12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

152 Quarta parte - Platjo<br />

IV. $\ concep~zo do holnem<br />

A concep@o platbnica do homem se inspira em forte dualismo entre alma e<br />

corpo; o corpo 6 entendido como carcere ou mesmo como tumulo <strong>da</strong> alma. Daqui<br />

derivam os paradoxos <strong>da</strong> "fuga do corpo" (o filosofo deseja a morte enquanto<br />

separaqao <strong>da</strong> alma do corpo) e <strong>da</strong> "fuga do mundo" (para tor-<br />

A concep~do nar-se semelhante a Deus o quanto e possivel ao homem).<br />

do homem Esta concepqao pressupde a doutrina <strong>da</strong> imortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

+ 3 1-8 alma, A qua1 ligam-se estreitamente as doutrinas <strong>da</strong> metempsi-<br />

cose, ou transmigra@o <strong>da</strong>s almas em diferentes, corpos, e dos<br />

destinos escatologicos <strong>da</strong>s almas depois <strong>da</strong> morte. Dois mitos plat6nicos d o em-<br />

blemdticos: o mito de Er e o mito do carro alado.<br />

Na seqiio anterior, explicamos o carii-<br />

ter niio "dualista", no sentido usual confe-<br />

rid0 a essa expressiio, <strong>da</strong> relaqiio entre as<br />

IdCias e as coisas, uma vez que as IdCias sio<br />

a "ver<strong>da</strong>deira causa" <strong>da</strong>s coisas. No entan-<br />

to, C dualista (em certos dialogos, em senti-<br />

do total e radical) a concepqiio plat6nica <strong>da</strong>s<br />

relaqties entre alma e corpo, porquanto Pla-<br />

tio introduz, alCm <strong>da</strong> participaqio <strong>da</strong> pers-<br />

pectiva metafisico-ontologica, a participaqiio<br />

do elemento religioso derivado do Orfismo,<br />

que transforma a distin@o entre alma (= su-<br />

pra-sensivel) e corpo (= sensivel) em oposi-<br />

@o. Por essa raziio, o corpo C visto nio tan-<br />

to como receptaculo <strong>da</strong> alma, ii qua1 deve a<br />

vi<strong>da</strong> juntamente com suas capaci<strong>da</strong>des de<br />

operaqio (e, portanto, como instrumento a<br />

serviqo <strong>da</strong> alma, segundo o mod0 de entender<br />

de Socrates), e sim, ao contrario, como "tum-<br />

ba" e "circere" <strong>da</strong> alma, isto 6, como lugar<br />

de expiaqiio <strong>da</strong> alma.<br />

Enquanto temos um corpo, estamos<br />

"mortos", porque somos fun<strong>da</strong>mentalmen-<br />

te nossa alma; e a alma, enquanto se encon-<br />

tra em um corpo, acha-se como em uma<br />

tumba; e, com isso, encontra-se em situa-<br />

qio de morte. Nosso morrer (com o corpo)<br />

C viver, porque, morrendo o corpo, a alma<br />

se liberta do circere. 0 corpo C raiz de todo<br />

mal, fonte de amores insensatos, de paixties,<br />

inimizades, discordias, ignoriincia e loucura.<br />

E tudo isso precisamente mortifica a alma.<br />

Essa concepqiio negativa do corpo sofre cer-<br />

tas atenuaqties nas dtimas obras de Platiio,<br />

embora nunca desapareqa por completo.<br />

Entretanto, feitas essas observaqties, C<br />

importante considerar que a Ctica plat6nica<br />

se apresenta apenas parcialmente condicio-<br />

na<strong>da</strong> por esse dualismo exacerbado. Seus<br />

teoremas e corolirios fun<strong>da</strong>mentais, na ver-<br />

<strong>da</strong>de, ap6iam-se na distinqiio metafisica en-<br />

tre alma (ser dotado de afini<strong>da</strong>de com o inte-<br />

ligivel) e corpo (reali<strong>da</strong>de sensivel), muito mais<br />

do que na contraposiqio misteriosofica entre<br />

alma (dem6nio) e corpo (tumba e circere).<br />

Dessa contraposiqiio procedem a formulaqio<br />

extremista e a exasperaqio paradoxal de al-<br />

guns principios que, entretanto, permanecem<br />

vilidos no context0 platBnico, tambCm no<br />

plano puramente ontologico. A "segun<strong>da</strong> na-<br />

vegaqiio" continua sendo, substancialmen-<br />

te, o ver<strong>da</strong>deiro fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> Ctica plat6nica.<br />

Examinemos agora os dois paradoxos<br />

mais conhecidos <strong>da</strong> Ctica plathica, freqiien-<br />

temente entendidos de forma incorreta pel0<br />

fato de que se atentou mais para sua fisionomia<br />

matiza<strong>da</strong> pelos tons misticos misterios6ficos<br />

do que para sua fun<strong>da</strong>mentaqiio metafisica.<br />

Estamos nos referindo aos dois paradoxos<br />

<strong>da</strong> "fuga do corpo" e <strong>da</strong> "fuga do mundo".<br />

1) 0 primeiro paradox0 desenvolve-se<br />

especialmente no Fbdon. A alma tem de fu-<br />

gir o mais possivel do corpo. Por isso, o ver-<br />

<strong>da</strong>deiro filosofo deseja a morte e a ver<strong>da</strong>dei-<br />

ra filosofia C "exercicio de morte". 0 sentido

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!