História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
314<br />
Sexta parte - As escolus filo~6ficus dn em helenisticn<br />
mentos, cuja base conceitual resistiu prati-<br />
camente at6 o sCculo XIX. N2o sabemos<br />
quase na<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de Euclides. Todos os<br />
<strong>da</strong>dos em nosso poder levam-nos a situar o<br />
ipice de sua vi<strong>da</strong> em torno do ano de 300<br />
a.C. (as <strong>da</strong>tas de 330-277 a.C. para sua vi<strong>da</strong><br />
s2o convencionalmente assumi<strong>da</strong>s como<br />
proviveis).<br />
Outras obras euclidianas (0s Dados, a<br />
Otica e Sobre as divis6es, que nos chegaram<br />
em versijes irabes) tambCm se conservaram,<br />
mas s20 obras menos significativas. Se C ver-<br />
<strong>da</strong>deiro um episodio relatado por Proclo,<br />
seu cariter torna-se perfeitamente ilumina-<br />
do: como o rei Ptolomeu lhe perguntara se<br />
n2o havia um caminho mais simples para<br />
introduzir as pessoas na matematica, Eucli-<br />
des respondeu que "ngo hi caminhos rigios<br />
nas matemiticas".<br />
EQ A estrutura met0dol6~ica<br />
dos "Elementos" de Cuclides<br />
0 procedimento dos Elementos i o do<br />
discurso axiomatico, ou seja, o procedimento<br />
segundo o qual, postas certas coisas, seguemse<br />
necessariamente outras, estruturalmente<br />
concatena<strong>da</strong>s. Nessa obra encontramos em<br />
operaq20, de mod0 preciso, as estruturas <strong>da</strong><br />
deduq2o proprias <strong>da</strong> logica aristotClica, assim<br />
como sua base teoritica geral. Como a base<br />
<strong>da</strong> logica aristotilica prev: precisamente definiqijes,<br />
principios ou axiomas comuns, e<br />
postulados especificos para ca<strong>da</strong> cihcia, os<br />
Elementos de Euclides apresentam urna sCrie<br />
de definigoes, cinco postulados e os axiomas<br />
comuns. As definiqijes calibram os termos<br />
que entram no discurso; os axiomas<br />
comuns sao especificaqijes do principio <strong>da</strong><br />
n2o-contradi~ao, sobre o qual, segundo Aristoteles,<br />
nos devemos basear para desenvolvei<br />
qualquer discurso 16gico; os "postulados"<br />
s2o afirmaqijes de base, de carater fun<strong>da</strong>mentalmente<br />
intuitivo (e, portanto, afirmaqijes<br />
imediatas, ou seja, n2o demonstriveis<br />
e nio mediiveis), que constituem o proprio<br />
substrato <strong>da</strong> exposiqso. Como 6 sabido, o<br />
quinto postulado provocou inumeros problemas<br />
e foi na tentativa de resolv&los que<br />
nasceram as geometrias nHo-euclidianas.<br />
Mas, como falaremos disso a seu tempo, n2o<br />
entraremos aqui nos detalhes <strong>da</strong>s questijes<br />
relativas aos postulados.<br />
Destacar porim que, em seus procedimentos<br />
argumentativos, Euclides usa<br />
freqiientemente o mitodo <strong>da</strong> "redug20 ao<br />
absurdo", que outra coisa n2o i sen20 o<br />
cilebre "elenco", portador de gloriosa his-<br />
toria, que inicia inclusive a Escola eleiitica,<br />
particularmente os cilebres argumentos de<br />
Zenao, prosseguindo depois com Gorgias<br />
e a dialitica socratica, com Plat20 e Arist6-<br />
teles.<br />
Juntamente com esse mitodo, Euclides<br />
tambtm usa aquele que, mais tarde, seria<br />
chamado "mitodo <strong>da</strong> exaustio", aplicado<br />
sobretudo nos ultimos livros, mas que tem<br />
no dCcimo livro a sua primeira formulaq20<br />
paradigmatica: "Tomando-se como <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
duas grandezas desiguais, se se subtrai <strong>da</strong><br />
maior urna grandeza maior do que a metade,<br />
parte restante outra grandeza maior<br />
do que a metade e assim sucessivamente,<br />
restara urna grandeza que seri menor do<br />
que a grandeza menor toma<strong>da</strong>." 0 exemplo<br />
que se costuma apresentar para esclarecer<br />
de mod0 intuitivo essa proposiq20 i<br />
o seguinte: seja A a gandeza maior, por<br />
exemplo um circulo, e B a grandeza menor;<br />
agora, subtraiamos ao circulo urna<br />
grandeza maior do que a sua metade, por<br />
exemplo, inscrevendo no circulo um quadrado<br />
(e, portanto, subtraindo <strong>da</strong> irea do<br />
circulo a irea do quadrado); depois prosseguimos,<br />
subtraindo a parte restante outra<br />
grandeza maior do que a metade, por<br />
exemplo, bissectando os arcos determinados<br />
do lado do quadrado e assim obtendo<br />
um octagon0 (que subtrairemos <strong>da</strong> Area do<br />
circulo); assim procedendo, por bissecg50,<br />
obteremos pouco a pouco um poligono que<br />
tende a aproximar-se ca<strong>da</strong> vez mais do circulo<br />
e, portanto, urna grandeza tal que,<br />
subtrai<strong>da</strong> a do circulo, torna-se menor do<br />
que a grandeza B <strong>da</strong><strong>da</strong>, qualquer que esta<br />
seja. Assim, por esse caminho, i sempre<br />
possivel encontrar urna grandeza sempre<br />
menor do que qualquer grandeza <strong>da</strong><strong>da</strong>, por<br />
menor que ela seja, porque n2o existe urna<br />
grandeza minima.<br />
A. Frajese, a este proposito, recordou<br />
justamente Anaxigoras, que sustentava que<br />
hi sempre um menor do que o menor (divisibili<strong>da</strong>de<br />
ao infinito <strong>da</strong>s homeomerias), assim<br />
como tambim hi sempre um maior em<br />
relaqzo a qualquer coisa grande. Portanto,<br />
em Anaxagoras encontra-se um antecedente<br />
desse mitodo.<br />
Muitas vezes discutiu-se sobre a "originali<strong>da</strong>de"<br />
do conteudo desses Elementos.<br />
Esti fora de d~vi<strong>da</strong> que Euclides recuperou