História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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362 %tima parte - 0 s bltimos desmuolvimmtos <strong>da</strong> filosofia pagd antiga<br />
ra@o <strong>da</strong>s Idiias e, desse modo, tudo C for-<br />
ma e tudo t logos.<br />
E como nasce a temporali<strong>da</strong>de?<br />
A resposta de Plotino C muito engenho-<br />
sa. A temporali<strong>da</strong>de nasce <strong>da</strong> propria ativi-<br />
<strong>da</strong>de com que a Alma cria o mundo fisico<br />
(ou seja, algo distinto do Inteligivel, que, ao<br />
contrario, pertence 2I dimensiio do eterno).<br />
Colhi<strong>da</strong> pelo "desejo de transferir para um<br />
diverso a visiio la de cima", a Alma n5o se<br />
satisfaz com o ver tudo "simultaneamente":<br />
sai <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de, avansa e se distende em um<br />
prolongamento e em uma sCrie de atos, que<br />
se sucedem uns aos outros, colocando as-<br />
sim em sucess50 de antes e depois aquilo<br />
que, na esfera do Espirito, C simultineo. A<br />
Alma cria a vi<strong>da</strong> como temporali<strong>da</strong>de, como<br />
copia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do Espirito, que esta nu dimen-<br />
sio <strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de. E a vi<strong>da</strong> como tempora-<br />
li<strong>da</strong>de C vi<strong>da</strong> que transcorre em momentos<br />
sucessivos e que, portanto, esti constan-<br />
temente volta<strong>da</strong> para momentos sempre<br />
posteriores e carrega<strong>da</strong> dos momentos trans-<br />
corridos.<br />
Nessa visiio, nascer e morrer tornam-<br />
se na<strong>da</strong> mais que jogo move1 <strong>da</strong> alma que<br />
reflete suas formas como em um espelho,<br />
jogo em que na<strong>da</strong> perece e tudo se conserva<br />
"porque na<strong>da</strong> pode ser cancelado pel0 ser".<br />
Julgado na justa otica, o cosmo fisico<br />
t perfeito. Efetivamente, ele C copia que imi-<br />
ta o modelo e niio C o modelo. Mas, como<br />
imagem, revela-se a mais bela imagem do<br />
original. De resto, como to<strong>da</strong>s as hipostases<br />
do mundo supra-sensivel, o pr6prio cosmo<br />
"existe para Ele e olha para cima". Plotino<br />
impele a espiritualizasiio do cosmo aos li-<br />
mites do acosmismo: a matCria C forma in-<br />
fima, o corpo C forma, o mundo um jogo<br />
m6vel de formas, a forma esta vincula<strong>da</strong> as<br />
IdCias do Espirito e o Espirito ao Uno.<br />
0 homem C fun<strong>da</strong>mentalmente a sua<br />
alma. E to<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do ho-<br />
mem dependem <strong>da</strong> alma. A alma C impassi-<br />
vel, capaz somente de agir. A propria sensa-<br />
$20, para Plotino, 6 ato cognoscitivo <strong>da</strong><br />
alma. Com efeito, quando sentimos, o nos-<br />
so corpo sofre uma alteraqgo por parte de<br />
outro corpo; mas, por outro lado, nossa<br />
alma entra em aqiio, niio s6 no sentido de<br />
que a alteraqiio corporea "niio Ihe escapa",<br />
mas tambim no sentido de que ela "julga"<br />
as alterasaes. Mais ain<strong>da</strong>: para Plotino, na<br />
impressiio sensorial que se produz nos orgiios<br />
corporeos, a alma vC (embora em um<br />
nivel mais fraco e debilitado) o rastro de<br />
formas inteligiveis e, portanto, para a alma,<br />
a pr6pria sensaqiio C uma forma de contemplaqiio<br />
do inteligivel no sensivel.<br />
De resto, isso na<strong>da</strong> mais C do que o<br />
corolario que brota <strong>da</strong> concepqHo plotiniana<br />
do mundo fisico, segundo a qua1 os corpos<br />
S ~ O produzidos pelos logoi, ou seja, pelas<br />
formas racionais <strong>da</strong> Alma do universo (que<br />
siio um reflexo <strong>da</strong>s Idkias), e a elas se reduzem<br />
em ultima analise, de mod0 que, em<br />
certo sentido, as sensaqaes revelam-se na<strong>da</strong><br />
mais que "pensamentos obscuros", ao passo<br />
que os pensamentos dos inteligiveis s5o<br />
"sensaq~es claras".<br />
Alias, para nosso filosofo, a sensaqiio<br />
C tanto mais possivel quanto mais a alma<br />
inferior que sente esta liga<strong>da</strong> a Alma superior,<br />
que tem percepqiio dos inteligiveis puros<br />
(a anamnese platbnica); ademais, o sentir<br />
<strong>da</strong> alma inferior capta as formas sensiveis<br />
como que irradiando-as com uma luz que<br />
emana dela, proveniente justamente <strong>da</strong>quela<br />
posse originaria que a Alma superior tem<br />
<strong>da</strong>s formas.<br />
E, assim como a sensasiio, Plotino tambCm<br />
interpreta como ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> alma a<br />
memoria, os sentimentos, as paixaes e as<br />
volisoes, e tudo o que a eles se liga.<br />
A ativi<strong>da</strong>de mais eleva<strong>da</strong> <strong>da</strong> alma consiste<br />
na liber<strong>da</strong>de, que i estreitamente liga<strong>da</strong><br />
2I imateriali<strong>da</strong>de. A liber<strong>da</strong>de se identifica<br />
com a voliqiio do Bem. Enquanto a liber<strong>da</strong>de<br />
do Uno C liber<strong>da</strong>de de se autocolocar<br />
como Bem absoluto, a liber<strong>da</strong>de do Espirito<br />
esta em permanecer indissoluvelmente ligado<br />
ao Bem, e a liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Alma consiste<br />
em tender para o Bem, atravCs do Espirito,<br />
em diversos niveis.<br />
0s destinos <strong>da</strong> alma consistem na reuniiio<br />
com o divino. Plotino retoma a escatologia<br />
plat6nica, mas sustenta que jh nesta<br />
terra e' possivel realizar a separa@o do corporeo<br />
e a reuniio corn o Uno. 0s fil6sofos<br />
<strong>da</strong> era helenistica j6 haviam insistido bastante<br />
no fato de que a felici<strong>da</strong>de plena pode<br />
ser desfruta<strong>da</strong> nesta terra, at6 mesmo entre<br />
tormentos fisicos. Plotino reafirma decidi<strong>da</strong>mente<br />
esse conceito, mas destaca que o<br />
ser feliz at6 entre tormentos fisicos, no "toro<br />
de Falirides" (ou seja, entre torturas), 6 possivel<br />
porque ha em n6s um componente