História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Sexta parte - 14s escolas filosbficas <strong>da</strong> era helenistica<br />
Pirro nasceu em ~li<strong>da</strong> entre 365 e 360<br />
a.C. Juntamente com Anaxarco de Abdera,<br />
um fil6sofo seguidor do Atomismo, participou<br />
<strong>da</strong> expediqio de Alexandre ao Oriente<br />
(334-323 a.C.), um acontecimento que deveria<br />
incidir profun<strong>da</strong>mente em seu espirito,<br />
demonstrando-lhe como podia ser imprevistamente<br />
destruido tudo o que at6 entio era<br />
considerado indestrutivel e como diversas<br />
convicqdes arraiga<strong>da</strong>s dos gregos eram infun<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />
No Oriente, Pirro encontrpu os<br />
Gimnosofistas, espCcie de sibios <strong>da</strong> India,<br />
com os quais aprendeu que tudo C vai<strong>da</strong>de<br />
(um destes Gimnosofistas, chamado Calano,<br />
matou-se voluntariamente, jogando-se entre<br />
as chamas e suportando impassive1 os espasmos<br />
<strong>da</strong>s queimaduras). Por volta de 324-<br />
323 a.C., Pirro retornou a Eli<strong>da</strong>, onde viveu<br />
e ensinou, sem na<strong>da</strong> escrever. Morreu entre<br />
275 e 270 a.C.<br />
Pirro nio fundou uma Escola propriamente<br />
dita. Seus discipulos ligaram-se a ele<br />
fora dos esquemas tradicionais. Mais do que<br />
ver<strong>da</strong>deiros discipulos, eram apreciadores,<br />
admiradores e imitadores, homens que buscavam<br />
no mestre sobretudo um novo model~<br />
de vi<strong>da</strong>, um paradigma existencial ao<br />
qual se referir constantemente, uma prova<br />
segura de que, apesar dos tragicos eventos<br />
que convulsionavam os tempos e malgrado<br />
o desmoronamento do antigo quadro de<br />
valores Ctico-politicos, a felici<strong>da</strong>de e a paz<br />
de espirito ain<strong>da</strong> podiam ser alcanqa<strong>da</strong>s,<br />
quando se considerava at6 mesmo impossivel<br />
construir e propor novo quadro de valores.<br />
0s fun<strong>da</strong>mentos<br />
<strong>da</strong> mensagem de Pirro<br />
Nisso consiste a novi<strong>da</strong>de que distin-<br />
gue a mensagem de Pirro, niio apenas, obvia-<br />
mente, <strong>da</strong> dos fil6sofos anteriores, que bus-<br />
cavam a solugio de outros problemas, mas<br />
tambCm <strong>da</strong> dos fil6sofos de sua Cpoca, dos<br />
fun<strong>da</strong>dores do Jardim e do P6rtic0, que bus-<br />
cavam a solugio do mesmo problema de<br />
fundo, ou seja, o problema <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: consis-<br />
te, precisamente, na convicqio de que C pos-<br />
sivel viver "com arte" uma vi<strong>da</strong> feliz, ain<strong>da</strong><br />
que sem a ver<strong>da</strong>de e sem os valores, ao me-<br />
nos como eles foram concebidos e venera-<br />
dos no passado.<br />
Como Pirro chegou a essa convicqio,<br />
tio atipica em relaqio ao racionalismo ca-<br />
racteristico dos gregos? E como p6de dedu-<br />
zir uma "regra de vi<strong>da</strong>" e construir uma<br />
"sabedoria", renunciando ao ser e a ver<strong>da</strong>-<br />
de e declarando que to<strong>da</strong>s as coisas sio apa-<br />
rincias vis?<br />
A resposta de Pirro esta conti<strong>da</strong> num<br />
testemunho precioso do peripatktico Aris-<br />
tocles, que o extraiu <strong>da</strong>s obras de Timon,<br />
discipulo imediato de Pirro: "Pirro de Eli<strong>da</strong><br />
(...) nio deixou na<strong>da</strong> escrito, mas seu dis-<br />
cipulo Timon afirma que aquele que quer<br />
ser feliz deve atentar para estas tris coisas:<br />
1) em primeiro lugar, como siio as coisas,<br />
por natureza; 2) em segundo lugar, qual<br />
deve ser nossa disposiqio em relaqio a elas;<br />
3) finalmente, o que nos ocorrera, se nos<br />
comportarmos assim. Timon diz que Pirro<br />
mostra que as coisas: 1) sio igualmente sem<br />
diferenqa, sem estabili<strong>da</strong>de, indiscrimina<strong>da</strong>s;<br />
logo, nem nossas sensag6es nem nossas opi-<br />
nides sio ver<strong>da</strong>deiras ou falsas; 2) niio C pois<br />
necessario ter fC nelas, mas sim permanecer<br />
sem opiniGes, sem inclinaqdes, sem agita-<br />
qio, dizendo a respeito de tudo: '6 nio mais<br />
do que nio C', '6 e niio C', ou hem C, nem<br />
nio 6'; 3) aos que se encontrarem nessa<br />
disposiqio, Timon diz que em primeiro lu-<br />
gar viri a apatia, depois a imperturbabili-<br />
<strong>da</strong>de."<br />
To<strong>da</strong>s as coisas<br />
s ~ sem o diferenp<br />
Dos tris pilares do Pirronismo, fixados<br />
na passagem li<strong>da</strong> acima, o mais importante<br />
C o primeiro.<br />
Segundo Pirro as prdprias coisas sdo,<br />
em si e por si, indiferencia<strong>da</strong>s, sern medi<strong>da</strong><br />
e indiscrimina<strong>da</strong>s, e justamente "em conseqiiincia<br />
disso" sentidos e opini6es nio podem<br />
nem dizer o ver<strong>da</strong>deiro nem dizer o<br />
falso. Em outras palavras, siio as coisas que,<br />
sendo feitas assim, tornam os sentidos e a<br />
razHo incapazes de ver<strong>da</strong>de e de falsi<strong>da</strong>de.<br />
Pirro, portanto, negou o ser e os principios<br />
do ser, e resolveu tudo na "aparincia".<br />
Esse "fen6meno" ("apar@ncia"), como<br />
podemos ver, transformou-se, nos CCticos<br />
posteriores, no fen6meno entendido como<br />
aparincia de algo que est5 alCm do aparecer<br />
(ou seja, de uma "coisa em si"). Dessa<br />
transformagio foram extrai<strong>da</strong>s numerosas<br />
dedug6es que, na ver<strong>da</strong>de, nio parecem estar<br />
presentes em Pirro.