História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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202 Quinta parte - Aristbteles<br />
fosse, contradiria o teorema <strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de<br />
do ato sobre a potincia: ou seja, primeiro<br />
haveria o caos, que 6 pothcia, para depois<br />
haver o mundo, que C ato. Mas isso C tanto<br />
mais absurd0 quando se sabe que, sendo<br />
eterno, Deus sempre atraiu o universo como<br />
objeto de amor; portanto, o universo deve<br />
ter sido sempre tal como 6.<br />
Problemas a respeito<br />
<strong>da</strong> subst6ncia<br />
sup ra-sensivel<br />
Esse Principio do qual "dependem o<br />
cCu e a natureza" 6 Vi<strong>da</strong>. Mas que vi<strong>da</strong>?<br />
Aquela que C mais excelente e perfeita de<br />
to<strong>da</strong>s, aquela vi<strong>da</strong> que so nos C possivel por<br />
breve tempo: a vi<strong>da</strong> do pensamento puro,<br />
a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de contemplativa. Eis a<br />
passagem estupen<strong>da</strong> em que Aristoteles des-<br />
creve a natureza do Motor Imovel: "De tal<br />
principio, portanto, dependem o cCu e a na-<br />
tureza. E o seu mod0 de viver C o mais ex-<br />
celente: C aquele mod0 de viver que s6 nos<br />
C concedido por breve tempo. E Ele esti<br />
sempre nesse estado. Para nos, isso i im-<br />
~ossivel, mas para Ele n5o C impossivel,<br />
porque o ato do seu viver C prazer. Tam-<br />
bem para nos sHo sumamente agra<strong>da</strong>veis a<br />
vigilia, a sensagio e o conhecimento, pre-<br />
cisamente porque sHo ato e, em virtude dis-<br />
so, tambCm esperanqas e recor<strong>da</strong>qijes. (. ..)<br />
Assim, se nessa feliz condi@o em que por<br />
vezes nos encontramos Deus se encontra<br />
perenemente, isso C maravilhoso; se Ele se<br />
encontra em uma condig50 superior, C ain-<br />
<strong>da</strong> mais maravilhoso. E Ele efetivamente<br />
se encontra nessa condig5o. Ele tambCm C<br />
Vi<strong>da</strong>, porque a ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> inteligincia 6<br />
vi<strong>da</strong> e Ele i precisamente essa ativi<strong>da</strong>de. E<br />
sua ativi<strong>da</strong>de, que subsiste por si mesma, C<br />
vi<strong>da</strong> otima e eterna. Com efeito, dizemos<br />
que Deus C vivente, eterno e otimo, de mo-<br />
do que a Deus pertence uma vi<strong>da</strong> perene-<br />
mente continua e eterna: isso, portanto, C<br />
Deus."<br />
Mas o que pensa Deus? Deus pensa o<br />
que 6 mais excelente. E a coisa mais ex-<br />
celente C o proprio Deus. Deus, portanto,<br />
pensa a si mesmo, C ativi<strong>da</strong>de contemplati-<br />
va de si mesmo: "6 pensamento de pensa-<br />
mento".<br />
Deus, portanto, C eterno, imovel, ato<br />
puro, privado de potenciali<strong>da</strong>de e de mat&<br />
ria, vi<strong>da</strong> espiritual e pensamento de pensa-<br />
mento. Sendo assim, obviamente, "n5o pode<br />
ter nenhuma grandeza", devendo ser "sem<br />
partes e indivisivel". E tambCm deve ser "im-<br />
passive1 e inalteravel".<br />
6 jMotor Jmbvel<br />
e as cinqiienta e cinco Jntelig&cias<br />
a Ele hiera~~uicamente subordina<strong>da</strong>s<br />
Essa substincia i unica ou havera ou-<br />
tras, afins a ela? Aristoteles nio acreditava<br />
que, por si so, o Motor Im6vel bastasse para<br />
explicar o movimento de to<strong>da</strong>s as esferas de<br />
que ele pensava que o cCu fosse constituido.<br />
Uma s6 esfera move as estrelas fixas, que,<br />
de fato, tim um movimento regularissimo.<br />
Mas, entre elas e a terra, existem outras 55<br />
esferas, que se movem com movimentos di-<br />
ferentes, os quais, combinando-se de varios<br />
modos, deveriam explicar os movimentos<br />
dos astros. Essas esferas s5o movi<strong>da</strong>s por<br />
Inteligtncias analogas ao Motor Imovel, mas<br />
inferiores a Ele; alias, uma sendo inferior a<br />
outra, assim como s5o hierarquicamente<br />
inferiores umas as outras as esferas que se<br />
encontram entre a esfera <strong>da</strong>s estrelas fixas e<br />
a terra.<br />
Sera essa uma forma de politeismo?<br />
Para Aristoteles, assim como para Pla-<br />
tio e, geralmente, para os gregos, o Divino<br />
designa ampla esfera, na qual, por razijes<br />
diversas, tim lugar multiplas e diferentes<br />
reali<strong>da</strong>des. Ja para os Naturalistas o Divino<br />
incluia estruturalmente muitos entes. E o<br />
mesmo vale para Platio. Analogamente,<br />
para Aristoteles, o Motor Imovel C divino,<br />
como tambCm s5o divinas as substincias<br />
supra-sensiveis e im6veis motrizes dos cCus,<br />
e tambCm i divina a alma intelectiva dos<br />
homens; divino C tudo aquilo que C eterno e<br />
incorruptivel.<br />
Estabeleci<strong>da</strong> essa premissa, devemos<br />
dizer que 6 inegavel certa tentativa de unifi-<br />
cag5o realiza<strong>da</strong> por Aristoteles. Antes de<br />
mais na<strong>da</strong>, ele so chamou explicitamente o<br />
Primeiro Motor com o termo "Deus" em<br />
sentido forte, reafirmando sua unici<strong>da</strong>de e<br />
deduzindo dessa unici<strong>da</strong>de tambkm a uni-<br />
ci<strong>da</strong>de do mundo. 0 dCcimo segundo livro<br />
<strong>da</strong> Metafisica se conclui com a solene afir-