História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
mais tem a temer, nem mesmo os mais atro-<br />
zes males e sequer as torturas: "0 sabio sera<br />
feliz mesmo entre os tormentos."<br />
Evidentemente, dizer que o sabio pode<br />
ser feliz mesmo sob as mais atrozes torturas<br />
i um modo paradoxal de dizer que o sabio C<br />
absolutamente "imperturbiivel", e o proprio<br />
Epicuro deu demonstraqiio disso quando, por<br />
entre os espasmos do ma1 que o levava a<br />
morte, escrevendo a um amigo o ultimo<br />
adeus, proclamava que a vi<strong>da</strong> i doce e feliz.<br />
E assim, fortalecido por sua "ataraxia",<br />
Epicuro capacita-se para afirmar que o si-<br />
bio pode competir, em felici<strong>da</strong>de, ati com<br />
os deuses: exceto a eterni<strong>da</strong>de, Zeus niio<br />
possui na<strong>da</strong> a mais que o siibio.<br />
Para os homens de seu tempo, atormen-<br />
tados pelo pavor e pela angustia do viver,<br />
Epicuro indicava novo caminho para o re-<br />
encontro <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de, e pregava uma pala-<br />
vra que era como que um desafio sorte e a<br />
fatali<strong>da</strong>de. Mostrava que a felici<strong>da</strong>de pode<br />
vir de dentro de nos, apesar de como as coi-<br />
sas estejam fora de nos, porque o ver<strong>da</strong>dei-<br />
ro bem, a medi<strong>da</strong> que vivemos e enquanto<br />
vivemos, esta sempre e somente em nos: o<br />
ver<strong>da</strong>deiro bem C a vi<strong>da</strong>, e para mants-la<br />
basta pouquissimo, e esse pouquissimo esta<br />
2 disposiqiio de todos, de ca<strong>da</strong> homem; e<br />
tudo o mais i vai<strong>da</strong>de.<br />
Socrates e Epicuro siio os paradigmas<br />
de duas grandes "fCsn e, alias, de duas religi-<br />
6es leigas: a f i e a religiiio <strong>da</strong> "justiqa", a f i<br />
e a religiiio <strong>da</strong> "vi<strong>da</strong>".<br />
Epicuro niio so prop&, mas imp& essa<br />
doutrina aos seus seguidores com fCrrea dis-<br />
ciplina, a ponto de no "Jardim" niio haver<br />
lugar para conflitos de idiias e desenvolvi-<br />
mentos doutrinirios de relevo, pelo menos<br />
sobre quest6es de fundo. 0 s estudiosos se<br />
sucederam em Atenas, <strong>da</strong> morte de Epicuro<br />
(2711270 a.C.) at6 a primeira metade do sic.<br />
I a.C. Sabe-se que, na segun<strong>da</strong> metade desse<br />
siculo, o terreno no qua1 surgira a Escola<br />
de Epicuro fora vendido e que, portanto, o<br />
"Jardim" ji estava morto em Atenas.<br />
Mas a palavra de Epicuro encontraria<br />
uma segun<strong>da</strong> pitria na Itilia. No sCc. I a.C.,<br />
por obra de Filodemo de Ga<strong>da</strong>ra (nascido<br />
por volta de fins do sic. I1 a.C. e morto entre<br />
40 e 30 a.C.), constituiu-se urn circulo<br />
de Epicuristas, de carater aristocritico, que<br />
teve sua sede em uma vila de Herculano. de<br />
proprie<strong>da</strong>de de Calpurnio Pisib, notivk~ e<br />
influente politico (foi c6nsul em 58 a.C.) e<br />
grande mecenas. As escavaq6es realiza<strong>da</strong>s em<br />
Herculano levaram a redescoberta dos restos<br />
<strong>da</strong> vila e <strong>da</strong> biblioteca, constitui<strong>da</strong> por escritos<br />
de Epicuristas e do pr6prio Filodemo.<br />
Mas a contribuiqiio mais significativa<br />
para o Epicurismo veio de Tito Lucricio<br />
Caro, que constitui um unicum na historia<br />
<strong>da</strong> filosofia de todos os tempos. Nasceu no<br />
inicio do sic. I a.C., morreu por volta de<br />
meados desse siculo. 0 seu De rerum natura,<br />
que canta em versos adrniriiveis o pensamento<br />
de Epicuro, constitui o maior poema<br />
filosofico de todos os temDos.<br />
Quanto a doutrina, Lucricio repete fielmente<br />
Epicuro. Sua inovaqiio consiste na<br />
poesia, ou seja, no modo como soube expor<br />
a mensagem que vinha do "Jardim".<br />
"Para libertar os homens. Lucricio compreendeu<br />
que n5o se tratava de obter, nos<br />
momentos de fria reflexiio, sua adesiio a alguma<br />
ver<strong>da</strong>de de ordem intelectual, mas que<br />
era preciso tornar essas ver<strong>da</strong>des, como diria<br />
Pascal, compreensiveis ao coraqiio" (P.<br />
Boyanci). Com efeito, confrontando as passagens<br />
do poema lucreciano com as correspondentes<br />
passagens de Epicuro, podemos<br />
concluir que a diferenqa e quase sempre esta:<br />
o filosofo fala com a linguagem do logos,<br />
ao passo que o poeta acrescenta os tons persuasivos<br />
do sentimento e <strong>da</strong> intuiciio fantastica;<br />
em suma, i a magia <strong>da</strong> arte. Uma so<br />
diferenqa subsiste, de resto, entre Epicuro e<br />
Lucrkcio: o primeiro soube aplacar suas<br />
angustias, at6 existencialmente; Lucricio, ao<br />
contririo, foi vitima delas, suici<strong>da</strong>ndo-se aos<br />
quarenta e quatro anos.<br />
0 E~icurismo sobrevivera tambkm na<br />
era imperial, mas sem inovaq6es. 0 documento<br />
mais significative que atesta a vitali<strong>da</strong>de<br />
do Epicurismo i um grandioso I-ro<br />
mural que Diogenes de Enoan<strong>da</strong> (na Asia<br />
Menor) mandou escul~ir no sic. I1 d.C. No<br />
siculo seguinte o ~~i&ismo se extinguiu.<br />
me bB<br />
=Pas* 1"