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História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

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desse paradoxo se manifesta de forma extre-<br />

mamente clara. A morte representa um epi-<br />

sodio que ontologicamente se refere exclusi-<br />

vamente ao corpo. Ela niio apenas niio causa<br />

<strong>da</strong>no a alma, mas, ao contririo, lhe traz gran-<br />

de beneficio, permitindo-lhe viver uma vi<strong>da</strong><br />

mais ver<strong>da</strong>deira, vi<strong>da</strong> volta<strong>da</strong> para si mes-<br />

ma, sem obstaculos e vius, inteiramente uni-<br />

<strong>da</strong> ao inteligivel. Isso significa que a morte<br />

do corpo i abertura para a ver<strong>da</strong>deira vi<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> alma. 0 sentido do paradoxo, portanto,<br />

niio mu<strong>da</strong> com a inversiio de sua formula-<br />

$20. Pelo contrario, torna-se mais preciso: o<br />

filosofo e aquele que deseja a ver<strong>da</strong>deira vi<strong>da</strong><br />

(= morte do corpo) e a filosofia i treino para<br />

a vi<strong>da</strong> autintica, para a vi<strong>da</strong> na dimensiio<br />

exclusiva do espirito. A "fuga do corpo" com-<br />

porta o reencontro do espirito.<br />

2) 0 significado do segundo parado-<br />

xo, o <strong>da</strong> "fuga do mundo", tambCm C cla-<br />

ro. De resto, o proprio PlatSo, de forma to-<br />

talmente explicita, desven<strong>da</strong> esse significado<br />

ao nos explicar que fugir do mundo signifi-<br />

ca tornar-se virtuoso e assemelhar-se a Deus:<br />

"0 ma1 niio pode perecer, pois sempre exis-<br />

tiri algo oposto e contririo ao bem; niio<br />

pode igualmente habitar entre os deuses,<br />

mas deve necessariamente residir nesta ter-<br />

ra, junto de nossa natureza mortal. Eis a<br />

razSo pela qual devemos fazer de tudo para<br />

fugir o quanto antes <strong>da</strong>qui e ir 1i para cima.<br />

Esse fugir consiste em nos assemelharmos a<br />

Deus ate' onde seja possivel a um ser huma-<br />

no. Assemelbar-se a Deus e' adquirir justi~a<br />

e santi<strong>da</strong>de e, ao mesmo tempo, sabedoria."<br />

Como se vi, os dois paradoxos possu-<br />

em significado idintico: fugir do corpo sig-<br />

nifica fugir do ma1 do corpo mediante a<br />

virtude e o conhecimento; fugir do mundo<br />

significa fugir do ma1 que o mundo repre-<br />

senta, sempre realizando essa fuga pela vir-<br />

tude e pelo conhecimento; praticar a virtu-<br />

de e dedicar-se ao conhecimento significa<br />

tornar-se semelhante a Deus, o qual, como<br />

se afirma nas Leis, 6 "medi<strong>da</strong>" de to<strong>da</strong>s as<br />

coisas.<br />

fl\ p~rificaG&o <strong>da</strong> alma<br />

cowo conhecimento<br />

e a dialktica C O ~ O convel*s&o<br />

Socrates identificara a "cura <strong>da</strong> alma"<br />

com a suprema missiio moral do homem.<br />

Platiio insiste sobre esse man<strong>da</strong>mento so-<br />

Capit~10 sexto - Platzo e a Academia aot~ga 153<br />

cratico, mas acrescenta-lhe certo colorido<br />

mistico, esclarecendo que "cura <strong>da</strong> alma"<br />

significa "purificaqiio <strong>da</strong> alma". Essa puri-<br />

ficaqiio se realiza a medi<strong>da</strong> que a alma,<br />

ultrapassando os sentidos, conquista o mun-<br />

do do inteligivel e do espiritual, mergulhan-<br />

do nele como em algo que Ihe i conatural.<br />

Neste caso, de mod0 bastante diferente de<br />

como ocorre nas cerimhias de iniciaqiio<br />

do Orfismo, a purificaqiio coincide com o<br />

processo de elevaqiio ao conhecimento su-<br />

premo do inteligivel. E C precisamente so-<br />

bre esse valor de purificaqao atribuido a<br />

ciincia e ao conhecimento (valor parcial-<br />

mente descoberto j i pelos antigos Pitagori-<br />

cos, como vimos) que C necessirio refletir<br />

para compreender a novi<strong>da</strong>de do "misti-<br />

cismo" plathico. Esse misticismo niio con-<br />

siste na contemplaqiio estatica e alogica,<br />

mas no esforqo catirtico de busca e de as-<br />

censiio progressiva ao conhecimento. En-<br />

tiio C possivel compreender como o processo<br />

do conhecimento racional tambim repre-<br />

sente, para Platiio, um processo de "con-<br />

versiio" moral. Na ver<strong>da</strong>de, a medi<strong>da</strong> que<br />

o processo do conhecimento nos leva do<br />

sensivel para o supra-sensivel e nos trans-<br />

porta de um mundo para o outro, tambim<br />

nos conduz <strong>da</strong> falsa para a ver<strong>da</strong>deira di-<br />

mensiio do ser. Conseqiientemente, i "co-<br />

nhecendo" que a alma cura a si mesma,<br />

realiza a pr6pria purificaqiio, se converte<br />

e se eleva. E nisso reside a ver<strong>da</strong>deira vir-<br />

tude.<br />

Platiio exp6e essa tese nHo apenas no<br />

Fe'don, mas tambim nos livros centrais <strong>da</strong><br />

Republics: a dialktica representa libertaqiio<br />

dos cepos e cadeias do sensivel, C "conver-<br />

siio" do,devir ao ser, iniciaqiio ao Bern su-<br />

premo. E correto, portanto, o que escreveu<br />

a esse respeito W. Jaeger: "Ao se propor o<br />

problema, niio propriamente do fenBmeno<br />

'conversiio' como tal, mas <strong>da</strong> origem do con-<br />

ceito cristiio de conversiio, C forqoso reco-<br />

nhecer em Platiio aquele que por primeiro<br />

elaborou esse conceito."<br />

fl\ imortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> alma<br />

Para Socrates era suficiente compreen-<br />

der que a essincia do homem C sua alma<br />

(psyche?) para que se estabelecessem os fun-<br />

<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> nova moral. Por conseguinte,<br />

a seu ver, niio era necessirio estabelecer se a

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