12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

232 Quinta parte - fi~ist6teles<br />

dialitica estu<strong>da</strong> as estruturas do pensar e do<br />

raciocinar que movem niio com base em ele-<br />

mentos fun<strong>da</strong>dos cientificamente, mas sim<br />

em elementos fun<strong>da</strong>dos na opiniiio, ou seja,<br />

os elementos que se apresentam como acei-<br />

tiveis para todos ou para a grande maioria<br />

dos homens. Analogamente, a retorica es-<br />

tu<strong>da</strong> os procedimentos com os quais os ho-<br />

mens aconselham, acusam, se defendem e<br />

elogiam (estas, com efeito, sio to<strong>da</strong>s ativi-<br />

<strong>da</strong>des especificas do persuadir), em geral niio<br />

se movendo a partir de conhecimentos cien-<br />

tificos, mas de opinides proviveis.<br />

As argumentaqdes que a retorica forne-<br />

ce, portanto, nio deveriio partir <strong>da</strong>s premis-<br />

sas originirias de que parte a demonstraqiio<br />

cientifica, mas <strong>da</strong>s convicqdes comumente<br />

admiti<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s quais parte tambim a dial&<br />

tica. Ademais, em sua demonstraqio, a reto-<br />

rica niio apresenta as virias passagens, atra-<br />

vCs <strong>da</strong>s quais o ouvinte comum se perderia,<br />

mas extrai a conclusiio rapi<strong>da</strong>mente <strong>da</strong>s pre-<br />

missas, deixando subjacente a mediaqiio lo-<br />

gica, pelas razdes apresenta<strong>da</strong>s. Esse tip0 de<br />

raciocinio retorico denomina-se "entime-<br />

ma". Portanto, o entimema i um silogismo<br />

que parte de premissas proviveis (de con-<br />

vicqdes comuns e niio de principios primei-<br />

ros), sendo conciso e niio desenvolvido nas<br />

virias passagens. AlCm do entimema, a re-<br />

torica se vale tambCm do "exemplo", que<br />

niio implica mediaqio logica de qualquer<br />

gtnero, mas torna imediata e intuitivamen-<br />

te evidente aquilo que se quer provar. As-<br />

sim como o entimema ret6rico corresponde<br />

ao silogismo dialitico, tambim o exemplo<br />

retorico corresponde a induqiio 16gica, en-<br />

quanto desenvolve funqiio perfeitamente<br />

aniloga.<br />

Qua1 a natureza do fato e do discurso<br />

poitico, e a que visa? Siio dois os conceitos<br />

sobre os quais devemos concentrar a aten-<br />

qiio para poder compreender a resposta <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

por nosso filosofo a questiio: 1) o conceito<br />

de "mimese" e 2) o conceito de "catarse".<br />

1) Platiio havia censurado fortemente<br />

a arte, precisamente porque 6 mimese, isto<br />

e, imitaqiio de coisas fenomtnicas, que,<br />

como sabemos, sio por seu turno imitaqdes<br />

dos eternos paradigmas <strong>da</strong>s IdCias, de mod0<br />

que a arte torna-se copia de copia, apargn-<br />

cia de apartncia, extenuando o ver<strong>da</strong>deiro<br />

a ponto de fazE-lo desaparecer. Aristoteles<br />

se opde claramente a esse mod0 de conce-<br />

ber a arte, interpretando a "mimese artisti-<br />

can segundo uma perspectiva oposta, a pon-<br />

to de fazer dela uma ativi<strong>da</strong>de que, longe de<br />

reproduzir passivamente a apartncia <strong>da</strong>s<br />

coisas, quase recria as coisas segundo nova<br />

dimens20.<br />

A dimensio segundo a qua1 a arte "imi-<br />

tan 6 a dimensiio do "possivel" e do "veros-<br />

simil". E C precisamente essa dimensiio que<br />

"universaliza" os conteudos <strong>da</strong> arte, elevan-<br />

do-os a nivel "universal" (evidentemente,<br />

niio "universais" logicos, mas simb6licos e<br />

fantasticos, como se diri mais tarde).<br />

2) Enquanto a natureza <strong>da</strong> arte consis-<br />

te na imitaqio do real segundo a dimensiio<br />

do possivel, sua finali<strong>da</strong>de consiste na "pu-<br />

rificaqio <strong>da</strong>s paixdes". E Aristoteles o diz<br />

fazendo refertncia explicita a tragidia, "que,<br />

por meio <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de e do terror, acaba por<br />

efetuar a purificaqiio de tais paixdes". Mas<br />

ele desenvolve urn conceito anilogo tambCm<br />

em refertncia ao efeito <strong>da</strong> musica.<br />

0 que significa, portanto, purifica@o<br />

<strong>da</strong>s paixoes?<br />

Alguns acharam que Aristoteles falas-<br />

se de purificaqiio "<strong>da</strong>s" paixdes em sentido<br />

moral, quase como que uma sublimaqiio <strong>da</strong>s<br />

paixdes obti<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> eliminaqiio <strong>da</strong>-<br />

quilo que elas ttm de inferior. Outros, po-<br />

rim, entenderam a "catarse" <strong>da</strong>s paixdes no<br />

sentido de remoqiio ou eliminaqgo tempo-<br />

riria <strong>da</strong>s paixdes, em sentido quase fisiolo-<br />

gico, e portanto no sentido de libertaqiio "em<br />

relaqio as" paixdes.<br />

Pelos poucos textos que chegaram ate<br />

nos, temos claramente que a catarse poki-<br />

ca nio C certamente purificaqiio de carater<br />

moral (ja que C expressamente distinta dela);<br />

parece que, embora com oscilaqdes e incer-<br />

tezas, Aristoteles entrevia naquela agradi-<br />

vel libertaqiio opera<strong>da</strong> pela arte algo de ani-<br />

logo Aquilo que hoje chamamos "prazer<br />

estCticon.<br />

Platiio condenara a arte, entre outros<br />

motivos, tambCm pelo fato de ela desenca-<br />

dear sentimentos e emoqdes, reduzindo o<br />

elemento racional que os domina. Aristoteles<br />

subverte exatamente a interpretaqio plat&<br />

nica: a arte niio nos carrega de emotivi<strong>da</strong>de,<br />

e sim nos descarrega; alim disso, o tip0 de<br />

emoqio que ela nos proporciona (que C de<br />

natureza inteiramente particular) nfo ape-<br />

nas nio nos prejudica, mas ate nos recu-<br />

pera.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!