História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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A vi<strong>da</strong>, as obras<br />
e a &cola de Plotino<br />
Plotino passou a pertencer ao circulo<br />
de AmBnio em 232 d.C. (com vinte e oito<br />
anos, tendo nascido em 205 d.C., em Lic6polis),<br />
permanecendo at6 243 d.C., ano em<br />
que deixou Alexandria para seguir o imperador<br />
Gordiano em sua ex~edicio oriental.<br />
Fracassa<strong>da</strong> a expediqio, devid; i morte do<br />
imperador, Plotino decidiu ir para Roma,<br />
onde chegou em 244 d.C., 15 abrindo uma<br />
Escola. Entre 244 e 253 d.C., apenas proferiu<br />
palestras, sem na<strong>da</strong> escrever, por fideli<strong>da</strong>de<br />
a um pacto que estreitara com Ercnio<br />
e Origenes, o Pagiio, no sentido de niio divulgar<br />
as doutrinas de AmBnio. Mas logo<br />
Ertnio e Origenes romperam o pacto. Assim,<br />
a partir de 254 d.C., Plotino tambim<br />
comeqou a escrever tratados, nos quais fixava<br />
seus ensinamentos. Seu disci~ulo Porfirio<br />
ordenou esses tratados, que sio em<br />
numero de cinqiienta e quatro, dividindoos<br />
em seis grupos de nove, guiando-se pelo<br />
significado metafisico do niimero 9, de onde<br />
o titulo de Enba<strong>da</strong>s (ennea, em grego, signi-<br />
fica "nove") <strong>da</strong>do a esses escritos. aue nos<br />
, I<br />
chegaram i&egralmente, e que, juntamente<br />
com os didogos plat8nicos e os esotiricos<br />
aristotilicos, contern uma <strong>da</strong>s mais eleva-<br />
<strong>da</strong>s mensagens filos6ficas <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de e<br />
do Ocidente.<br />
Plotino gozou de enorme prestigio.<br />
Suas aulas eram freqiienta<strong>da</strong>s at6 por poli-<br />
ticos poderosos. 0 pr6prio imperador Ga-<br />
liano e sua mulher Solonina apreciavam<br />
nosso filosofo a tal ponto que chegaram a<br />
examinar um seu projeto de fun<strong>da</strong>r uma ci-<br />
<strong>da</strong>de de filosofos. aue deveria se chamar<br />
, L<br />
Platonopolis, cujos habitantes teriam de<br />
"observar as leis de Platio", ou seja, viver<br />
realizando a uni5o com o divino. 0 projeto<br />
fracassou devido 5s tramas dos cortesios.<br />
Plotino morreu aos sessenta e seis anos, em<br />
270 d.C., por causa de uma doenqa que o<br />
forqara a interromper suas liqGes e retirar-<br />
se para longe dos amigos.<br />
Suas ultimas palavras ao midico Eus-<br />
toquio (que espelham bem, alim <strong>da</strong>s fina-<br />
li<strong>da</strong>des do seu filosofar, o escopo de fun-<br />
do <strong>da</strong> sua Escola) soam como autentico<br />
testamento espiritual, que sela para sem-<br />
pre sua doutrina: "Procurai unir o divino<br />
que ha em v6s com o divino que ha no uni-<br />
verso."<br />
CJ "I/\noN corn0 principio<br />
priwei ro absoluto,<br />
prodMtor de si rnesrno<br />
Plotino realizou ver<strong>da</strong>deira e propria<br />
refun<strong>da</strong>gio <strong>da</strong> metafisica classics, desenvol-<br />
vendo posiqoes que s5,o novas em relaqZo a<br />
Platio e Aristoteles. E ver<strong>da</strong>de que hi em<br />
Plat50 elementos plotinianos ante litteram<br />
e que, na historia posterior do Platonismo,<br />
esses elementos foram consideravelmente<br />
fermentados (o Neopitagorismo, o Midio-<br />
platonismo e o Neo-aristotelismo consti-<br />
tuem etapas essenciais, sem as quais o Neo-<br />
platonismo seria impensivel), mas tambCm<br />
C ver<strong>da</strong>de que, em Plotino, eles se tornam<br />
algo novo e originalissimo.<br />
Segundo Plotino, todo ente i tal em vir-<br />
tude de sua "uni<strong>da</strong>de": retira<strong>da</strong> a uni<strong>da</strong>de,<br />
retira-se o ente. Ora, hi principios de uni-<br />
<strong>da</strong>de em diversos niveis, mas todos pressu-<br />
poem um principio supremo de uni<strong>da</strong>de, que<br />
ele denomina precisarnente de "Uno", e o<br />
concebe "acima" do ser e <strong>da</strong> inteligencia.<br />
A concepq5o do Uno-Bem como algo<br />
"acima do ser" e, implicitamente, acima <strong>da</strong><br />
inteligzncia (e portanto tambim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>),<br />
ja transparecia em Platio. Mas somente em<br />
Plotino encontra-se a motivaqio radical e<br />
ultima desse "estar acima", a qua1 consiste<br />
precisamente na "infinitude" do Uno. As-<br />
sim, C compreensivel que Plotino ten<strong>da</strong> a <strong>da</strong>r<br />
ao Uno caracterizaqoes e definiqoes predo-<br />
minantemente negativas: com efeito, como<br />
infinito, niio se aplica a ele nenhuma <strong>da</strong>s<br />
determinaqoes do finito, que sio to<strong>da</strong>s pos-<br />
teriores. A expressio "alCm de tudo" C a<br />
iinica que resulta adequa<strong>da</strong>. E, quando re-<br />
fere caracterizaqoes positivas ao Uno, Plo-<br />
tino usa linguagem analdgica.<br />
0 outro termo que Plotino usa com<br />
freqiitncia C "Bem" (agath6n). Obviamen-<br />
te, nio se trata de um bem em particular,<br />
mas do Bem-em-si, ou melhor, <strong>da</strong>quilo que<br />
C Bem para to<strong>da</strong>s as outras coisas que dele<br />
necessitam. Em suma, C o Bem "absoluta-<br />
mente transcendente", o Super-Bem.<br />
Assim, fica claro o sentido <strong>da</strong>s afirma-<br />
goes plotinianas de que o Uno esta "acima<br />
do ser, do pensamento e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>". Essas afir-<br />
maqoes nio significam que o Uno i n5o-ser,<br />
nio-pensamento e niio-vi<strong>da</strong>, mas sim que i<br />
Super-ser, Super-pensamento e Super-vi<strong>da</strong>.<br />
0 Uno absoluto, portanto, C causa de<br />
todo o resto. Mas Plotino se pergunta: por