História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A nova figura do mifdico:<br />
o ver<strong>da</strong>deiro lnkdico<br />
deve ser tambkm fiI6sofo<br />
Galeno apresentar-se como o restaura-<br />
dor <strong>da</strong> antiga digni<strong>da</strong>de do mCdico, <strong>da</strong> qual<br />
Hip6crates fora o exemplo mais significati-<br />
vo, aliis, seu paradigma vivo. Segundo<br />
Galeno, os mCdicos de seu tempo haviam<br />
esquecido Hipocrates, <strong>da</strong>ndo-lhe as costas,<br />
e lhes faz tris gravissimas acusaq6es:<br />
1) de serem ignorantes;<br />
2) de serem corruptos;<br />
3) de estarem absur<strong>da</strong>mente divididos.<br />
1) Segundo Galeno, a ignorhcia dos<br />
novos midicos consistia sobretudo em: a) niio<br />
possuirem mais o conhecimento metodico do<br />
corpo humano; b) conseqiientemente, niio sa-<br />
berem distinguir mais as doenqas segundo<br />
ginero e espCcie; c) niio possuirem claras<br />
noq6es de logics, sem a qual niio se pode fa-<br />
zer diagnosticos. Ignorando essas coisas, a<br />
arte mCdica torna-se pura pra'tica empirica.<br />
2) A corrupqiio dos novos medicos con-<br />
siste: a) em entregarem-se a licenciosi<strong>da</strong>de,<br />
b) na sede insaciivel de dinheiro e c) na pre-<br />
guiqa: vicios esses que confundem a mente e<br />
a vontade.<br />
Logo, o mkdico precisa ter o conhecimen-<br />
to <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, a pritica <strong>da</strong> virtude e o exer-<br />
cicio <strong>da</strong> logics, de mod0 que "quem C ver-<br />
<strong>da</strong>deiro midico, C sempre tambCm filosofo".<br />
3) No que diz respeito a "divisiio em<br />
seitas", C necessirio recor<strong>da</strong>r que ha algum<br />
tempo a medicina havia sofrido ruptura em<br />
tris correntes:<br />
a) a dos chamados "dogm~ticos", que<br />
eram assim denominados porque sustenta-<br />
vam que, no conhecimento dos fatores sau-<br />
diveis e m6rbidos nos quais se baseia a arte<br />
midica, a raziio exercia papel determinante;<br />
b) a dos chamados "empiricos", os<br />
quais sustentavam que, para a arte mCdica,<br />
bastava a pura experiincia;<br />
C) a dos "metodicos" (que se autodeno-<br />
minavam desse mod0 para distinguir-se dos<br />
dogmiticos), que baseavam a arte midica em<br />
algumas noq6es esquemiticas muito simples<br />
("restrigiio" e "fluxo"), com as quais expli-<br />
cavam to<strong>da</strong>s as doenqas.<br />
Galeno rejeita sumariamente estes ultimo~,<br />
considerando-os ver<strong>da</strong>deiro perigo<br />
por sua superficiali<strong>da</strong>de. E denuncia a unilaterali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s outras duas seitas, mas v& uma<br />
possivel mediaqiio: o seu mitodo, com efei-<br />
Capitulo de'cimo se'timo - $\ cigncia antiga na era imprial<br />
to, tempera o momento 16gico com o expe-<br />
rimental, considerando ambos como igual-<br />
mente necessirios.<br />
Galeno apresentou, em sua imensa obra,<br />
a construqiio de uma grandiosa enciclopi-<br />
dia do saber mCdico. Confluiu para essa en-<br />
ciclopkdia grande parte do material anterior-<br />
mente adquirido, mas Galeno teve o mirito<br />
de <strong>da</strong>r-lhe nova forma e de ti-lo enriqueci-<br />
do com contribuiqoes pessoais.<br />
0s ramos principais dos quais deriva a<br />
imponente construqiio galeniana j i foram bem<br />
identificados em suas linhas fun<strong>da</strong>mentais.<br />
M. Vegetti os resume nos t6picos seguintes:<br />
a) os conhecimentos anat6micos adqui-<br />
ridos pelos midicos do Museu de Alexan-<br />
dria, sobretudo por Er6filo e Erasistrato;<br />
b) elementos <strong>da</strong> zoologia e <strong>da</strong> biologia<br />
de Aristoteles, rigorosamente a<strong>da</strong>ptados ao<br />
context0 de um mais severo teleologismo;<br />
C) a doutrina dos elementos, <strong>da</strong>s quali-<br />
<strong>da</strong>des e dos humores, proveniente <strong>da</strong> Esco-<br />
la hipocratica;<br />
d) as doutrinas do "calor inato" e do<br />
"pneuma", provenientes sobretudo de Pos-<br />
sid6ni0, com oportunas modificag6es;<br />
e) a ado@o do Timeu, lido em bases mC-<br />
dio-plat6nicas (corno aprendera com Albino),<br />
como quadro de conjunto e como esquema ge-<br />
ral para a construgiio <strong>da</strong> enciclopidia mCdica.<br />
A esses elementos deve-se agregar a con-<br />
cepqiio teleolbgica geral, que Galeno deduz<br />
sobretudo <strong>da</strong> tradigiio platonico-aristotilica,<br />
mas que leva 2s ultimas conseqiiincias, dotan-<br />
do-a de sua marca propria.<br />
Ilustremos brevemente alguns destes<br />
pontos, enquanto de outros falaremos mais<br />
adiante.<br />
No que se refere a ariatomia, 6 de se<br />
notar que Galeno alcangou s6li<strong>da</strong> prepara-<br />
qiio, em raziio do motivo que lembramos e<br />
tambim gragas a pritica assidua <strong>da</strong> disse-<br />
cagiio e <strong>da</strong> vivissecqiio, realiza<strong>da</strong> especial-<br />
mente em simios, bem como por ter proce-<br />
dido (logo depois de incerto inicio, quando<br />
se fazia esfolar os animais por um servente)<br />
em primeira pessoa a to<strong>da</strong>s as operaq6es<br />
necessirias ao escopo. Dissecou at6 um ele-<br />
fante. 0 seu tratado sobre os Procedirnen-