História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A posiqiio de Pirro C mais complexa,<br />
como se vi em outro fragment0 de Timon,<br />
que pbs nos 16bios de Pirro estas palavras:<br />
"Ora, direi, como a mim parece ser<br />
uma palavra de ver<strong>da</strong>de, tendo um reto<br />
&none,<br />
que eterna C a natureza do divino e do bem,<br />
dos quais deriva para o homem a vi<strong>da</strong> mais<br />
igual. "<br />
As coisas, segundo nosso filosofo, resultam<br />
ser mera aparincia, niio mais em funqiio<br />
do pressuposto dualista <strong>da</strong> existincia<br />
de "coisas em si" e, como tais, inacessiveis<br />
e de um seu "puro aparecer a nds", e sim<br />
em funs50 <strong>da</strong> contraposiqiio com a "natureza<br />
do divino e do bem". Medido com o<br />
metro dessa "natureza do divino e do bem",<br />
tudo parece irreal para Pirro e, como tal, C<br />
"vivido" por ele tambCm praticamente.<br />
Se assim 6, niio podemos negar a existincia<br />
de um substrato quase religioso que<br />
inspira o Ceticismo pirroniano. 0 abismo que<br />
ele cava entre a unica "natureza do divino e<br />
do bem" e to<strong>da</strong>s as outras coisas implica uma<br />
visiio quase mistica <strong>da</strong>s coisas e uma valori-<br />
Za~50 <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que C de extremo rigor, precisamente<br />
porque niio concede is coisas do<br />
mundo nenhum significado autbnomo, porquanto<br />
concede reali<strong>da</strong>de ao divino e ao bem.<br />
Cicero jamais considerou Pirro como<br />
citico, e sim como moralista que professava<br />
uma doutrina extremista, segundo a qual<br />
a "virtude" era o unico "bern", em relaqiio<br />
ao qual tudo o mais niio merecia ser buscado.<br />
A ligaqiio precisa e sistemitica de Pirro<br />
com o ceticismo ocorre apenas com Enesidemo,<br />
do qual falaremos mais adiante.<br />
0 permanecev<br />
sew opinises e indiferentes<br />
Se as coisas siio "indiferentes", "sem<br />
medi<strong>da</strong>" e "indiscerniveis" e se, em conse-<br />
qiiincia, os sentidos e a raziio niio podem<br />
dizer nem o ver<strong>da</strong>deiro nem o falso, a unica<br />
atitude correta que o homem pode ter C a de<br />
niio <strong>da</strong>r nenhuma confianqa, nem aos senti-<br />
dos nem 2 razzo, mas permanecer "sem opi-<br />
niiio", ou seja, abster-se de $gar (o opinar C<br />
sempre um julgar) e, em conseqiiincia, per-<br />
manecer "sem nenhuma inclina@o" (niio se<br />
inclinar mais em direqiio a uma coisa do que<br />
Capitulo dCcimo segundo - B Ceticismo e o CcIetismo<br />
em direqiio a outra), e permanecer "sem agi-<br />
ta@o", ou seja, niio se deixar perturbar por<br />
algo, isto C, "permanecer indiferentes".<br />
Esta "abstenqiio de juizo" se expressa<br />
posteriormente com o termo epoch&, que C<br />
de derivaqiio estoica, mas exprime o mes-<br />
mo conceito.<br />
Muitas vezes, na Metaflszca, Arist6teles<br />
repisa o conceito de que quem nega o principio<br />
supremo do ser, para ser coerente com essa negaqiio,<br />
deveria calar e niio expressar absolutamente<br />
na<strong>da</strong>. E tal C precisamente a conclu-<br />
S ~ a O que Pirro chega, proclamando a "afasia".<br />
E a afasid comporta a ataraxia e a imperturbabili<strong>da</strong>de,<br />
ou seja, a ausEncia de perturba-<br />
$50, a quietude interior, "a vi<strong>da</strong> mais igual".<br />
Pirro foi famoso porter <strong>da</strong>do provas, em<br />
muitos casos, de tal aushcia de perturbaqiio<br />
e de total indiferenqa. Narra-se que duas<br />
vezes mostrou pouca imperturbabili<strong>da</strong>de. Numa<br />
delas, agitou-se pel0 ataque de um ciio<br />
enraivecido. A quem o reprovou por niio ter<br />
sabido mostrar e manter a imperturbabili<strong>da</strong>de,<br />
respondeu que "era dificil despojar<br />
completamente o homem".<br />
Nessa resposta, indubitavelmente, esti<br />
conti<strong>da</strong> a marca do filosofar pirroniano.<br />
Esse "despojar completamente o homem"<br />
niio tem como fim a anulaqiio total<br />
do homem, ou seja, o niio-ser absoluto, mas,<br />
ao contririo, coincide com a realizaqiio <strong>da</strong><br />
"natureza do divino e do bem, <strong>da</strong> qual deriva,<br />
para o homem, a vi<strong>da</strong> mais igual", ou<br />
seja, a realizaqiio <strong>da</strong>quela vi<strong>da</strong> que nao sente<br />
o peso <strong>da</strong>s coisas, as quais, em relaqiio