12.05.2013 Views

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

abola evolutiva que vai de urna adesio ini-<br />

cia1 ao platonismo, prossegue com urna cri-<br />

tics sempre mais agu<strong>da</strong> ao platonismo e as<br />

idCias transcendentes, passa por urna posi-<br />

$50 metafisica centra<strong>da</strong> no interesse pelas<br />

formas imanentes a matiria e, por fim, che-<br />

ga a urna posiq20, sen20 de repudio, pelo<br />

menos de desinteresse pela metafisica e a um<br />

acentuado interesse pelas ciBnczas empiricas<br />

e pelos <strong>da</strong>dos constatados e classificados<br />

empiricamente.<br />

Essa evoluqiio seria visivel niio s6 pela<br />

comparaqio entre as obras "exotCricasn (es-<br />

critas no periodo em que Aristoteles foi mem-<br />

bro <strong>da</strong> Academia) e as obras "esotiricas"<br />

(constitui<strong>da</strong>s pelos cursos ministrados por<br />

Aristoteles fora <strong>da</strong> Academia), mas igual-<br />

mente a partir <strong>da</strong> simples analise destas ul-<br />

timas.<br />

Tambim estas obras teriam sido ela-<br />

bora<strong>da</strong>s em fases sucessivas, ja a partir do<br />

periodo que o filosofo passou em Assos. Elas<br />

teriam nascido de alguns nucleos origina-<br />

rios, fortemente plat6nicos, aos quais, pou-<br />

co a pouco, teriam sido agrega<strong>da</strong>s partes<br />

sempre novas, nas quais o Estagirita recolo-<br />

cava as questdes de pontos de vista origi-<br />

nais, sempre menos plat6nicos. Portanto,<br />

as obras de Aristoteles que hoje lemos te-<br />

riam nascido de sucessivas estratificaqdes,<br />

n2o apenas niio possuindo "uni<strong>da</strong>de litera-<br />

ria", mas niio tendo tampouco "homoge-<br />

nei<strong>da</strong>de filosofica e doutrinaria". Com efei-<br />

to, elas conteriam prospectos de problemas<br />

e soluqoes que remontam a momentos <strong>da</strong><br />

evoluqio do pensamento aristotClico n2o<br />

apenas distantes entre si no tempo, mas<br />

tambim no que se refere 21 inspiraqio teori-<br />

tica, estando, portanto, em contraste entre<br />

si e, por vezes, at6 mesmo em clara contra-<br />

diqio.<br />

Apos algumas dica<strong>da</strong>s de extraordi-<br />

nario sucesso, o mitodo historico-genCtico<br />

exauriu-se depois de meio stculo, porque,<br />

ao passar pouco a pouco pelas mios de di-<br />

versos estudiosos, nao apenas apresentou<br />

resultados diferentes dos alcanqados por<br />

Jaeger, mas at6 mesmo contraries aos dele.<br />

Mas, com tal mitodo alcanqou-se bom ni-<br />

vel de conhecimento <strong>da</strong>s particulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

filosofia de Aristoteles (foram tenta<strong>da</strong>s vi-<br />

rias reconstruqdes <strong>da</strong>s obras exotiricas) e<br />

emergiu to<strong>da</strong> urna sCrie de tanghcias e re-<br />

laqdes dos escritos esotiricos com as "dou-<br />

trinas n2o escritas" de Plat20 e com as dou-<br />

trinas <strong>da</strong> Academia. Aristoteles deixou de<br />

ser aquele bloco monolitico assim conside-<br />

Capitdo setimo - j\rlst6teles e o Peripto<br />

191<br />

rado anteriormente, revelando precisas rai-<br />

zes .historicas antes nao considera<strong>da</strong>s ou ma1<br />

conheci<strong>da</strong>s. Em suma, manifestou aquilo<br />

que deve a sua ipoca e aos seus antecessores.<br />

Entretanto, ja ha algum tempo os estudio-<br />

sos nao acreditam mais na possibili<strong>da</strong>de de<br />

reconstruir "parabolas evolutivas" como a<br />

proposta por Jaeger. Li<strong>da</strong>s sem prevenqGes,<br />

as obras de Aristoteles (mesmo priva<strong>da</strong>s de<br />

"uni<strong>da</strong>de literaria", visto serem cursos e<br />

anotaqdes) revelam uni<strong>da</strong>de filosofica de<br />

fundo (embora nio se encontre nos parti-<br />

culares e mostre amplas margens de proble-<br />

matici<strong>da</strong>de). E foi justamente isso que, em<br />

ultima analise, interessou o Ocidente e ain-<br />

<strong>da</strong> interessa a todos os que se propdem in-<br />

terrogaqdes filos6ficas.<br />

CJ reIacionamento<br />

entre Plat60 e Aristbteles<br />

Nio se pode compreender Aristoteles<br />

sen20 comeqando por estabelecer qua1 foi<br />

sua posiqio em relaqio a Platio. Indo-se<br />

ao nucleo estritamente teoritico, encontra-<br />

remos algumas concordfncias de fundo sig-<br />

nificativas, muito freqiientemente ma1 inter-<br />

preta<strong>da</strong>s nas Cpocas posteriores, interessa<strong>da</strong>s<br />

em contrapor os dois filosofos, deles fazen-<br />

do simbolos opostos. Mas Diogenes Lair-<br />

cio, ain<strong>da</strong> na antigui<strong>da</strong>de, escrevia: "Aristo-<br />

teles foi o mais genuino dos discipulos de<br />

Platio." Uma avaliaqio exata, se entender-<br />

mos os termos no seu justo sentido: "disci-<br />

pulo genuino" de um grande mestre nio C<br />

certamente aquele que fica repetindo o mes-<br />

tre, e sim aquele que, partindo <strong>da</strong>s teorias<br />

do mestre, procura supera-las indo alim do<br />

mestre, mas no espirito do mestre, como<br />

veremos.<br />

As grandes diferenqas entre os dois fi-<br />

16sofos nio estio no dominio <strong>da</strong> filosofia,<br />

mas sim na esfera de outros interesses. Nas<br />

obras esotkicas, Aristoteles deixou de lado<br />

o componente mistico-religioso-escatol6gico<br />

que era tao forte nos escritos do mestre.<br />

Mas, como ja vimos, trata-se <strong>da</strong>quele com-<br />

ponente plathico que tem suas raizes na<br />

religiio orfica, alimentando-se mais de fC e<br />

crenqa do que de logos. Ao deixar esse com-<br />

ponente de lado nos escritos esotiricos (ain-<br />

<strong>da</strong> esta presente nos exotiricos), Aristoteles<br />

sem duvi<strong>da</strong> pretendeu proceder a urna rigori-<br />

zaqio do discurso filos6fico.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!