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História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

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78<br />

Terceira parte - 14 descoberta do homem<br />

utili<strong>da</strong>de, ou seja, que, de alguma forma, a<br />

utili<strong>da</strong>de venha a se apresentar como obje-<br />

tiva. Em suma, pareceria que, para Proti-<br />

goras, o bem e o ma1 seriam, respectivamen-<br />

te, o ziti1 e o <strong>da</strong>noso; e o "melhor" e o "pior"<br />

seriam o "mais fitil" e o "mais <strong>da</strong>noso".<br />

Entretanto, com base em tudo o que<br />

nos foi legado de sua teoria, esti claro que<br />

Protigoras nio soube dizer em que bases e<br />

em que fun<strong>da</strong>mentos o sofista possa reco-<br />

nhecer tal "fitil" sociopolitico. Para fazi-lo,<br />

precisaria ter escavado mais profun<strong>da</strong>men-<br />

te na essincia do homem, para determinar<br />

sua natureza. Mas, historicamente, essa ta-<br />

refa cabera a Socrates. m<br />

G6rgias nasceu em Leontini, na Sicilia,<br />

por volta de 4851480 a.C., e viveu em per-<br />

feita saude fisica mais de um sCculo. Viajou<br />

por to<strong>da</strong> a GrCcia, alcangando amplos con-<br />

sensos em torno de si. A sua obra filosofica<br />

mais importante intitula-se Sobre a nature-<br />

za ou sobre o niio-ser (que C uma inversio<br />

do titulo <strong>da</strong> obra de Melisso).<br />

Enquanto Protigoras parte do relati-<br />

vismo para implantar o mitodo <strong>da</strong> antilogia,<br />

G6rgias parte do niilismo para construir o<br />

edificio de sua ret6rica. 0 tratado Sobre a<br />

natureza ou sobre o niio-ser C uma espCcie<br />

de manifesto do niilismo ocidental, basean-<br />

do-se nas tris teses seguintes:<br />

1) Nio existe o ser, ou seja, na<strong>da</strong> exis-<br />

te. Com efeito, os fil6sofos que falaram do<br />

ser determinaram-no de tal mod0 que che-<br />

garam a conclusdes que se anulam recipro-<br />

camente, de mod0 que o ser nio pode ser<br />

"nem uno, nem mdtiplo, nem incriado, nem<br />

gerado" e, portanto, seri na<strong>da</strong>.<br />

2) Se o ser existisse, "nio poderia ser<br />

cognoscivel". Para provar essa afirma~io,<br />

G6rgias procurava impugnar o principio de<br />

ParmCnides segundo o qual o pensamento C<br />

sempre e s6 pensamento do ser e o nio-ser C<br />

impensivel. Hi pensados (por exemplo, po-<br />

demos pensar em carruagens correndo sobre<br />

o mar) que nio existem e hi nio-existentes<br />

(Cila, a Quimera etc.) que s5o pensados.<br />

Portanto, hi div6rcio e ruptura entre ser e<br />

pensamento.<br />

3) Mesmo que fosse pensivel, o ser<br />

permaneceria inexprimivel. Com efeito, a<br />

palavra nio pode transmitir verazmente coi-<br />

sa nenhuma que nio seja ela pr6pria: "Co-<br />

mo 6 que ( . . . ) alguim poderia expressar com<br />

a pa1at.r~ rquilo que v B Ou como C que<br />

isso poderia tornar-se manifesto para quem<br />

o escuta sem ti-lo visto? Com efeito, assim<br />

como a vista nio conhece sons, igualmente<br />

o ouvido nio ouve as cores, mas os sons; e<br />

diz o certo quem diz, mas nio diz uma cor<br />

nem uma expericncia. "<br />

Elimina<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>de de alcangar<br />

uma "ver<strong>da</strong>de" absoluta (a ale'theia), pare-<br />

ce que s6 restou a Gorgias o caminho <strong>da</strong><br />

"opiniio" (doxa). Ele, porim, negou tam-<br />

bCm a opiniio, considerando-a "a mais pCr-<br />

fi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s coisas". Procura entio um terceiro<br />

caminho, o <strong>da</strong> razio que se limita a ilumi-<br />

nar fatos, circunstiincias e situagdes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

dos homens e <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des na sua concreti-<br />

tude e na sua situagio contingente, sem che-<br />

gar a <strong>da</strong>r a estes um fun<strong>da</strong>mento adequado.<br />

Ih\ nova doutrina<br />

<strong>da</strong> "retbrica"<br />

Sua posigio em relagio i ret6rica C<br />

nova e original. Se nio existe ver<strong>da</strong>de abso-<br />

luta e tudo C falso, a palavra adquire entiio<br />

autonomia prdpria, quase ilimita<strong>da</strong>, porque<br />

desliga<strong>da</strong> dos vinculos do ser. Em sua inde-<br />

pendincia onto-veritativa, torna-se (ou pode<br />

tornar-se) disponivel para tudo. E eis que<br />

G6rgias descobre, precisamente no plano<br />

teorCtico, aquele aspecto <strong>da</strong> palavra pelo<br />

qual (prescindindo de to<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de), ela<br />

pode ser portadora de persuasiio, creqa e<br />

sugestiio. A ret6rica C exatamente a arte que<br />

desfruta a fundo esse aspecto <strong>da</strong> palavra,<br />

podendo ser defini<strong>da</strong> como a arte de persua-<br />

dir, que no sic. V a.C. tinha enorme impor-

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