História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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214 Quinta parte - Aristbteles<br />
E esse principio C precisamente a alma sensitiva.<br />
A primeira fungiio <strong>da</strong> alma sensitiva C<br />
a sensagio, que, em certo sentido, C a mais<br />
importante e certamente a mais caracteristica<br />
dentre as fungoes acima distintas. 0s antecessores explicaram a sensagiio como<br />
transformagiio, paixiio ou alteragao que o<br />
semelhante sofre por obra do semelhante<br />
(pode-se ver, por exemplo, EmpCdocles e<br />
Democrito), outros como agio que o semelhante<br />
sofre por obra do dessemelhante.<br />
Aristoteles parte dessas tentativas, mas vai<br />
bem mais alCm. Mais uma vez, busca a chave<br />
para interpretar a sensaqiio na doutrina<br />
metafisica <strong>da</strong> pottncia e do ato. Temos facul<strong>da</strong>des<br />
sensitivas que nio estio em ato,<br />
mas sim em potincia, isto C, capazes de receber<br />
sensagoes. Elas sio como o combustivel,<br />
que so queima em contato corn o comburente.<br />
Assim, a facul<strong>da</strong>de sensitiva, de simples<br />
capaci<strong>da</strong>de de sentir, torna-se sentir em ato<br />
quando em contato com o objeto sensivel.<br />
Aristoteles explica mais precisamente: "A<br />
facul<strong>da</strong>de sensitiva C em potencia aquilo que<br />
o sensivel ja C em ato (...). Assim, ela sofre<br />
a agio enquanto nio 6 semelhante; mas, depois<br />
de sofrt-la, torna-se semelhante e C como<br />
o sensivel."<br />
Pode-se perguntar: mas o que significa<br />
dizer que a sensagio C tornar-se semelhante<br />
ao sensivel? Nio se trata, evidentemente, de<br />
um process0 de assimilagiio do tipo <strong>da</strong>quele<br />
que ocorre na nutrigio. Com efeito, na<br />
assimilaqio que se <strong>da</strong> na nutrigiio assimilase<br />
tambim a mattria, ao passo que na sensagiio<br />
e' assimila<strong>da</strong> apenas a forma.<br />
0 Estagirita examina entio os cinco<br />
sentidos e os sensiveis que S ~ proprios O de<br />
ca<strong>da</strong> um desses sentidos. Quando urn sentido<br />
capta o sensivel proprio, entiio a respectiva<br />
sensagio C infalivel. AlCm dos "sensiveis<br />
pr6priosn ha tambCm os "sensiveis comuns",<br />
corno, por exemplo, o movimento, a quietude,<br />
a figura, a grandeza, que niio sio perceptiveis<br />
por nenhum dos cinco sentidos em<br />
particular, mas podem ser percebidos por<br />
todos. Assim, pode-se falar de um "sentido<br />
comum", que C como sentido niio especifico<br />
ou, melhor ain<strong>da</strong>, que 6 o sentido que<br />
atua de maneira nio especifica ao captar os<br />
sensiveis comuns. Ademais, indubitavelmente,<br />
tambCm se pode falar de sentido comum<br />
a proposito do "sentir de sentir" ou do "perceber<br />
de perceber". Quando o sentido atua<br />
de mod0 especifico, pode cair facilmente em<br />
erro.<br />
Da sensagiio derivam a fantasia, que C<br />
produgao de imagens, a memoria, que C a<br />
sua conservagiio, e, por fim, a experitncia,<br />
que nasce <strong>da</strong> acumulagiio de fatos rnnem6-<br />
nicos.<br />
As outras duas fungoes <strong>da</strong> alma sensi-<br />
tiva menciona<strong>da</strong>s inicialmente siio o apetite<br />
e o movimento. 0 apetite nasce em conse-<br />
qiiencia <strong>da</strong> sensagio: "Todos os animais tern<br />
pelo menos um sentido, ou seja, o tato. Mas<br />
quem tem a sensagio sente prazer e dor,<br />
agra<strong>da</strong>vel e doloroso. E quem os experimen-<br />
ta tambtm tem desejo: com efeito, o desejo<br />
C apetite do agra<strong>da</strong>vel."<br />
Por fim, o movimento dos seres vivos<br />
deriva do desejo: "0 motor C unico: a fa-<br />
cul<strong>da</strong>de <strong>da</strong> apettncia", mais precisamente<br />
o "desejo", que C "uma espCcie de apetite".<br />
E o desejo i posto em movimento pel0 ob-<br />
jet0 desejado, que o animal capta atravis<br />
de sensagoes ou do qual, de qualquer for-<br />
ma, tem representaqiio sensivel. Assim, o<br />
apetite e o movimento dependem estreita-<br />
mente <strong>da</strong> sensaqio.<br />
Da mesma forma que a sensibili<strong>da</strong>de<br />
niio C redutivel A simples vi<strong>da</strong> vegetativa e<br />
ao principio <strong>da</strong> nutriggo, mas contCm um<br />
plus que nio pode ser explicado sen50 introduzindo-se<br />
o principio ulterior <strong>da</strong> alma<br />
sensitiva, assim tambCm o pensamento e as<br />
operaqoes a ele liga<strong>da</strong>s, como a escolha ra-<br />
cional, S ~ O<br />
irredutiveis a vi<strong>da</strong> sensitiva e i<br />
sensibili<strong>da</strong>de, pois contern um plus que s6<br />
pode ser explicado introduzindo-se outro<br />
principio: a alma racional. E dela que agora<br />
falaremos.<br />
0 ato intelectivo C analog0 ao ato per-<br />
ceptivo, porque C um receber ou assimilar<br />
as "formas inteligiveis", <strong>da</strong> mesma forma<br />
que o ato perceptivo 6 um assimilar as "for-<br />
mas sensiveis", mas difere profun<strong>da</strong>mente<br />
dele, visto que niio se mistura ao corpo e ao<br />
corp6reo: "0 orgiio dos sentidos nio sub-<br />
siste sem o corpo, enquanto a inteliggncia<br />
subsiste por pr6pria conta."<br />
Assim como o conhecimento percep-<br />
tivo, Aristoteles tambCm explica o conheci-<br />
mento intelectivo em fungso <strong>da</strong>s categorias<br />
metafisicas de potBncia e ato. Por si mesma,<br />
a inteligencia C capaci<strong>da</strong>de e potgncia de