História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
280<br />
Sexta parte - As escolas filosdficas <strong>da</strong> era helenisiica<br />
Releu os antigos Fisicos e fez seus principalmente<br />
alguns conceitos de Hericlito, como<br />
veremos. Mas o acontecimento que mais<br />
o influenciou talvez tenha sido a fun<strong>da</strong>qiio<br />
do " Jardim". Como Epicuro, ele renegava<br />
a metafisica e to<strong>da</strong> forma de transcendencia.<br />
Como Epicuro, concebia a filosofia no sentido<br />
de "arte de viver", ignora<strong>da</strong> pelas outras<br />
escolas ou entfo so imperfeitamente<br />
realiza<strong>da</strong> por elas. Mas, embora compartilhasse<br />
o conceit0 epicurista de filosofia, bem<br />
como seu mod0 de propor os problemas, Zenfo<br />
niio aceitava sua solu@o para esses problemas.<br />
tornando-se severo adversiirio dos<br />
dogmas do " Jardim". Repugnavam-lhe profun<strong>da</strong>mente<br />
as duas idCias basicas do sistema,<br />
quer dizer, a reduciio do mundo e do<br />
homem a mero agrupamento de homos e a<br />
identificaqfo do bem do homem com o prazer.<br />
bem como suas conseau&ncias e corolarios.<br />
Niio 6 de surpreender, portanto, que<br />
encontremos em Zenio e em seus seguidores<br />
a clara inversfo de uma sCrie de teses<br />
epicuristas. To<strong>da</strong>via, niio devemos esquecer<br />
que as duas Escolas tinham os mesmos objetivos<br />
e a mesma fC materialista e que, portanto.<br />
trata-se de duas filosofias aue se movem<br />
no mesmo plano de negaqio <strong>da</strong> transcendencia<br />
e nfo de duas filosofias que se movem<br />
em planos opostos.<br />
Zenfo niio era ci<strong>da</strong>dfo ateniense e,<br />
como tal. nfo tinha direito de a<strong>da</strong>uirir um<br />
edificio; por isso, ministrava suas aulas em<br />
um portico, que fora pintado pelo pintor<br />
Polignoto. Em grego, "portico" diz-se stoa.<br />
Por essa razfo, a nova Escola teve o nome<br />
de "Estoii" ou "Portico" e seus seguidores<br />
foram chamados "0s <strong>da</strong> Estoi", "0s do Portico".<br />
ou sim~lesmente "Est6icos".<br />
NO ~6rt;co<br />
de Zenfo. diversamente do<br />
Jardim de Epicuro, admitia-se a discussiio<br />
critica em torno dos dogmas do fun<strong>da</strong>dor<br />
<strong>da</strong> Escola, fazendo com que tais dogmas fi-<br />
cassem sujeitos a aprofun<strong>da</strong>mento, revis6es<br />
e reformulaciio.<br />
Em consequGncia, enquanto a filosofia<br />
de Epicuro nfo sofria modificaq6es relevan-<br />
tes, sendo na pratica somente ou preponde-<br />
rantemente repeti<strong>da</strong> e glosa<strong>da</strong>, e permane-<br />
cendo assim substancialmente imutivel, a<br />
filosofia de Zeniio sofreu inovac6es at6 no-<br />
tiveis, apresentando uma evoluqiio bastan-<br />
te considerivel.<br />
0s estudiosos hoje tem bem claro que<br />
C necessario distinguir tres periodos na his-<br />
toria <strong>da</strong> Estoh:<br />
1) 0 periodo <strong>da</strong> "Antiga Estoi", que<br />
vai de fins do sic. IV a todo o sic. I11 a.C.,<br />
no qual a filosofia do Portico foi pouco a<br />
pouco desenvolvi<strong>da</strong> e sistematiza<strong>da</strong> na obra<br />
<strong>da</strong> triade <strong>da</strong> Escola: o proprio Zeniio, Clean-<br />
to de Assos (que dirigiu a Escola de 262 a<br />
232 a.C., aproxima<strong>da</strong>mente) e, principal-<br />
mente, Crisipo de S61i (que dirigiu a Escola<br />
de 232 a.C. at6 o ultimo lustro do sCc. I11<br />
a.C.). Foi principalmente este ultimo, talvez<br />
de origem semitica que, corn mais de sete-<br />
centos livros (infelizmente perdidos), fixou<br />
de mod0 definitivo a doutrina do primeiro<br />
estagio <strong>da</strong> Escola.<br />
2) 0 periodo assim chamado <strong>da</strong> "MC-<br />
dia Estoi", que se desenvolve entre o I1 e o<br />
I sic. a.C. e que se caracteriza por infiltra-<br />
q6es eclCticas na doutrina originiria.<br />
3) 0 periodo <strong>da</strong> Estoii romana ou <strong>da</strong><br />
"Nova Estoi", que se situa jA na era cristii,<br />
no qual a doutrina faz-se essencialmente<br />
meditaqiio moral e assume fortes tons reli-<br />
giosos, em conformi<strong>da</strong>de com o espirito e<br />
as aspiraq6es dos novos tempos.<br />
0 pensamento dos primeiros represen-<br />
tantes <strong>da</strong> velha Estoi C dificilmente diferen-<br />
ciavel, porque todos os textos se perderam<br />
e, alCm disso, aqueles que recuperavam as<br />
doutrinas est6icas atravis de testemunhos<br />
indiretos atinham-se as inumeraveis obras<br />
de Crisipo, que, elabora<strong>da</strong>s com dialitica<br />
e habili<strong>da</strong>de refina<strong>da</strong>s, obscureceram to<strong>da</strong><br />
a produqfo dos outros pensadores <strong>da</strong> Estoi,<br />
at6 faze-la quase desaparecer. Alim disso,<br />
foi Crisipo quem derrotou as tendhcias he-<br />
terodoxas <strong>da</strong> Escola, que se haviam verifi-<br />
cad0 com Aristiio de Quios e com Erilo de<br />
Cartago, desencadeando ver<strong>da</strong>deiros cis-<br />
mas. Por isso, a exposiqio <strong>da</strong> doutrina <strong>da</strong><br />
velha Estoi C sobretudo uma exposiqiio <strong>da</strong><br />
doutrina na formulaqfo que recebeu de<br />
Crisipo. Tambim sfo escassos os testemu-<br />
nhos precisos sobre os pensadores <strong>da</strong> MC-<br />
dia Estoa PanCcio e Possid6ni0, mas os dois<br />
pensadores sf0 niti<strong>da</strong>mente diferenciiveis.<br />
JQ no que se refere ao estoicismo romano,<br />
possuimos obras completas, numerosas e<br />
ricas.<br />
Vamos comecar ilustrando as teses ca-<br />
pitais <strong>da</strong> doutrina <strong>da</strong> Estoa antiga.