História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Capitulo quarto - Sbcrates e os Socrt\tiros mefiores<br />
antecipag6es de figuras logicas explicita<strong>da</strong>s e desenvolvi<strong>da</strong>s em A antecipacao<br />
epocas sucessivas: por exemplo, o conceito, a definisao (o "o de elementos<br />
que 6") e o procedimento indutivo. que constituirso<br />
Trata-se de antecipa~ees significativas, mas nao de desco- , ,jencia /dgica<br />
bertas ver<strong>da</strong>deiras, pelo simples motivo que o interesse de -+ tj 74<br />
Socrates era de tipo etico e nao Iogico, e tais formas nao eram o<br />
fim <strong>da</strong> sua especula$io, mas o meio para obter determinado escopo, justamente<br />
moral ou educativo.<br />
S6crates levou o pensamento filos6fico a um plano bastante mais elevado em<br />
relasao ao dos Sofistas, mas levantou urna s4rie de questdes que, por sua vez, pu-<br />
nham ulteriores problemas que ele nao resolveu. Ancorou a moral<br />
no conceito de alma, mas definiu a alma apenas em termos fun- Valores limites<br />
cionais, indicou suas ativi<strong>da</strong>des e nao a natureza, ou seja, qua1 do pensamento<br />
4 seu ser. 0 mesmo pode-se dizer de Deus: disse como Deus age, s~c-r~tico<br />
mas nao precisou sua natureza ontologica. Desses problemas + tj is<br />
Platao e Aristoteles apresentarao solug6es detalha<strong>da</strong>s.<br />
19 vi<strong>da</strong> de Sbcrates<br />
e a q~estGo socr6tica<br />
(0 pr~ble~a <strong>da</strong>s fontes)<br />
Socrates nasceu em Atenas em 4701469<br />
a.C. e morreu em 399 a.C., apos condena-<br />
giio por "impie<strong>da</strong>de" (foi acusado de niio crer<br />
nos deuses <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e de corromper os jo-<br />
vens; mas, por tras de tais acusagdes, escon-<br />
diam-se ressentimentos de viirios tipos e ma-<br />
nobras politicas). Era filho de um escultor e<br />
urna obstetra. Niio fundou urna Escola, co-<br />
mo os outros filosofos, realizando o seu ensi-<br />
namento em locais publicos (nos ginasios,<br />
pragas publicas etc.), como urna espCcie de<br />
pregador leigo, exercendo imenso fascinio<br />
niio s6 sobre os jovens, mas tambCm sobre<br />
homens de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, o que lhe custou<br />
inurneras aversdes e inimizades.<br />
Parece sempre mais claro que se devam<br />
distinguir duas fases na vi<strong>da</strong> de Socrates. Na<br />
primeira fase, ele esteve proximo dos Fisi-<br />
cos, particularmente de Arquelau, que, como<br />
vimos, professava urna doutrina semelhan-<br />
te h de Diogenes de ApolGnia (que mistura-<br />
va ecleticamente Anaximenes e Anaxagoras).<br />
Sofrendo a influcncia <strong>da</strong> Sofistica, tornou<br />
proprios seus problemas, embora polemi-<br />
zando firmemente contra as solugdes dos<br />
mesmos, <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelos maiores Sofistas. Assim<br />
sendo, niio C estranho o fato de que Arist6fa-<br />
nes, na cClebre comtdia As nuvens, represen-<br />
ta<strong>da</strong> no ano de 423 (portanto, quando So-<br />
crates estava na metade de sua quarta dCca<strong>da</strong><br />
93<br />
de vi<strong>da</strong>), tenha apresentado um S6crates<br />
bem diferente do apresentado por PlatHo e<br />
Xenofonte, que 6 o S6crates <strong>da</strong> velhice.<br />
Socrates na<strong>da</strong> escreveu, considerando<br />
que a sua mensagem era transmissive1 pela<br />
palavra viva, atravCs do dialog0 e <strong>da</strong> "orali<strong>da</strong>de<br />
dialCticaY', como j6 se disse muito<br />
bem. Seus discipulos fixaram por escrito<br />
urna sCrie de doutrinas a ele atribui<strong>da</strong>s. Mas<br />
tais doutrinas freqiientemente n8o concor<strong>da</strong>m<br />
entre si e, por vezes, at6 se contradizem.<br />
Aristofanes caricatura um Socrates que,<br />
como vimos, n8o C o de sua maturi<strong>da</strong>de ultima.<br />
Na maior parte de seus dialogos, PlatHo<br />
idealiza Socrates e o torna porta-voz tambCm<br />
de suas pr6prias doutrinas: desse modo,<br />
C dificilimo estabelecer o que C efetivamente<br />
de Socrates nesses textos e o que, ao contririo,<br />
representa repensamentos e reelaboraqdes<br />
de Platso.<br />
Em seus escritos socr6ticos, Xenofonte<br />
apresenta um Socrates de dimensdes reduzi<strong>da</strong>s,<br />
com tragos que 2s vezes beiram at6<br />
mesmo a banali<strong>da</strong>de (certamente, seria impossivel<br />
que os atenienses tivessem motivos<br />
para condenar a morte um homem como o<br />
Socrates descrito por Xenofonte).<br />
Arist6teles fala de Socrates ocasionalmente.<br />
Entretanto, suas afirma~des siio considera<strong>da</strong>s<br />
mais objetivas. Mas Aristoteles<br />
niio foi contemporineo de Socrates. PGde<br />
ter-se documentado sobre o que registra,<br />
mas faltou-lhe o contato direto com o personagem,<br />
contato que, no caso de Socrates,<br />
revela-se insubstituivel.