História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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N5o menos importante deve ter sido<br />
a descoberta <strong>da</strong> incidencia determinante do<br />
numero nos fen6menos do universo: sio leis<br />
numiricas que determinam os anos, as es-<br />
taqoes, os meses, os dias, e assim por dian-<br />
te. Mais uma vez, s5o leis numkricas preci-<br />
sas que replam os tempos <strong>da</strong> incubaqio<br />
do feto nos animais, os ciclos do desenvol-<br />
vimento biologico e varios fen6menos <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>.<br />
E compreensivel que, impelidos pela<br />
euforia dessas descobertas, os Pitagoricos<br />
tenham sido levados a encontrar tambim<br />
correspondincias inexistentes entre o nu-<br />
mero e fen6menos de varios tipos. Para al-<br />
guns Pitagoricos, por exemplo, a justiqa,<br />
enquanto tem como caracteristica ser uma<br />
espkcie de contraparti<strong>da</strong> ou de eqiii<strong>da</strong>de,<br />
devia coincidir com o numero 4 ou com o<br />
numero 9 (ou seja, 2 x 2 ou 3 x 3, o qua-<br />
drado do primeiro numero par ou o qua-<br />
drado do primeiro numero impar); a inte-<br />
ligincia e a ciencia, enquanto tCm o carater<br />
de persistencia e imobili<strong>da</strong>de, deviam coin-<br />
cidir com o numero 1, ao passo que a opi-<br />
nizo mutivel, que oscila em direqoes opostas,<br />
devia coincidir com o numero 2, e assim por<br />
diante.<br />
De qualquer modo, 6 muito claro o pro-<br />
cesso pelo qua1 os Pitagoricos chegaram a<br />
p6r o numero como principio de to<strong>da</strong>s as<br />
coisas. Entretanto, o homem contempo-<br />
r2neo talvez tenha dificul<strong>da</strong>de para com-<br />
preender profun<strong>da</strong>mente o sentido dessa<br />
doutrina, caso n5o procure recuperar o sen-<br />
tido arcaico do "numero". Para nos o nu-<br />
mero i uma abstraq50 mental e, portanto,<br />
ente <strong>da</strong> raz5o; para o antigo mod0 de pen-<br />
sar (at6 Aristoteles), porCm, o numero era<br />
coisa real e at6 mesmo a mais real <strong>da</strong>s coi-<br />
sas - e precisamente enquanto tal 6 que<br />
veio a ser considerado o "principio" cons-<br />
titutivo <strong>da</strong>s coisas. Assim, para eles o nu-<br />
mero n5o era um aspect0 que nos mental-<br />
mente abstraimos <strong>da</strong>s coisas. mas sim a<br />
pr6pria reali<strong>da</strong>de, a physis <strong>da</strong>s proprias<br />
coisas.<br />
Os eleme~tos<br />
dos q~ais derivam os n~meros<br />
To<strong>da</strong>s as coisas derivam dos numeros.<br />
Entretanto, os numeros n5o sio o primum<br />
absoluto, mas eles mesmos derivam de ou-<br />
tros "elementos". Com efeito, os numeros<br />
siio uma quanti<strong>da</strong>de (indetermina<strong>da</strong>) que<br />
pouco a pouco se de-termina ou de-limita:<br />
2, 3, 4, 5, 6... ao infinito. Assim, dois elementos<br />
constituem o numero: um, indeterminado<br />
ou ilimitado; e outro, determinante<br />
ou limitante. Desse modo, o numero<br />
nasce "do acordo entre elementos limitantes<br />
e elementos ilimitados" e, por sua vez, gera<br />
to<strong>da</strong>s as outras coisas.<br />
To<strong>da</strong>via, justamente porque s5o gerados<br />
por um elemento indeterminado e um<br />
elemento determinante, os numeros manifestam<br />
certa prevaltncia de um ou outro<br />
desses dois elementos: nos numeros pares<br />
predomina o indeterminado (e, portanto, os<br />
numeros pares s5o menos perfeitos para os<br />
Pitagoricos), ao passo que nos impares prevalece<br />
o elemento limitante (e, por isso, sio<br />
mais perfeitos).<br />
Se nos, com efeito, representarmos<br />
um numero com pontos geometricamente<br />
dispostos (basta pensar no uso arcaico de<br />
utilizar pequenos seixos para indicar o numero<br />
e realizar operaqoes, de onde derivou<br />
a express50 "fazer c~lculos", bem<br />
como o termo "calcular", do latim "calculus",<br />
que quer dizer "pedrinha, pequeno<br />
seixo"), podemos notar que o numero par<br />
deixa um campo vazio para a flecha que<br />
passa pelo meio e nio encontra um limite,<br />
o que mostra seu defeito (de ser ilimitado),<br />
ao passo que os numeros impares,<br />
ao contrhrio, apresentam sempre uma<br />
uni<strong>da</strong>de a mais, que os de-limita e de-termina:<br />
2 4 6 - etc.<br />
- - em.<br />
ee.<br />
3 5 7<br />
l l<br />
h e em.<br />
-* etc.<br />
l<br />
-0<br />
me*<br />
Alim disso, os Pitagoricos considera-<br />
vam o numero impar como "masculine" e<br />
o par como "feminino".<br />
Por fim, consideravam os numeros pa-<br />
res como "retangulares" e os numeros im-<br />
pares como "quadrados". Com efeito, dis-<br />
pondo em torno do numero 1 as uni<strong>da</strong>des<br />
que constituem os numeros impares, obte-<br />
mos quadrados, ao passo que, dispondo<br />
de mod0 analogo as uni<strong>da</strong>des que consti-<br />
tuem os numeros pares, obtemos retingu-<br />
los, como demonstram as figuras seguintes,