História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Capitulo de'cimo quarto - 0 Nee-estoicismo: Ssneca, Epicteto e IV\arco FurClio<br />
IV. Marco $brkIio<br />
Marco Aurelio (121-180 d.C.) escreveu as Recor<strong>da</strong>qjes (ou Solildquios), uma<br />
colethea de reflexijes cuja nota predominante e o sentido <strong>da</strong> caduci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />
coisas. 0 resgate desta condi@o se tem, no plano ontologico,<br />
na concepr;%o do Uno-Tudo que <strong>da</strong> significado a to<strong>da</strong>s as coi- A "nuli<strong>da</strong>de"<br />
sas; no plano moral e, ao inves, o sentido do dever que <strong>da</strong> valor <strong>da</strong>s coim<br />
moral ao viver. +§ I<br />
As novi<strong>da</strong>des mais conspicuas introduzi<strong>da</strong>s por Marco Aur6lio na doutrina<br />
<strong>da</strong> Escola se referem a antropologia: o homem e compost0 de corpo, alma - que<br />
e sopro ou pneuma - e de intelecto ou mente (ou nous), que 6<br />
superior a alma. A antropologia<br />
Do ponto de vista moral, o intelecto esta acima de todo -+ 3 2<br />
evento: na<strong>da</strong> o pode atingir, a n%o ser o julgamento que ele<br />
proprio formula sobre as coisas. 0 ver<strong>da</strong>deiro ma1 para o homem estd nas falsas<br />
opinities. Com efeito, n%o s%o as coisas que fazem ma1 ao homem, mas seus julgamentos<br />
errados sobre as prdprias coisas.<br />
f\ "n~li<strong>da</strong>de" <strong>da</strong>s coiscls<br />
Marco AurClio nasceu em 121 d.C. Su-<br />
biu ao trono aos quarenta, em 161, e mor-<br />
reu em 180 d.C. Sua obra filos6fica, redigi<strong>da</strong><br />
em grego, intitula-se Recor<strong>da</strong>goes (ou Soli-<br />
ldquios) sendo constitui<strong>da</strong> por uma strie de<br />
maximas, sentenGas e reflex6es (de "frag-<br />
mentos", como diriamos hoje), escritas at6<br />
mesmo durante suas duras campanhas mi-<br />
litares (e que nio tinham por objetivo a pu-<br />
blicagio).<br />
Uma <strong>da</strong>s caracteristicas do pensamen-<br />
to de Marco Aurtlio, a que mais impressio-<br />
na os leitores de Recor<strong>da</strong>goes, t a insistincia<br />
com que ele tematiza e reafirma a caduci<strong>da</strong>-<br />
de <strong>da</strong>s coisas, sua passagem inexoravel, sua<br />
monotonia, insignificfncia e substancial<br />
nuli<strong>da</strong>de.<br />
Esse sentimento <strong>da</strong>s coisas jii se encon-<br />
tra decidi<strong>da</strong>mente distante do sentimento<br />
grego, nio apenas <strong>da</strong> Cpoca classics, mas<br />
tambCm do primeiro helenismo. 0 mundo<br />
antigo est5 se dissolvendo e o cristianismo co-<br />
mega inexoravelmente a conquistar os espi-<br />
ritos. Encontra-se em an<strong>da</strong>mento a maior<br />
revolugio espiritual, que comega a esvaziar<br />
to<strong>da</strong>s as coisas de seu antigo significado. E<br />
6 essa reviravolta, precisamente, que di ao<br />
homem o sentido <strong>da</strong> nuli<strong>da</strong>de de tudo.<br />
Marco AurClio, porCm, est6 profun<strong>da</strong>-<br />
mente convencido de que o antigo verbo es-<br />
331<br />
toico continua em condig6es de mostrar que<br />
as coisas e a vi<strong>da</strong>, para altm de sua aparen-<br />
te nuli<strong>da</strong>de, tCm sentido preciso.<br />
a) No plano ontol6gico e cosmol6gic0,<br />
C a visio panteista do Uno-todo, fonte e es-<br />
tuirio de tudo, que resgata as existincias<br />
individuais <strong>da</strong> falta de sentido e <strong>da</strong> vai<strong>da</strong>de.<br />
6) No plano Ctico e antropol6gic0, C<br />
o dever moral que d5 sentido ao viver. E,<br />
nesse plano, Marco AurClio acaba, em mais<br />
de um ponto, por refinar alguns conceitos<br />
<strong>da</strong> Ctica est6ica a ponto de leva-10s a tocar<br />
conceitos evangilicos, embora em bases di-<br />
ferentes. Aliis, Marco AurClio nio hesita em<br />
infringir expressamente a ortodoxia est6i-<br />
ca, sobretudo quando procura fun<strong>da</strong>men-<br />
tar a distingio entre o homem e as outras<br />
coisas, e a tangincia do homem com os<br />
deuses.<br />
Como sabemos, a Esto6 distinguira o<br />
corpo <strong>da</strong> alma no homem, <strong>da</strong>ndo clara proe-<br />
minCncia h alma. Entretanto, essa distingio<br />
nunca chegou a ser radical, porque a alma<br />
continuava como ente material, um sopro<br />
quente, ou seja, pneuma, permanecendo por-<br />
tanto com a mesma natureza ontologica do<br />
corpo.