História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Segun<strong>da</strong> parte - A fi.ndni;o do prnsomcn+o filasDfico<br />
A nova concep~do Xenofanes de C6lofon (naxido por volta de 570 a.C.)<br />
de Deus do d;,,ino critica pela primeira vez de mod0 sistematico e radical to<strong>da</strong><br />
+ 3 1-3 forma de antropomorfismo. lndica o elemento "terra" como<br />
principio, n3o porem de todo o cosmo, e sim do nosso planeta.<br />
en0 'f anes<br />
060 foi o fun<strong>da</strong>dor<br />
Xenofanes nasceu na ci<strong>da</strong>de j6nica de<br />
Colofon, em torno de 570 a.C. Por volta dos<br />
vinte e cinco anos de i<strong>da</strong>de, emigrou para as<br />
col6nias italicas, na Sicilia e na Italia meri-<br />
dional. Depois continuou viajando, sem mo-<br />
radia fixa, at6 i<strong>da</strong>de bem avanqa<strong>da</strong>, cantan-<br />
do como aedo suas pr6prias composiqoes<br />
poCticas, <strong>da</strong>s quais alguns fragmentos che-<br />
garam at6 n6s.<br />
Tradicionalmente Xenofanes foi consi-<br />
derado fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Escola de ElCia, mas isso<br />
com base em interpretaq6es incorretas de al-<br />
guns testemunhos antigos. No entanto, ele<br />
pr6prio nos diz que ain<strong>da</strong> era an<strong>da</strong>rilho sem<br />
mora<strong>da</strong> fixa at6 a i<strong>da</strong>de de noventa e dois<br />
anos. Ademais, sua problematica C de carater<br />
teol6gico e cosmol6gic0, ao passo que os<br />
eleatas, como veremos, fun<strong>da</strong>ram a proble-<br />
matica ontologica. Assirn, justamente, Xenofa-<br />
nes C hoje considerado pensador indepen-<br />
dente, tendo apenas algumas afini<strong>da</strong>des<br />
muito gedricas com os eleatas, mas certa-<br />
mente sem ligaqao com a fun<strong>da</strong>qgo <strong>da</strong> Esco-<br />
la de ElCia.<br />
C~itica h concepq60<br />
tradicioncll dos deuses<br />
0 tema central desenvolvido nos ver-<br />
sos de Xenofanes C constituido sobretudo<br />
pela critica a concepqHo dos deuses que<br />
Homero e Hesiodo haviam fixado de mod0<br />
exemplar e que era propria <strong>da</strong> religiao pu-<br />
blica e do homem grego em geral. Nosso<br />
filosofo identifica de mod0 perfeito o err0<br />
de fundo do qua1 brotam todos os absurdos<br />
ligados a tal concepc$io. E esse err0 consiste<br />
no antropomorfismo, ou seja, em atribuir<br />
aos deuses formas exteriores, caracteristicas<br />
psicol6gicas e paixoes iguais ou analogas as<br />
que sHo pr6prias dos homens, apenas quanti-<br />
tativamente mais notaveis, mas nio quali-<br />
tativamente diferentes. Agu<strong>da</strong>mente, Xeno-<br />
fanes objeta que se os animais tivessem mHos<br />
e pudessem fazer imagens de deuses, os fa-<br />
riam em forma de animal, assim como os<br />
Etiopes, que sHo negros e ttm o nariz achata-<br />
do, representam seus deuses negros e com o<br />
nariz achatado, ou os Tracios, que ttm olhos<br />
azuis e cabelos ruivos, representam seus deu-<br />
ses com tais caracteristicas. Mas, o que C<br />
ain<strong>da</strong> mais grave, os homens tambCm ten-<br />
dem a atribuir aos deuses tudo aquilo que<br />
eles mesmos fazem, nHo s6 o bem, mas tam-<br />
bim o mal, e isso 6 inteiramente absurdo.<br />
Assim, de um so golpe sHo contesta-<br />
dos, do mod0 mais radical, nHo so a credibi-<br />
li<strong>da</strong>de dos deuses tradicionais, mas tambCm<br />
a de seus aclamados cantores. 0 s grandes<br />
poetas, sobre os quais os gregos tradicional-<br />
mente se haviam formado espiritualmente,<br />
agora declaram-se porta-vozes de mentiras.<br />
De mod0 analogo, Xenofanes tambCm<br />
demitiza as virias explicaqoes miticas dos<br />
fen6menos naturais que, como sabemos,<br />
atrjbuiam-se a deuses. Por exemplo, a deu-<br />
sa Iris (o arco-iris) C demitiza<strong>da</strong> e identifi-<br />
ca<strong>da</strong> racionalmente com "uma nuvem, pur-<br />
purea, violacea, verde de se ver".<br />
A breve distincia de seu nascimento, a<br />
filosofia mostra a sua forte carga inovado-<br />
ra, desmontando crenqas seculares que se<br />
consideravam muito soli<strong>da</strong>s, mas somente<br />
porque se enraiza no mod0 de pensar e de<br />
sentir tipicamente heltnico; contesta-lhes<br />
qualquer vali<strong>da</strong>de e revoluciona inteiramen-<br />
te o mod0 de ver Deus que fora proprio do<br />
homem antigo. Depois <strong>da</strong>s criticas de Xen6-<br />
fanes, o homem ocidental nHo podera nun-<br />
ca mais conceber o divino segundo formas<br />
e medi<strong>da</strong>s humanas.