao raro ocorre nos indianistas<br />

portugueses que neste sentido empregam<br />

a diccao getia: Terceiro, o cingalés dága.ba,<br />

santuario búdico, que pela transposicáo das sílabas<br />

<strong>de</strong>veria dar bagada e nao pago<strong>de</strong>. Observa<br />

<strong>Da</strong>lgado que nao era intenso o trato com<br />

Ceiláo e que foi na Indo-China e no Extremo<br />

Oriente que os portugueses eonheceram primeiro<br />

os templos e mosteiros dos budistas. Quarto,<br />

o persa but-lcadad, templo <strong>de</strong> ídolos, proposto<br />

por Ovington, Reinaud, Lettré, Devic, Burnell.<br />

Obsei-va <strong>Da</strong>lgado que but-lcadad difere muitissimo<br />

<strong>de</strong> pago<strong>de</strong>. e que nao dá razáo <strong>de</strong> todos<br />

os significados; também é preciso supor que os<br />

oortugueses receberam o vocábulo dos mouros<br />

ou muculmanos. Quinto, o sánscrito bhagavat,<br />

adorável, <strong>de</strong>us, propugnado por Yule e admitido<br />

por outros orientalistas. Este parece a <strong>Da</strong>lgado<br />

o étimo mais verossímil. Toma-o na forma feminina<br />

bhagavatl, <strong>de</strong>usa, atribuida a Durgá ou<br />

Cali (mulher- <strong>de</strong> Xiva). que é, <strong>de</strong> ordinario, a<br />

divinda<strong>de</strong> tutelar <strong>de</strong>- al<strong>de</strong>ia na India Meridional.<br />

O vocábulo, na transcricáo para as línguas dravídicas,<br />

<strong>de</strong>via, em obediencia as leis fonéticas,<br />

iransformar-se vulgarmente em pagavadi ou pagodi.<br />

Pois o tamul nao tem consoantes aspiradas,<br />

nao emprega brandas iniciáis (l>ft^E'r=?J),<br />

riera, duras mediáis (t=d) E a forma pagodi<br />

existe em algumas regióes dravídicas. Gun<strong>de</strong>rt<br />

registra no seu dicionário o malaiala pagodi<br />

como sinónimo <strong>de</strong> bhagavati Durgá, do qual<br />

<strong>de</strong>riva o portugués pago<strong>de</strong>. G. Viana, Apost.,<br />

II, 208, acha que a etimología é por enquanto<br />

ignorada. O étimo que mais aeeitacao teve, o<br />

persa, oferece fraca probalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser o verda<strong>de</strong>iro.<br />

A seu ver, toda investigagao ulterior<br />

<strong>de</strong>ve partir da áccepqáo "ídolo", e nao, da<br />

<strong>de</strong> "templo". No sentido <strong>de</strong> festa ruidosa ou li ;<br />

cenciosa, folia, pan<strong>de</strong>ga, bambochata, nao é<br />

muito mo<strong>de</strong>rno, pois vogava em Portugal no sáculo<br />

XVI e Jorge Ferreira <strong>de</strong> Vasconcelos<br />

(.Ulisipo, I, 4, II, 6, III, 5) e D. Francisco<br />

Manuel <strong>de</strong> Meló (.Apólogos Dialogáis, 226) o<br />

empregam. como muito conhecido. <strong>Da</strong>lgado explica<br />

éste sentido conjeturando que se teria<br />

originado das festas dos pago<strong>de</strong>s indianos, em<br />

que tomara parte as baila<strong>de</strong>iras e que sao <strong>de</strong><br />

ordinario espalhafatosas e as vezss extravagantes,<br />

particularmente aos olhos do espectador<br />

estranho. "E' natural que esta accepgáo, diz<br />

G.oncalves Viana, provenha das funcóes que se<br />

realizara, nos pago<strong>de</strong>s, e -que individuos portugueses<br />

que tivessem estado na india houvessem<br />

trazido para cá o termo, já no sentido <strong>de</strong> "folganga".<br />

PAGODITA — De pago<strong>de</strong> e suf. ita; com.<br />

ela os chineses fazem estatuetas.<br />

PAI — Do are. padre, que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> usar-se<br />

na accepgáo primitiva nos séculos XV e XVI.<br />

Por influencia da linguagem infantil provávelmente<br />

<strong>de</strong>u pa<strong>de</strong>, don<strong>de</strong> pae, poA (l-eite <strong>de</strong> Vasconcelos,<br />

Ligues <strong>de</strong> Filología <strong>Portuguesa</strong>, 88)<br />

A forma at'ual já aparece nos Lusíadas (cf. I,<br />

53, e passim) . Diez, Gram. I, 208, víu apócope<br />

<strong>de</strong> um r final, 214, saüenta que nao se encontra<br />

urna forma pare. Cornu, Port. Spr., § 194, acha<br />

que padre <strong>de</strong>u pae como Pedro <strong>de</strong>u Pero; § 146,<br />

anota a estranha síncope do r. C. Michaelis<br />

<strong>de</strong> Vasconcelos, Glossário do Canc. da Ajuda,<br />

também enten<strong>de</strong> que pai vem do infantil pa<strong>de</strong>.<br />

A. Coelho <strong>de</strong>riva" do lat. paire, que é o étimo<br />

remoto na verda<strong>de</strong>. Cortesáo acha que padre<br />

<strong>de</strong>u paire (forma igual á provenga), <strong>de</strong>pois<br />

pare e finalmente pae. Otoniel Mota, O meu<br />

idioma, 24, opina que padre <strong>de</strong>u pa<strong>de</strong> por analogia<br />

<strong>de</strong> fra<strong>de</strong> (on<strong>de</strong> alias a queda do r se explica<br />

por dissimilacáo) ; nao aceita a influencia da<br />

linguagem infantil porque as criagoes infantis<br />

se caracterizara pelo redóbro <strong>de</strong> urna sílaba (cfr.<br />

papá, mamá,, nene, etc.). G. Viana, Apost, II,<br />

209, admite a influencia da linguagem infantil.<br />

Lindsay, The Latin language, 93, diz que o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento románico do lat. patre sugere<br />

a existencia <strong>de</strong> um trissílabo, admitindo urna<br />

vogal suarabáctica ; patercm. V. Nunes, Digressoes<br />

Leoñcológicas, 52-8.<br />

PAIAO — De palo ? (Figueiredo).<br />

PAINA — Do malaiala paññi. (<strong>Da</strong>lgado)<br />

Batista Caetano, "Vocabulario das palavras guarañas<br />

usadas pelo tradutor da Conquista Espiritual<br />

do Padre A. Luiz <strong>de</strong> Montoya, pg. 359,<br />

ligou ao guaraní pa-ná, fruto re<strong>de</strong>nho ou <strong>de</strong><br />

entrancado<br />

PAINQO — Do lat. paniciu; esp. panizo.<br />

A ressonáncia nasal do a comunicou-se ao i<br />

(Nunes, Gram. Hist., 109).<br />

PAINEL — A. Coelho <strong>de</strong>rivou <strong>de</strong> paño.<br />

Cortesáo tirou com dúvida do esp. painel, que<br />

M. Lübke, REW, 6200, <strong>de</strong>riva do fr. panneau<br />

e que a Aca<strong>de</strong>mia Espanhola tira <strong>de</strong> panel, do<br />

b. lat. panelhi, dim. <strong>de</strong> pannu, paño. Cornu,<br />

Port. Spr., § 255,. junta a mainel e gainliar.<br />

Quanto ao i, v. Amainar.<br />

PAIO — Do nenie próprio antigo Payo (M.<br />

Lübke, Gram. II, 480). Paio vem <strong>de</strong> Pelagiui:peaio-paaio-paio<br />

(M. Lübke, BEW, 6368, Miscellanea<br />

Caix e Ganello, 141) ; Cornu, Port. Spr.,<br />

§ 130, consigna urna forma palaio em Trás-os<br />

Montes<br />

PAIOL — De um lat. "paniolu, calgado em<br />

pañis, pao (G. Viana, Apost., II, 209); esp.<br />

pañol. Tem-se <strong>de</strong> admitir que o vacábulo primeiro<br />

se tivesse aplicado ao repartimento em<br />

que se arrecadasse a bordo o pao (a bolacha)<br />

e supor que a forma portuguesa antiga tivesse<br />

sido páiol. Leoni, Genio da lingua portuguesa,<br />

I, 173, também filiou a pao. A Aca<strong>de</strong>mia Espanhola<br />

relaciona pañol com panol, do lat. penariu,<br />

<strong>de</strong> penus, viveres. O it. tem pagliolo, que<br />

Petrocchi filia a paglia, palha, e significa o<br />

fundo da barca.<br />

PAIRAR — M. Lübke, REW, 6238, Gram.<br />

II, 657, apresenta como étimo um lat. "parlare,<br />

que podia repousar em apparium. Repele o<br />

étimo vasconeo (Diez, Dic, 474) e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> parare. Cornu, Port. Spr., § 111,<br />

aceita parlare. Joáo Ribeiro, Gra

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!