História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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conhecer as formas puras; por seu turno, as<br />
formas estiio conti<strong>da</strong>s em pottncia nas sen-<br />
saqoes e nas imagens <strong>da</strong> fantasia; C necessa-<br />
rio, portanto, algo que traduza em ato essa<br />
dupla potenciali<strong>da</strong>de, de mod0 que o pensa-<br />
rnento se concretize captando a forma em<br />
ato, e a forma conti<strong>da</strong> na imagem torne-se<br />
conceito captado e possuido em ato. Desse<br />
modo, surgiu aquela distinqiio que se tor-<br />
nou fonte de inumeraveis problemas e dis-<br />
cussijes, tanto na Antigui<strong>da</strong>de como na I<strong>da</strong>-<br />
de MCdia, entre "intelecto potencial" e<br />
"intelecto atual", ou, para usar a termino-<br />
logia que se tornarh tCcnica (mas que so est4<br />
presente potencialmente em Aristoteles), en-<br />
tre intelecto possivel e intelecto ativo. Leia-<br />
mos a pagina que contCm essa distinqiio,<br />
porque ela permaneceri durante sCculos<br />
como constante ponto de referincia: "Como<br />
em to<strong>da</strong> a natureza hi algo que C matiria e<br />
que C proprio a ca<strong>da</strong> gtnero de coisas (e isso<br />
C aquilo que, em potkncia, C to<strong>da</strong>s aquelas<br />
coisas) e algo distinto que C causa eficiente,<br />
enquanto as produz a to<strong>da</strong>s, como faz, por<br />
exemplo, a arte corn a matiria, C necessirio<br />
que tambCm na alma existam essas diferen-<br />
ciaqoes. Assim, ha um intelecto potencial,<br />
enquanto se torna to<strong>da</strong>s as coisas, e ha um<br />
intelecto agente, enquanto as produz a to-<br />
<strong>da</strong>s, que C como um estado semelhante i<br />
luz: com efeito, em certo sentido, tambCm a<br />
luz torna as cores em potincia cores em ato.<br />
E esse intelecto C separado, impassivel, niio<br />
misturado e intact0 por sua esstncia: efeti-<br />
vamente, o agente C sempre superior ao pa-<br />
ciente e o principio C superior i matiria (. . .).<br />
Separado (<strong>da</strong> matiria), ele C somente aquilo<br />
que precisamente 6, e somente ele C imortal<br />
e eterno (...)."<br />
Aristoteles, portanto, diz expressamen-<br />
te que esse intelecto ativo esti "na alma".<br />
Portanto, caem por terra as interpretaqaes<br />
defendi<strong>da</strong>s desde os mais antigos intCrpre-<br />
tes de seu pensamento, no sentido de que o<br />
intelecto agente i Deus (ou, de qualquer for-<br />
ma, um Intelecto divino separado). E ver-<br />
<strong>da</strong>de que Aristoteles afirma que "o intelec-<br />
to vem de fora e somente ele i divino", ao<br />
passo que as facul<strong>da</strong>des inferiores <strong>da</strong> alma<br />
ji existem em pottncia no germe masculino<br />
e, atravCs dele, passam para o novo organis-<br />
mo que se forma no seio materno. Mas tarn-<br />
bCm C ver<strong>da</strong>de que, mesmo vindo "de fora",<br />
ele permanece "na alma" durante to<strong>da</strong> a<br />
vi<strong>da</strong> do homem. A afirmaqiio de que o inte-<br />
lecto "vem de fora" significa que ele i irre-<br />
dutivel ao corpo por sua natureza intrinse-<br />
ca e que, portanto, C transcendente ao<br />
sensivel. Significa que hi em nos urna di-<br />
mensiio metaempirica, suprafisica e espiri-<br />
tual. E isso C o divino em nos.<br />
Mas, embora niio sendo Deus, o inte-<br />
lecto agente reflete as caracteristicas do di-<br />
vino, sobretudo a sua absoluta impassibi-<br />
li<strong>da</strong>de.<br />
Na Metafisica, depois de adquirido o<br />
conceito de Deus corn as caracteristicas que<br />
vimos, Aristoteles niio conseguiu resolver as<br />
numerosas aporias que essa aquisiqiio com-<br />
portava. Assim, tambCm dessa vez, adqui-<br />
rid0 o conceito do espiritual que esta em<br />
nos, ele niio conseguiu resolver as inumeras<br />
aporias que <strong>da</strong>i derivam. Esse intelecto C<br />
individual? Como pode vir "de fora"? Que<br />
relaqiio tem corn nossa individuali<strong>da</strong>de e<br />
nosso eu? E que relaqiio tem com nosso<br />
comportamento moral? Esti completamen-<br />
te subtraido a qualquer destino escatol6-<br />
gico? E que sentido tem o seu sobreviver ao<br />
corpo?<br />
Algumas dessas interrogaqoes niio fo-<br />
ram sequer propostas por Aristoteles. Con-<br />
tudo, estariam destina<strong>da</strong>s a ficar estrutural-<br />
mente sem resposta: para serem propostas<br />
na ordem-do-dia e, sobretudo, para serem<br />
adequa<strong>da</strong>mente resolvi<strong>da</strong>s, essas quest6es<br />
teriam exigido a aquisiqiio do conceito de<br />
criaqio, o qual, como sabernos, C estranho<br />
niio apenas a Aristoteles, mas tambCm a to-<br />
do o mundo grego.