História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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- Primeira parte - S\s origens gregas do pensamento ocidental<br />
religiiio publica, que tem o seu modelo na<br />
representa~so dos deuses e do culto que<br />
nos foi <strong>da</strong><strong>da</strong> por Homero, e a religiiio dos<br />
miste'rios. Ha inumeros elementos comuns<br />
entre essas duas formas de religiosi<strong>da</strong>de<br />
(como, por exemplo, a concepqio de base<br />
politeista), mas tambCm importantes diferenGas<br />
que, em alguns pontos de destaque<br />
(como, por exemplo, na concepqio do homem,<br />
do sentido de sua vi<strong>da</strong> e de seu destino<br />
ultimo), tornam-se at6 ver<strong>da</strong>deiras antiteses.<br />
Ambas as formas de religiio sio muito<br />
importantes para explicar o nascimento<br />
<strong>da</strong> filosofia, mas - ao menos em alguns<br />
aspectos - sobretudo a segun<strong>da</strong>.<br />
AISuns tra~os essenciais<br />
<strong>da</strong> religi&o phLlica<br />
Para Homero e para Hesiodo, que<br />
constituem o ponto de referencia <strong>da</strong>s cren-<br />
qas proprias <strong>da</strong> religiio publica, pode-se di-<br />
zer que tudo e' divino, pois tudo o que acon-<br />
tece 6 explicado em funqio de intervenqdes<br />
dos deuses. 0 s fen6menos naturais sio pro-<br />
movidos por numes: raios e reliimpagos siio<br />
arremessados por Zeus do alto do Olimpo,<br />
as on<strong>da</strong>s do mar sio provoca<strong>da</strong>s pelo tri-<br />
dente de Poseidon, o sol C levado pel0 Au-<br />
Euridice e Orfeu, sQc. I V a. C.<br />
(Napoles, Museu Arqueologico Nacional).<br />
reo carro de Apolo, e assim por diante. Mas<br />
tambCm a vi<strong>da</strong> social dos homens, a sorte<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, as guerras e a paz sio imagi-<br />
na<strong>da</strong>s como vincula<strong>da</strong>s aos deuses de mod0<br />
nio acidental e, por vezes, at6 de mod0 es-<br />
sencial.<br />
To<strong>da</strong>via, quem sio esses deuses? Como<br />
os estudiosos de ha muito reconheceram e<br />
evidenciaram, esses deuses s50 forqas na-<br />
turais personifica<strong>da</strong>s em formas humanas<br />
idealiza<strong>da</strong>s, ou entio siio forqas e aspectos<br />
do homem sublimados e fixados em esplzn-<br />
di<strong>da</strong>s figuras antropomorficas. (AlCm dos<br />
exemplos ja apresentados, recordemos que<br />
Zeus C a personificaqio <strong>da</strong> justiqa; Atena, <strong>da</strong><br />
inteligencia; Afrodite, do amor, e assim por<br />
diante.)<br />
Esses deuses sio, pois, homens ampli-<br />
ficados e idealizados, e, portanto, diferen-<br />
tes do homem comum apqnas por quanti-<br />
dude e niio por quali<strong>da</strong>de. E por isso que os<br />
estudiosos classificam a religiio publica dos<br />
gregos como uma forma de "naturalismo",<br />
uma vez que ela pede ao homem nio pro-<br />
priamente que ele mude sua natureza, ou<br />
seja, que se eleve acima de si mesmo; ao<br />
contrario, pede que siga sua propria natu-<br />
reza. Fazer em honra dos deuses o que esta<br />
em conformi<strong>da</strong>de com a propria natureza C<br />
tudo o que se pede ao homem. E, <strong>da</strong> mesma<br />
forma que a religiio publica grega foi "na-<br />
turalista", tambim a primeira filosofia gre-<br />
ga foi "naturalista". A referencia a "natu-<br />
reza" continuou sendo uma constante do<br />
pensamento grego ao longo de todo o seu<br />
desenvolvimento hist6rico.<br />
0 0rfismo<br />
e suas crenqxs essenciais<br />
Contudo, nem todos os gregos consi-<br />
deravam suficiente a religiio publica e, por<br />
isso, em circulos restritos, desenvolveram-<br />
se os "mistCrios", com as proprias crenqas<br />
especificas (embora inseri<strong>da</strong>s no quadro ge-<br />
ral do politeismo) e com as proprias pr6ti-<br />
cas. Entre os mistkrios, porCm, os que mais<br />
influiram na filosofia grega foram os mi&-<br />
rios orficos, e destes devemos dizer breve-<br />
mente algumas coisas. ,<br />
0 Orfismo e os Orficos derivam seu<br />
nome do poeta tracio Orfeu, seu suposto<br />
fun<strong>da</strong>dor, cujos traqos hist6ricos siio intei-<br />
ramente cobertos pela nCvoa do mito.<br />
0 Orfismo C particularmente impor-<br />
tante porque, como os estudiosos modernos