História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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pode dizer "a ver<strong>da</strong>de existe, eu C que niio a<br />
conheqo", mas so pode dizer: "niio sei se a<br />
ver<strong>da</strong>de existe; sou eu, em todo caso, quem<br />
n5o a conhece".<br />
Eis, entiio, a posiq5o de Filon, que<br />
Cicero faz sua: niio 6 necessiirio suprimir<br />
totalmente a ver<strong>da</strong>de, mas C necessiirio ad-<br />
mitir a distinqgo entre ver<strong>da</strong>deiro e falso;<br />
to<strong>da</strong>via, n5o temos um critCrio que nos leve<br />
a esta ver<strong>da</strong>de e, portanto, a certeza, mas<br />
temos somente aparhcias, que conduzem a<br />
probabili<strong>da</strong>de. N5o chegamos a percepq50<br />
certa <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de objetiva, mas nos avizinha-<br />
mos dela com a evidgncia do provavel.<br />
Nasce assim novo conceit0 de "provii-<br />
vel", que niio C mais o ir6nico-dialCtico, com<br />
o quai CarnCades refutava os Estoicos, por-<br />
que este vem carregado de vakncia decisi-<br />
vamente positiva, que deriva <strong>da</strong> admissiio<br />
<strong>da</strong> existtncia <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de.<br />
CarnCades nega as duas proposiq6es es-<br />
toicas: a) o ver<strong>da</strong>deiro existe, b) existe um<br />
critCrio para colher o ver<strong>da</strong>deiro; Filon nega<br />
somente a segun<strong>da</strong>. Mas a admissiio <strong>da</strong> pri-<br />
meira mu<strong>da</strong> o sentido <strong>da</strong> negaqio <strong>da</strong> segun-<br />
<strong>da</strong> e, principalmente, modifica a valcncia do<br />
"provivel" que, posto ao lado de uma ver-<br />
<strong>da</strong>de objetiva, torna-se de qualquer mod0<br />
seu reflex0 positive.<br />
Antioco, que foi discipulo de Filon<br />
(nasce por volta do inicio dos anos vinte do<br />
sic. I1 a.C. e morre depois de 69 a.C.), sepa-<br />
rou-se do Ceticismo carneadiano antes do<br />
mestre e, com suas criticas, induziu o mes-<br />
tre a mu<strong>da</strong>r de rota.<br />
To<strong>da</strong>via, enquanto Filon se limitava a<br />
afirmar a existhcia <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de objetiva sem<br />
ter a coragem de declari-la cognoscivel pel0<br />
homem e punha no lugar <strong>da</strong> certeza a pro-<br />
babili<strong>da</strong>de positiva, Antioco deu o grande<br />
passo, com o qua1 se encerra definitivamen-<br />
te a hist6ria <strong>da</strong> Academia cCtica, declarando<br />
a ver<strong>da</strong>de niio somente existente, mas tam-<br />
bCm cognoscivel, e substituindo a probabi-<br />
li<strong>da</strong>de pela certeza veritativa.<br />
Com base em tais afirmaqijes, ele po-<br />
dia muito bem se apresentar como o res-<br />
taurador do ver<strong>da</strong>deiro espirito <strong>da</strong> Aca-<br />
demia.<br />
Capitulo de'cimo segundo - O Ceticismo e 0 Ecletismo<br />
To<strong>da</strong>via, as aspiraqoes de Antioco niio<br />
corresponderam resultados efetivos. Na<br />
Academia de Antioco, de fato, niio C Plat50<br />
que renasce, mas sim um amontoado eclCtico<br />
de doutrinas ver<strong>da</strong>deiramente acCfalo, sem<br />
alma e privado de vi<strong>da</strong> aut6noma. Contu-<br />
do, ele estava convencido de que Platonismo<br />
e Aristotelismo eram filosofias identicas, que<br />
expressavam simplesmente os mesmos con-<br />
ceitos com nomes e linguagens diferentes.<br />
Contudo, o que C altamente indicativo,<br />
Antioco chegou at6 a declarar a propria fi-<br />
losofia dos Estoicos como substancialmen-<br />
te idhtica a plat6nico-aristotilica, diferin-<br />
do apenas na forma. E certas novi<strong>da</strong>des<br />
inegiveis dos Estoicos foram por ele consi-<br />
dera<strong>da</strong>s na<strong>da</strong> mais que melhoramentos,<br />
complementaq6es e aprofun<strong>da</strong>mentos de<br />
Platiio, a ponto de Cicero poder escrever:<br />
"Antioco, que era chamado de acad@mico,<br />
era, na ver<strong>da</strong>de, bastando mu<strong>da</strong>r pouquis-<br />
simas coisas, um ver<strong>da</strong>deiro Est6ico."<br />
Cicero nasceu em 106 a.C. e morreu<br />
em 43 a.C., assassinado pelos sol<strong>da</strong>dos de<br />
Ant6nio. As numerosas obras filosoficas<br />
que chegaram at6 nos foram escritas por ele<br />
no ultimo period0 <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. Em 64 a.C.,<br />
escreveu os Paradoxa Stoicorum; em 45 a.C.,<br />
os Academica, que nos chegaram s6 parcial-<br />
mente. De 45 a.C. C tambCm o De finibus<br />
bonorum et malorum. Em 44 a.C. foram<br />
publica<strong>da</strong>s as Tusculanae disputationes e<br />
o De natura deorum; ain<strong>da</strong> em 44 a.C. foi<br />
escrito o De officiis. A estas obras se agregam<br />
ain<strong>da</strong>: De fato, De divinatione, Cato maior<br />
de senectute e Laelius de amicitia, e tambCm<br />
as obras politicas De re publica e De legi-<br />
bus. Do De re publica chegaram-nos os pri-<br />
meiros dois livros incompletos, fragmen-<br />
tos do 111, do IV, do V e grande parte do<br />
livro VI, que ain<strong>da</strong> na antigui<strong>da</strong>de teve vi-<br />
<strong>da</strong> authoma, sob o titulo de Somnium<br />
Scipionis.<br />
Assim como Filon e Antioco foram os<br />
mais tipicos representantes do Ecletismo na<br />
GrCcia, Cicero foi o mais caracteristico re-<br />
presentante do Ecletismo em Roma. Diria-<br />
mos, com uma metafora moderna, que<br />
Antioco coloca-se claramente "a direita" de<br />
Filon, enquanto Cicero segue mais a linha<br />
de Filon. 0 primeiro elaborou um Ecletismo