História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
290 Sexta parte - A s escolas f!losificas <strong>da</strong> em helenisiiia<br />
physis racional ou biologica; uma coisa, de<br />
fato, C o que promove a conservaqio e o<br />
incremento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> animal; outra C o que<br />
promove a conserva@o e o incremento <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> razio e do logos.<br />
. Pois bem, segundo os Est6icos, o bem<br />
moral e' exatamente aquilo que incrementa<br />
o logos, e o ma1 e' aquilo que lhe causa <strong>da</strong>no.<br />
0 ver<strong>da</strong>deiro bern, para o homem, e' somen-<br />
te a virtude; o ver<strong>da</strong>deiro ma1 e's6 o vicio.<br />
Como considerar entio aquilo que C hi1<br />
ao corpo e i nossa natureza biologica? E<br />
como denominaremos o contrario disso? A<br />
tendencia de fundo do Estoicismo i a de ne-<br />
gar a to<strong>da</strong>s estas coisas o qualificativo de<br />
"bem" e de "mal", exatamente porque, como<br />
se viu, bem e ma1 sio somente aquilo que C<br />
util e aquilo que C nocivo ao logos, portanto,<br />
s6 o bem e o ma1 morais. Por isso, to<strong>da</strong>s as<br />
coisas que sio relativas ao corpo, quer sejam<br />
nocivas, quer nio, sio considera<strong>da</strong>s "indife-<br />
rentes" (adiaphora) ou, mais exatamente,<br />
"moralmente indiferentes". Entre as coisas<br />
moralmente indiferentes colocam-se conse-<br />
quentemente quer as coisas fisica e biologi-<br />
camente positivas, como vi<strong>da</strong>, saude, beleza,<br />
riqueza etc., quer as fisica e biologicamente<br />
negativas, como morte, doenqa, brutali<strong>da</strong>de,<br />
pobreza, ser escravo ou imperador etc.<br />
Esta niti<strong>da</strong> separaqio, opera<strong>da</strong> entre<br />
bens e males, por um lado, e indiferentes, por<br />
outro, C indubitavelmente um dos traqos<br />
mais caracteristicos <strong>da</strong> Ctica estoica, que ja<br />
na antigui<strong>da</strong>de foi objeto de enorme espan-<br />
to e de vivazes concordincias e discordsn-<br />
cias, suscitando mdtiplas discussdes entre<br />
os adversaries e as vezes entre os pr6prios<br />
seguidores <strong>da</strong> filosofia do Portico. Com efei-<br />
to, com essa radical cis20 os Estoicos podium<br />
p6r o homem ao abrigo dos males <strong>da</strong> e'poca<br />
em que viviam: todos os males derivados do<br />
desmoronamento <strong>da</strong> antiga polis e todos os<br />
perigos, insegurangas e adversi<strong>da</strong>des prove-<br />
nientes <strong>da</strong>s convuls6es politicas e sociais, que<br />
se seguiram a tal desmoronamento, eram<br />
simplesmente negados como males e confi-<br />
nados entre os "indiferentes ".<br />
Esse era um mod0 bastante au<strong>da</strong>z de<br />
<strong>da</strong>r nova seguranqa ao homem, ensinando-<br />
lhe que bens e males derivam sempre e s6 do<br />
interior do proprio eu e n5o do exterior, con-<br />
vencendo-o, assim, de que a felici<strong>da</strong>de podia<br />
ser perfeitamente consegui<strong>da</strong> de mod0 absolu-<br />
tamente independente dos eventos externos,<br />
e que se podia ser feliz at6 em meio aos tor-<br />
mentos fisicos, como tambCm Epicuro dizia.<br />
A lei geral <strong>da</strong> oike'iosis, ou seja, o prin-<br />
cipio <strong>da</strong> conservaqio de si mesmo, implica-<br />
va que se devia reconhecer como positivo<br />
tudo o que conserva e incrementa o proprio<br />
ser, mesmo em simples nivel fisico e biol6-<br />
gico. Assim, nio so para os animais, mas<br />
tambCm para os homens, se devia reconhe-<br />
cer como positivo tudo o que esti em con-<br />
formi<strong>da</strong>de com a natureza fisica e que ga-<br />
rante, conserva e incrementa a vi<strong>da</strong>, corno,<br />
por exemplo, a saude, a forqa, o vigor do cor-<br />
po e dos membros, e assim por diante. 0 s<br />
Estoicos chamaram esse positivo segundo a<br />
natureza de "valor" ou "estima", enquanto<br />
o oposto negativo foi chamado de "falta de<br />
valor" ou "falta de estima".<br />
Portanto, os "intermediirios" que es-<br />
tio entre os bens e males deixam de ser de<br />
todo "indiferentes", ou melhor, embora per-<br />
manecendo moralmente indiferentes, tor-<br />
nam-se, do ponto de vista fisico, "valores"<br />
e "desvalores". Dai decorre, em conseqiien-<br />
cia, que, <strong>da</strong> parte <strong>da</strong> nossa natureza animal,<br />
os primeiros serio objeto de "prefercncia";<br />
os segundos, ao contrario, serio objeto de<br />
"aversao". E nasce assim uma segun<strong>da</strong> dis-<br />
tinqio, estreitamente dependente <strong>da</strong> primei-<br />
ra: os indiferentes "preferidos" e os indife-<br />
rentes "nio preferidos" ou "recusados".<br />
Essas distinqdes correspondiam nio so<br />
a uma exigtncia de atenuar realisticamente a<br />
demasiado niti<strong>da</strong> dicotomia entre "bens e<br />
males" e "indiferentes", em si paradoxal, mas<br />
encontravam nos pressupostos do sistema uma<br />
justificativa ain<strong>da</strong> maior que a referi<strong>da</strong> dico-<br />
tomia, pelas razdes ja ilustra<strong>da</strong>s. Por isso, C<br />
compreensivel que a tentativa de Aristio e de<br />
Erilo, de defender a absoluta adiaphoria ou<br />
"indiferenqa" <strong>da</strong>s coisas que nio sio nem<br />
bens nem males, tenha encontrado tZo niti<strong>da</strong><br />
oposiqio em Crisipo, que defendeu a posi-<br />
qio de Zen20 e a consagrou definitivamente.<br />
AS NaC6e~ rerfeita~N<br />
e os "deveres"<br />
As aqdes humanas cumpri<strong>da</strong>s em tudo<br />
e por tudo segundo o logos chamam-se<br />
"aqdes moralmente perfeitas"; as contrarias