História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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apenas constitui o fun<strong>da</strong>mento que torna as<br />
IdCias cognosciveis e a mente capaz de conhecer,<br />
mas que ver<strong>da</strong>deiramente "produz<br />
o ser e a substiincia" e que "o Bem n2o C<br />
substiincia ou essincia, mas firma-se acima<br />
<strong>da</strong> subst;ncia, transcendendo-a em digni<strong>da</strong>de<br />
hierirquica e em poder".<br />
Sobre esse principio incondicionado e<br />
absoluto. situado alCm do ser e do aual derivam<br />
to<strong>da</strong>s as IdCias, Plat20 na<strong>da</strong> miis escreveu<br />
nos diilogos, reiervando o que tinha para<br />
dizer As suas exposig6es orais, ou seja, as lig6es<br />
que possuiam exatamente o titulo Sobre<br />
o Bem. Considerou-se, no passado, que essas<br />
lig6es constituiam a fase final do pensamento<br />
plat6nico. Entretanto, os mais recentes e aprofun<strong>da</strong>dos<br />
estudos demonstraram que elas<br />
foram ministra<strong>da</strong>s paralelamente a elaborag2o<br />
dos diilogos, pel0 menos a partir <strong>da</strong> Cpoca<br />
<strong>da</strong> re<strong>da</strong>ggo <strong>da</strong> Republica. Quanto a raziio<br />
pela qua1 Platso niio quis escrever sobre essas<br />
coisas "iiltimas e supremas", j6 discorremos<br />
anteriormente. A ~artir <strong>da</strong>s referincias<br />
dos discipulos a essas lig6es, ~odemos inferir<br />
as considerag6es que seguem.<br />
A doutrina dos Principios<br />
primeiros e supremos:<br />
Uno (= Bem) e Diade i~defini<strong>da</strong><br />
0 principio supremo, que na Republica<br />
denomina-se "Bem", nas doutrinas n2o escri-<br />
tas chama-se "Uno". A diferenga, porCm, C<br />
perfeitamente explicivel porquanto, como<br />
logo veremos. o Uno sintetiza em si o Bem.<br />
p& tudo quahto o Uno produz C bem (o be&<br />
C o aspect0 funcional do Uno, como arguta-<br />
mente observou certo intirprete). Ao Uno se<br />
contrapunha um segundo principio, igualrnen-<br />
te originario mas de ordem inferior, entendi-<br />
do como principio indeterminado e ilimitado<br />
e como principio de multiplici<strong>da</strong>de. Deno-<br />
minava-se tal principio Diade ou Duali<strong>da</strong>de<br />
de grande-e-pequeno enquanto principio que<br />
tende, ao mesmo tempo, para a infinita gran-<br />
deza e para a infinita pequenez, sendo por<br />
isso denominado tambCm de Duali<strong>da</strong>de in-<br />
defini<strong>da</strong> (ou indetermina<strong>da</strong>, ilimita<strong>da</strong>).<br />
Da colaboragiio desses dois principios<br />
originarios procede a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s IdCias.<br />
0 Uno age sobre a multiplici<strong>da</strong>de ilimita<strong>da</strong><br />
como principio limitante e determinante, ou<br />
seja, como principio formal (corno principio<br />
que di forma enquanto determina e de-limi-<br />
ta), ao passo que o principio <strong>da</strong> multipli-<br />
ci<strong>da</strong>de ilimita<strong>da</strong> funciona como substrato<br />
(corno matCria inteligivel, se quisermos dizilo<br />
com terminologia posterior). Conseqiientemente.<br />
ca<strong>da</strong> uma e to<strong>da</strong>s as IdCias surtzem<br />
como resultado de urna "mistura" dos Ydois<br />
principios (delimitagiio de um ilimitado).<br />
AlCm disso, o Uno, enquanto de-limita, se<br />
manifesta como Bem, porquanto a delimitag20<br />
do ilimitado, que se revela como forma<br />
de uni<strong>da</strong>de na multiplici<strong>da</strong>de, C "essincia",<br />
"ordem", perfeiqio e valor.<br />
Eis as conseqiitncias que <strong>da</strong>i derivam.<br />
a) 0 Uno C principio de ser (porquanto,<br />
como vimos, o ser - ou seja, a essincia,<br />
a substincia, a Idiia - nasce precisamente<br />
<strong>da</strong> delimitaciio do ilimitado).<br />
b) E p;incipio de verdide e cognoscibili<strong>da</strong>de,<br />
porquanto s6 aquilo que C determinado<br />
$ inteligivel e cognoscivel.<br />
c) E principio de valor, porque a delimitag20<br />
implica, como vimos, ordem e perfeigao,<br />
ou seja, positivi<strong>da</strong>de.<br />
Finalmente, "pelo que C possivel concluir<br />
a ~artir de uma sCrie de indicios. Plat20<br />
definiuLa uni<strong>da</strong>de como 'medi<strong>da</strong>' e, mais precisamente,<br />
como 'medi<strong>da</strong> absolutamente<br />
exata"' (H. Kramer).<br />
Essa teoria, atesta<strong>da</strong> especialmente por<br />
Aristoteles e pelos seus comentadores antigos,<br />
apresenta-se confirma<strong>da</strong> por muitos dialogos,<br />
ao menos a partir <strong>da</strong> Republica, e revela clara<br />
inspirag20 pitagorica. Ela traduz, em termos<br />
metafisicos, a caracteristica mais peculiar<br />
do espirito grego que, nos seus mais variados<br />
aspectos, manifestou-se como um estabe-