12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Quarta parte - Plat~o<br />

grande familia, na qual todos se amassem<br />

como pais, miies, filhos, irmiios, irmiis, pa-<br />

rentes. Acreditava poder eliminar dessa for-<br />

ma as raz6es que alimentam o egoism0 e<br />

suprimir as barreiras do "C meu", "6 teu".<br />

Todos deveriam dizer apenas "6 nosso". 0<br />

bem particular deveria ser bem comum.<br />

A educaqiio prevista por Platiio para<br />

os governantes coincidia com o tirocinio<br />

exigido para o aprendizado <strong>da</strong> filosofia,<br />

suposta a coincidincia entre ver<strong>da</strong>deiro fi-<br />

16sofo e ver<strong>da</strong>deiro politico. Devia durar at6<br />

os cinqiienta anos e Platiio a chamava de<br />

"longa estra<strong>da</strong>". Entre os trinta e os trinta<br />

e cinco anos, devia ocorrer o tirocinio mais<br />

dificil, ou seja, a experiincia com a dial&<br />

tica. Dos trinta e cinco aos cinqiienta anos,<br />

estava prescrita a retoma<strong>da</strong> dos contatos<br />

com a reali<strong>da</strong>de empirica, no desempenho<br />

de diversas tarefas. A finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educa-<br />

qiio do politico-fil6sofo consistia em levi-<br />

lo ao conhecimento e h contemplaqiio do<br />

Bem, conduzindo-o ao "conhecimento mi-<br />

ximo", para que ele pudesse plasmar a si<br />

mesmo conforme o Bem, visando inserir o<br />

Bem na reali<strong>da</strong>de hist6rica. Dessa forma,<br />

o "Bem" emerge como principio primeiro,<br />

do qual depende o mundo ideal. 0 Demiur-<br />

go aparece como gerador do cosmo fisico<br />

em raziio <strong>da</strong> sua "bon<strong>da</strong>de", e o "Bem"<br />

constitui o fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de e do agir<br />

politi~o.<br />

E ficil compreender, portanto, as afir-<br />

maq6es de PlatHo, no final do livro IX <strong>da</strong><br />

Repziblica, segundo as quais "pouco impor-<br />

ta se exista ou possa existir" tal Ci<strong>da</strong>de;<br />

basta apenas que ca<strong>da</strong> um viva segundo as<br />

leis dessa Ci<strong>da</strong>de, isto 6, segundo as leis do<br />

bem e <strong>da</strong> justiqa. Em resumo, antes mesmo<br />

de realizar-se na reali<strong>da</strong>de exterior, ou seja,<br />

na histbria, a Ci<strong>da</strong>de plat6nica realiza-se no<br />

interior do homem. Ai se encontra, definiti-<br />

vamente, a sua ver<strong>da</strong>deira sede.<br />

0 "Politico" e as "Leis"<br />

Depois <strong>da</strong> Repziblica, Plat50 voltou a<br />

se ocupar expressamente <strong>da</strong> problemitica<br />

politica, especialmente no Politico e nas Leis.<br />

Niio retratou o projeto <strong>da</strong> Repziblica, por-<br />

quanto tal projeto representa sempre um<br />

ideal, mas procurou <strong>da</strong>r forma a algumas<br />

idkias que pudessem aju<strong>da</strong>r na construqiio<br />

de um "Estado segundo", ou seja, de um<br />

Estado destinado a suceder ao Estado ideal.<br />

de um Estado que atribua consideraqiio maio;<br />

aos homens vistos como efetivamente siio e<br />

niio apenas como deveriam ser.<br />

Na Ci<strong>da</strong>de ideal niio existe o dilema se<br />

a soberania comt>ete ao homem de Estado<br />

ou A lei, porquanto a lei na<strong>da</strong> mais C que o<br />

mod0 segundo o qual o homem de Estado<br />

perfeito realiza na Ci<strong>da</strong>de o Bem contempla-<br />

do. Entretanto, no Estado real, onde muito<br />

dificilmente se poderiam encontrar homens<br />

capazes de governar "com virtude e cih-<br />

cia", a ponto de se colocarem acima <strong>da</strong> lei,<br />

a soberania cabe h lei e, portanto, torna-se<br />

imprescindivel a elaboraqiio de constituiq6es<br />

escritas.<br />

As constituiq6es histbricas, que repre-<br />

sentam imitaq6es ou formas corrompi<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

constituiqiio ideal, podem ser trss:<br />

1) se C um s6 homem que governa e<br />

imita o politico ideal, temos a monarquia;<br />

2) se siio varios homens ricos que go-<br />

vernam e imitam o politico ideal, temos a<br />

aristocracia;<br />

3) se C o povo na sua totali<strong>da</strong>de que<br />

governa e busca imitar o politico ideal, te-<br />

mos a democracia.<br />

Quando essas formas de constituiqiio<br />

politica se corrompem e os governantes bus-<br />

cam apenas os pr6prios interesses e niio os<br />

do povo, nascem:<br />

1) a tirania:<br />

2 j a oligar&ia;<br />

3) a demagogia.<br />

Quando os Estados siio bem governa-<br />

dos, a primeira forma de govern0 C a melhor;<br />

quando nos Estados a corrupqiio campeia,<br />

C melhor a terceira forma porquanto, pel0<br />

menos, a liber<strong>da</strong>de permanece garanti<strong>da</strong>.<br />

Nas Leis, por fim, Platiio recomen<strong>da</strong><br />

dois conceitos bisicos: o de "constituiqiio<br />

mista" e o de "igual<strong>da</strong>de proporcional". 0<br />

poder excessivo produz o absolutismo tir2-<br />

nico e liber<strong>da</strong>de demasia<strong>da</strong> acarreta dema-<br />

gogia. A f6rmula ideal esti no respeito A li-<br />

ber<strong>da</strong>de. devi<strong>da</strong>mente mesclado com a<br />

autori<strong>da</strong>de exerci<strong>da</strong> com "justa medi<strong>da</strong>". A<br />

ver<strong>da</strong>deira igual<strong>da</strong>de niio C a busca<strong>da</strong> a to-<br />

do custo pel0 igualitarismo abstrato, mas a<br />

alcanqa<strong>da</strong> de forma ''proporciona1". De<br />

mod0 geral, nas Leis, a "justa medi<strong>da</strong>" as-<br />

sume posiqiio predominante do principio ao<br />

fim. Platiio at6 revela exmessamente mais<br />

uma vez a sua fun<strong>da</strong>men&qiio de cariter ti-<br />

picamente teol6gic0, ao afirmar que, para<br />

os homens, "a medi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s as coisas C<br />

Deus".

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!