História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Precisamente no exercicio desta iiltima<br />
virtude, que constitui a perfeiqio <strong>da</strong> ativi-<br />
<strong>da</strong>de contemplativa, o homem alcanqa a fe-<br />
lici<strong>da</strong>de maxima, quase uma tangencia com<br />
o divino.<br />
Eis uma <strong>da</strong>s passagens mais significa-<br />
tivas de Aristoteles: "Desse modo, a ativi-<br />
<strong>da</strong>de de Deus, que sobressai por beatitude,<br />
sera contemplativa e, conseqiientemente, a<br />
ativi<strong>da</strong>de humana mais afim sera a que pro-<br />
duz a maior felici<strong>da</strong>de. Uma prova, de res-<br />
to, est6 no fato de que todos os outros ani-<br />
mais n5o participam <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de, porque<br />
sio completamente privados de tal facul<strong>da</strong>-<br />
de. Para os deuses, com efeito, to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> C<br />
bem-aventura<strong>da</strong>, ao passo que, para os ho-<br />
mens, so o C a medi<strong>da</strong> que lhes cabe certa<br />
semelhanqa com aquele tip0 de ativi<strong>da</strong>de:<br />
ao contririo, nenhum outro animal C feliz,<br />
porque nio participa de mod0 algum <strong>da</strong><br />
contemplaqiio. Consequentemente, o quan-<br />
to se estender a contemplaqiio, tanto se es-<br />
tendera a felici<strong>da</strong>de (. . .)."<br />
Essa 6 a formulaq50 mais tipica <strong>da</strong>quele<br />
ideal que os antigos filosofos <strong>da</strong> natureza<br />
procuraram realizar em sua vi<strong>da</strong>, que So-<br />
crates j6 comesara a explicitar do ponto de<br />
vista conceitual e que Plat50 ja havia teo-<br />
rizado. Mas em Aristoteles aparece a tema-<br />
tizag50 <strong>da</strong> tanghcia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> contemplativa<br />
com a vi<strong>da</strong> divina, que faltava em Platso,<br />
porque o conceit0 de Deus como Mente su-<br />
prema, Pensamento de pensamento, s6 apa-<br />
rece com Aristoteles.<br />
Alusses sobre a psicologia<br />
do ato ~?oraI<br />
Aristoteles teve ain<strong>da</strong> o mCrito de haver<br />
tentado superar o intelectualismo socriitico.<br />
Como bom realista que era, percebeu per-<br />
feitamente que uma coisa C "conhecer o<br />
bem" e outra C "fazer e realizar o bem". E,<br />
consequentemente, procurou determinar os<br />
processos psiquicos pressupostos pel0 ato<br />
moral.<br />
Ele chamou a atens50 sobretudo para<br />
o ato <strong>da</strong> "escolha" (prohairesis), que vincu-<br />
lou estreitamente ao ato de "deliberaq50".<br />
Quando queremos alcanqar determinados<br />
fins, nos estabelecemos, mediante a "deli-<br />
beraq5oV, quais e quantos sao os meios que<br />
colocaremos em agio para chegar aqueles<br />
fins, dos mais remotos aos mais proximos.<br />
A "escolha" opera sobre estes ultimos, trans-<br />
formando-os em ato. Assim, para Aristoteles,<br />
a "escolha" diz respeito apenas aos "meios",<br />
nio aos fins; portanto, nos torna responsa-<br />
veis, mas nio necessariamente bons (ou maus).<br />
Com efeito, ser "bom" depende dos fins e,<br />
para Aristoteles, os fins n5o s5o objeto de<br />
"escolha", mas sim de "voliqio". Mas a von-<br />
tade quer sempre e s6 o bem, ou melhor,<br />
aquilo que "aparece nas vestes de bem". Des-<br />
se modo, para ser bom, C precis0 querer o<br />
"bem ver<strong>da</strong>deiro e n50 aparente"; mas so o<br />
homem virtuoso, ou seja, o homem bom,<br />
sabe reconhecer o ver<strong>da</strong>deiro bem. Como<br />
se v&, gira-se num circulo que, de resto, C<br />
interessantissimo. Aquilo que Aristoteles<br />
busca, mas ain<strong>da</strong> n5o consegue encontrar, C<br />
o "livre-arbitrio". E suas aniilises sobre a<br />
quest50 s5o interessantissimas precisamen-<br />
te por isso, ain<strong>da</strong> que aportticas. Aristoteles<br />
compreendeu e afirmou que "o homem vir-<br />
tuoso v& o ver<strong>da</strong>deiro em to<strong>da</strong> coisa, consi-<br />
derando que C norma e medi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> coi-<br />
sa". Mas nso explicou como e por que o<br />
homem se torna virtuoso. Assim, nio C de<br />
surpreender o fato de que Aristoteles che-<br />
gue a sustentar que, uma vez que o homem<br />
se torna vicioso, n5o pode mais deixar de<br />
se-lo, embora, na origem, fosse possivel n5o<br />
se tornar vicioso. Somos obrigados, porim,<br />
a reconhecer que nio apenas Aristoteles,<br />
mas tambCm nenhum outro filosofo grego<br />
conseguiu resolver essas aporias, pois so com<br />
o pensamento cristzo C que o Ocidente iria<br />
descobrir os conceitos de vontade e de li-<br />
vre-arbitrio.<br />
A Ci<strong>da</strong>de e o ci<strong>da</strong>d60<br />
0 bern do individuo C <strong>da</strong> mesma natu-<br />
reza que o bern <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de, mas este "6 mais<br />
belo e mais divino" porque se amplia <strong>da</strong><br />
dimens50 do privado para a dimensio do<br />
social, para a qua1 o homem grego era par-<br />
ticularmente sensivel, porquanto concebia<br />
o individuo em funq5o <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de e n5o a<br />
Ci<strong>da</strong>de em fung5o do individuo. Aristoteles,<br />
alias, d6 a esse mod0 de pensar dos gregos<br />
uma express50 paradigmAtica, definindo o<br />
pr6prio homem como "animal politico" (ou<br />
seja, n5o simplesmente como animal que'<br />
vive em socie<strong>da</strong>de, mas como animal que<br />
vive em socie<strong>da</strong>de politicamente organiza-<br />
<strong>da</strong>). Com efeito, pode n5o formar parte de