História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Sitima parte - Os ilt~mos desmvolvimentos <strong>da</strong> filosofia pagd antiga<br />
Na era helenistica, nos primeiros sku-<br />
10s <strong>da</strong> era imperial (particularmente nos sics.<br />
I1 e I11 d.C.), desenvolveu-se uma literatura<br />
de cariter filos6fico-soteriol6gico-religiose<br />
(que, em parte, chegou atC n6s), de nature-<br />
za varia<strong>da</strong>, mas com o traqo comum <strong>da</strong> pre-<br />
tens50 de ter sido revela<strong>da</strong> por Thot, o deus<br />
egipcio, escriba, intirprete e mensageiro dos<br />
deuses, que os gregos identificaram com seu<br />
deus Hermes e o chamaram de Hermes Tris-<br />
megistos (= tres vezes grande), de onde o no-<br />
me de "literatura hermitica" (isto 6, inspira-<br />
<strong>da</strong> por Hermes).<br />
Entre os numerosos escritos atribuidos<br />
a Hermes Trismegistos o grupo sem duvi<strong>da</strong><br />
mais interessante constitui-se de dezessete tra-<br />
tados (o primeiro traz o titulo de Pimandro),<br />
mais um escrito que chegou at6 nos apenas<br />
em uma versiio latina (no passado atribuido<br />
a Apuleio) de um tratado com o titu10,Asclk-<br />
pio (talvez composto no sCc. IV d.C.). E justa-<br />
mente este grupo de escritos que se chama<br />
de Corpus Hermeticum (= Corpo dos escri-<br />
tos que estiio sob o nome de Hermes).<br />
Deus C concebido em funqso do incor-<br />
poreo, <strong>da</strong> transcendencia e <strong>da</strong> infinitude;<br />
tambkm concede-se ain<strong>da</strong> como Mha<strong>da</strong> e<br />
Uno, "principio e raiz de to<strong>da</strong>s as coisas";<br />
por fim, C express0 tambtm em funqio <strong>da</strong><br />
imagem <strong>da</strong> luz. Teologia negativa e positiva<br />
se entrecruzam: de um lado, tende-se a con-<br />
ceber Deus como estando acima de tudo,<br />
como totalmente outro de tudo aquilo que<br />
existe, como "sem forma e sem figura", e,<br />
portanto, at6 como "privado de essencia",<br />
e, por isso, inefivel; do outro, reconhece-se<br />
que Deus C Bem e Pai de to<strong>da</strong>s as coisas, e,<br />
portanto, causa de tudo e, enquanto tal, ten-<br />
de-se a representi-lo positivamente.<br />
A hierarquia dos "intermediirios" en-<br />
tre Deus e o mundo C assim concebi<strong>da</strong>:<br />
1) No vCrtice esti o Deus supremo, luz<br />
e intelecto supremo.<br />
2) Depois vem o Logos, que C "filho"<br />
primogsnito do Deus supremo.<br />
3) Do Deus supremo deriva tambCm<br />
um intelecto demiurgico, que i "consubs-<br />
tancial" em relaqiio ao Logos.<br />
4) Depois temos o Anthropos, ou seja,<br />
o homem incorporeo, tambCm este deriva-<br />
do de Deus e "imagem de Deus".<br />
5) Segue-se, por fim, o intelecto <strong>da</strong>do<br />
ao homem terreno (rigorosamente distinto<br />
<strong>da</strong> alma e claramente superior a ela), que C<br />
tudo o que de divino existe no homem.<br />
A geraqiio do homem terrestre explica-<br />
se de mod0 complexo. 0 Anthropos ou ho-<br />
mem incorporeo, terceiro gerado pel0 Deus<br />
supremo, quer imitar o intelecto demiurgico<br />
e criar, tambCm ele, alguma coisa. Obti<strong>da</strong> a<br />
permissio do Pai, o Anthropos atravessa as<br />
sete esferas celestes at6 a lua, recebendo, por<br />
participaqio, as pottncias de ca<strong>da</strong> uma de-<br />
las, e depois se aproxima <strong>da</strong> esfera <strong>da</strong> ha e<br />
vs a natureza sublunar. Imediatamente o An-<br />
thropos se enamora dessa natureza, e, por sua<br />
v&, a natureza se enamora do homem. Mais<br />
precisamente, o homem se enamora <strong>da</strong> pr6-<br />
pria imagem refleti<strong>da</strong> na natureza (na igua),