12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A unica ver<strong>da</strong>de, portanto, C o ser n5o-<br />

gerado, incorruptivel, imutivel, imovel,<br />

igual, esferiforme e uno. To<strong>da</strong>s as outras<br />

coisas niio passam de nomes vzos:<br />

". . .por isso todos s6 nomes serio,<br />

postos pelos mortais,<br />

convictos de que eram ver<strong>da</strong>deiros:<br />

nascer e perecer, ser e niio-ser,<br />

trocar de lugar e tornar-se luminosa cor".<br />

0 caminho <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de C o caminho <strong>da</strong><br />

raz5o (a sen<strong>da</strong> do dia), ao passo que o ca-<br />

minho do erro, substancialmente, C o cami-<br />

nho dos sentidos (a sen<strong>da</strong> <strong>da</strong> noite). Com<br />

efeito, os sentidos pareceriam atestar o niio-<br />

ser, B medi<strong>da</strong> que parecem atestar a existin-<br />

cia do nascer e do morrer, do movimento e<br />

do devir. Por isso, a deusa exorta Parmihides<br />

a niio se deixar enganar pelos sentidos e pel0<br />

hibito que eles criam, contrapondo aos sen-<br />

tidos a raziio e seu grande principio:<br />

"Afasta o pensamento<br />

desse caminho de busca<br />

e que o hibito nascido<br />

de muitas expericncias humanas<br />

niio te force, nesse caminho,<br />

a usar o olho que n5o v2,<br />

o ouvido que retumba e a lingua:<br />

mas, com o pensamento, julga a prova<br />

que te foi forneci<strong>da</strong> com miiltiplas refutaqdes.<br />

Um s6 caminho resta ao discurso:<br />

que o ser existe".<br />

E evidente que an<strong>da</strong> pel0 caminho do<br />

err0 niio s6 quem expressamente diz que "o<br />

niio-ser existe", mas tambCm quem cre po-<br />

der admitir juntos o ser e o n5o-ser e quem<br />

cr& que as coisas passem do ser ao nio-ser e<br />

vice-versa. Com efeito, essa posiqiio (que C<br />

obviamente a mais difundi<strong>da</strong>) inclui estru-<br />

turalmente a anterior. Em suma: o caminho<br />

do err0 resume to<strong>da</strong>s as posiqdes <strong>da</strong>queles<br />

que, de qualquer modo, admitem expressa-<br />

mente ou fazem raciocinios que impliquem<br />

o n5o-ser, que, como vimos, niio existe, por-<br />

que impensavel e indizivel.<br />

A te~ceira via<br />

Mas a deusa fala tambim de um ter-<br />

ceiro caminho, o <strong>da</strong>s "aparCncias plausiveis".<br />

Resumi<strong>da</strong>mente, Parmenides teve de reco-<br />

Capitulo segundo - 0 s "j\1aturalistasn ou filbsofos <strong>da</strong> "physis"<br />

nhecer a licei<strong>da</strong>de de certo tipo de discurso<br />

aue mocurasse <strong>da</strong>r conta dos fen6menos e<br />

1 L<br />

<strong>da</strong> aparhcia <strong>da</strong>s coisas, com a condiqiio de<br />

que tal discurso niio se voltasse contra o<br />

grande principio e n5o admitisse, juntos, o<br />

ser e o niio-ser. Assim, entende-se por que,<br />

na segun<strong>da</strong> parte do poema (infelizmente,<br />

perdi<strong>da</strong> em grande parte), a deusa fizesse<br />

uma exposiq50 completa do "ordenamento<br />

do mundo conforme ele aparece".<br />

Mas como C possivel <strong>da</strong>r conta dos fen6menos<br />

de mod0 plausivel sem contraporse<br />

ao grande principio?<br />

As cosmogonias tradicionais foram<br />

construi<strong>da</strong>s com base na dinsmica dos opostos,<br />

dos quais um fora concebido como positivo<br />

e como ser e o outro como negativo e<br />

como nio-ser. Ora, segundo Parmhides, o<br />

err0 esti em niio se ter compreendido que<br />

os opostos se devem pensar como incluidos<br />

na uni<strong>da</strong>de superior do ser: ambos os opostos<br />

s5o "ser". Assim. Parmtnides tenta uma<br />

deduq5o dos fen6menos, partindo <strong>da</strong> dupla<br />

de opostos "luz" e "noite", mas proclamando<br />

que "com nenhuma <strong>da</strong>s duas esti o na<strong>da</strong>",<br />

ou seja, que ambas siio "ser".<br />

0s fragmentos que nos chegaram sio<br />

muito escassos para que possamos reconstruir<br />

as linhas dessa deduqiio do mundo dos<br />

fen6menos. Entretanto, esta claro que nela,<br />

assim como o nio-ser estava eliminado, tambCm<br />

estava elimina<strong>da</strong> a morte, que C uma<br />

forma de niio-ser. Efetivamente, sabemos<br />

aue Parmhides atribuia sensibili<strong>da</strong>de ao<br />

c'a<strong>da</strong>ver. mais ~recisamente "sensibili<strong>da</strong>de<br />

para o frio, para o silEncio e para os elementos<br />

contririos". 0 que significa que o<br />

cadiver, na reali<strong>da</strong>de, n5o C tal. A obscura<br />

"noite" (o frio) em que o cadiver se encontra<br />

nio C o 60-ser, isto C, o na<strong>da</strong>; por isso,<br />

o ca<strong>da</strong>ver permanece no ser e, de alguma<br />

forma, continua a sentir e, portanto, a viver.<br />

E evidente, porCm, que essa tentativa<br />

destinava-se a chocar-se contra insuperiveis<br />

aporias (isto C, problemas). Uma vez reconheci<strong>da</strong>s<br />

como "ser", luz e noite (e os<br />

opostos em geral) deviam perder qualquer<br />

carater diferenciador e tornar-se identicas,<br />

precisamente porque ambas S ~ O "ser" e o<br />

ser C "todo idhtico". 0 ser de Parmcnides<br />

nio admite diferencia~des quantitativas nem<br />

qualitativas. Assim, eiquanto assumidos no<br />

ser. os fen6menos n50 so se encontram<br />

igualizados, mas tambCm imobilizados, como<br />

que petrificados na fixidez do ser.<br />

Desse modo, o grande principio de<br />

Parmtnides, assim como foi por ele formu-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!