12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

266 Sexta parte - A s escolas filosificas <strong>da</strong> era helenist~ca<br />

ver<strong>da</strong>de, seria melhor acreditar nos mitos<br />

sobre os deuses do que tornar-se escravo<br />

do fado que os Fisicos pregam: aquele mito,<br />

com efeito, oferece uma esperanqa, com a<br />

possibili<strong>da</strong>de de aplacar os deuses com hon-<br />

ras, enquanto no fado existe apenas uma<br />

necessi<strong>da</strong>de implacivel." Como os antigos<br />

j5 observavam, a "declinaqio" dos itomos<br />

contradiz as premissas do sistema, porque<br />

C gera<strong>da</strong> sem causa a partir do "nio-ser"; o<br />

que C tanto mais grave quando se sabe que<br />

Epicuro repisa energicamente que "do na<strong>da</strong>,<br />

na<strong>da</strong> procede". Por outro lado, estas apo-<br />

rias estio entre as coisas que melhor nos<br />

aju<strong>da</strong>m a compreender a complexi<strong>da</strong>de do<br />

pensamento de Epicuro e sua ver<strong>da</strong>deira<br />

estatura.<br />

fi infini<strong>da</strong>de dos mundos<br />

Dos infinitos principios at6micos de-<br />

rivam mundos infinitos. Alguns sao iguais<br />

ou anilogos ao nosso, outros muito di-<br />

versos.<br />

E pois de se notar que todos esses mun-<br />

dos infinitos nascem e se dissolvem, alguns<br />

mais rapi<strong>da</strong>mente, outros mais lentamente,<br />

na duraqio do tempo.<br />

De mod0 que os mundos nio sio ape-<br />

nas infinitos nu infinitude do espago, num<br />

<strong>da</strong>do momento do tempo, mas tambCm sso<br />

infinitos nu infinita sucessiio temporal.<br />

Embora em ca<strong>da</strong> instante existam mun-<br />

dos que nascem e mundos que morrem,<br />

Epicuro bem pode afirmar que "o todo nio<br />

mu<strong>da</strong>". Com efeito, nio s6 os elementos<br />

constitutivos do universo permanecem pe-<br />

renemente como siio, mas tambCm to<strong>da</strong>s<br />

as suas possiveis combinaq8es permanecem<br />

sempre em ato, exatamente por causa <strong>da</strong><br />

infinitude do universo, que d6 sempre lu-<br />

gar A concretizaqio de to<strong>da</strong>s as possibili-<br />

<strong>da</strong>des.<br />

Na raiz dessa constituiqio de infinitos<br />

universos nio esta, portanto, nenhuma In-<br />

teligincia, nenhum projeto e nenhuma fina-<br />

li<strong>da</strong>de; tambim nio esti a necessi<strong>da</strong>de, mas,<br />

como vimos, esta o clinamen e, logo, o ca-<br />

sual e o fortuito. E Epicuro e nio Democrito<br />

o filosofo que ver<strong>da</strong>deiramente "p8e o mun-<br />

do ao acaso".<br />

$4 alma e os deuses<br />

e sua derivac~o dos Atornos<br />

A alma, como to<strong>da</strong>s as outras coisas, C<br />

um agregado de atomos. Agregado formado<br />

em parte de homos igneos, aeriformes e ven-<br />

tosos, que constituem a parte irracional e<br />

alogica <strong>da</strong> alma, e em parte por atomos que<br />

sio "diversos" dos outros e que nio tgm nome<br />

especifico, constituindo a parte racional. Por-<br />

tanto, como todos os outros agregados, a<br />

alma nio C eterna, mas mortal. Essa C uma<br />

conseqiiincia que decorre necessariamente<br />

<strong>da</strong>s premissas materialistas do sistema.<br />

Epicuro niio nutre nenhuma duvi<strong>da</strong><br />

sobre a existincia dos deuses. Entretanto,<br />

nega que eles se ocupem com os homens ou<br />

com o mundo. Vivem em bem-aventuranqa<br />

nos "intermundos", ou seja, nos espaqos<br />

existentes entre mundo e mundo; sso nume-<br />

rosissimos, falam uma lingua semelhante A<br />

grega (a lingua dos sabios) e transcorrem a<br />

vi<strong>da</strong> na alegria, alimenta<strong>da</strong> por sua sabedo-<br />

ria e por sua propria companhia. Epicuro<br />

chegava a apresentar argumentos para de-<br />

monstrar a existincia dos deuses:<br />

1) temos deles um conhecimento evi-<br />

dente e, conseqiientemente, incontestavel;<br />

2) tal conhecimento C possuido nio so<br />

por alguns, mas por todos os homens de<br />

todos os tempos e lugares;<br />

3) o conhecimento que temos deles, as-<br />

sim como nossos outros conhecimentos, nio<br />

podem ser produzidos senio por "simulacros"<br />

ou "efluvios" que provim deles, sendo, em<br />

consegiiincia, conhecimento objetivo.<br />

E muito importante destacar o fato de<br />

que, <strong>da</strong> mesma forma que sublinha a "diver-<br />

si<strong>da</strong>de" dos atomos que constituem a alma<br />

racional em relaqso a todos os outros Bto-<br />

mos, Epicuro tambCm admite que a confor-<br />

maqio dos deuses "nio C corpo, mas 'quase<br />

corpo', nio C alma, mas 'quase alma' ".<br />

Seria o caso de destacar que, aqui, esse<br />

"quase" arruina todo o raciocinio filosofi-<br />

co e p8e irreparavelmente a nu a insuficiin-<br />

cia do materialismo atomistico, revelando<br />

inexoravelmente a incapaci<strong>da</strong>de estrutural<br />

do Atomismo de explicar os deuses, assim<br />

como de explicar a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conscihcia<br />

que existe em nos, justamente como o<br />

clinamen se revela estruturalmente insufi-<br />

ciente para explicar a liber<strong>da</strong>de.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!