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História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

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0 ser e seus sigoificcldos<br />

A segun<strong>da</strong> definiqiio de metafisica,<br />

como vimos, i <strong>da</strong><strong>da</strong> por Aristoteles em cha-<br />

ve ontol6gica: "ha urna ciencia que consi-<br />

dera o ser enquanto ser e as proprie<strong>da</strong>des<br />

que Ihe cabem enquanto tal. Ela n5o se iden-<br />

tifica com nenhuma <strong>da</strong>s ciincias particula-<br />

res: com efeito, nenhuma <strong>da</strong>s outras cicncias<br />

considera o ser enquanto ser universal; com<br />

efeito, depois de delimitar urna parte dele,<br />

ca<strong>da</strong> urna estu<strong>da</strong> as caracteristicas dessa par-<br />

te." Assim, a metafisica considera o ser como<br />

"inteiro", ao passo que as ciencias particu-<br />

lares consideram somente partes dele. A me-<br />

tafisica pretende chegar is "causas primei-<br />

ras do ser enquanto ser", ou seja, ao porqut?<br />

que explica a reali<strong>da</strong>de em sua totali<strong>da</strong>de;<br />

ja as ciincias particulares se dettm nas cau-<br />

sas particulares, nas partes especificas <strong>da</strong> rea-<br />

li<strong>da</strong>de.<br />

Mas o que i o ser? Parmenides e os<br />

Eleaticos o entendiam como "univoco". E<br />

a univoci<strong>da</strong>de comporta tambim a "unici-<br />

<strong>da</strong>de". Platiio ja realizara grande progress0<br />

ao introduzir o conceit0 de "niio-ser" como<br />

"diverso", o que permitia justificar a multi-<br />

plici<strong>da</strong>de dos seres inteligiveis. Mas Platiio<br />

ain<strong>da</strong> niio tivera a coragem de colocar na es-<br />

fera do ser tambim o mundo sensivel, que<br />

preferiu denominar "intermediario" (metaxy)<br />

entre ser e niio-ser (porque esta em devir).<br />

Ora, Aristoteles introduz sua grande refor-<br />

ma, que implica na superaqiio total <strong>da</strong> onto-<br />

logia eleatica; o ser niio tem apenas um, mas<br />

multiplos significados. Tudo aquilo que niio<br />

C puro na<strong>da</strong> encontra-se a pleno titulo na<br />

esfera do ser, seja urna reali<strong>da</strong>de sensivel,<br />

seja urna reali<strong>da</strong>de inteligivel. Mas a multi-<br />

plici<strong>da</strong>de e varie<strong>da</strong>de de significados do ser<br />

niio comportam pura "homonimia", porque<br />

ca<strong>da</strong> um e todos os significados do ser im-<br />

plicam "uma referincia comum a urna uni-<br />

<strong>da</strong>de", ou seja, uma "refertncia i estrutu-<br />

ral substiincia". Portanto, o ser i substiincia,<br />

alterag50 <strong>da</strong> substiincia ou ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

substiincia ou, de qualquer modo, algo-que-<br />

reporta-A-substiincia.<br />

To<strong>da</strong>via, Aristoteles tambim procurou<br />

redigir um quadro que reunisse todos os sig-<br />

nificados possiveis do ser, distinguindo qua-<br />

tro grupos fun<strong>da</strong>mentais de significados:<br />

1) o ser como categorias (ou ser em si);<br />

2) o ser como ato e potincia;<br />

3) o ser como acidente;<br />

4) o ser como ver<strong>da</strong>deiro (e o niio-ser<br />

como falso).<br />

1) As &tegorias representam o grupo<br />

principal dos significados do sere constituem<br />

as originarias "divisoes do ser" ou, como<br />

tambim diz Aristoteles, os supremos "gt-<br />

neros do ser". Eis o quadro <strong>da</strong>s categorias:<br />

1. substiincia ou essencia;<br />

2. quali<strong>da</strong>de;<br />

3. quanti<strong>da</strong>de;<br />

4. relaqiio;<br />

5. aqiio ou agir;<br />

6. paixiio ou sofrer;<br />

7. onde ou lugar;<br />

8. quando ou tempo;<br />

(9). ter;<br />

(10). jazer.<br />

Pusemos as ultimas duas entre partnte-<br />

ses porque Aristoteles fala pouquissimas ve-<br />

zes delas (talvez tenha querido alcanqar o n&<br />

mero dez em homenagem i dica<strong>da</strong> pitagorica;<br />

mas, o mais <strong>da</strong>s vezes, faz refercncia a oito<br />

categorias). Deve-se destacar que, embora se<br />

trate de significados originarios, somente a<br />

primeira categoria tem subsisthcia aut6no-<br />

ma, enquanto to<strong>da</strong>s as outras pressupoem a<br />

primeira e baseiam-se no ser <strong>da</strong> prirneira (a<br />

"quali<strong>da</strong>de" e a "quanti<strong>da</strong>de" siio sempre de<br />

uma substincia, as "relaq6es" siio relaqoes<br />

entre substincias e assim por diante).<br />

2) Tambim o segundo grupo de sig-<br />

nificados, ou seja, o do ato e <strong>da</strong> potincia, i<br />

muito importante. Com efeito, eles s5o ori-<br />

ginarios e, portanto, niio podem ser defini-<br />

dos em referencia a outra coisa, mas apenas<br />

em relaqiio mutua um com o outro e ilus-<br />

trados com exemplos. Ha grande diferenqa<br />

entre o cego e quem tem olhos sadios, mas<br />

os mantim fechados: o primeiro niio 6 "vi-<br />

dente"; o segundo i, mas "em potincia" e<br />

nio "em ato", pois so quando abre os olhos<br />

i vidente "em ato". Do mesmo modo, dize-<br />

mos que a plantinha de trigo "6" trigo "em<br />

potencia", ao passo que a espiga madura<br />

"i" trig0 "em ato". Veremos como essa dis-<br />

tins50 desempenha papel essencial no siste-<br />

ma aristotilico, resolvendo varias aporias<br />

em diversos iimbitos. A potincia e o ato (e<br />

esta C urna observaqiio que se deve ter sem-<br />

pre em conta) se d5o em to<strong>da</strong>s as categorias<br />

(podem ser em potencia ou em ato urna subs-<br />

tiincia, urna quali<strong>da</strong>de et~.).<br />

3) 0 ser acidentali o ser casual e for-<br />

tuito (gquilo que "acontece de ser" ). Trata-<br />

se de um mod0 de ser que nHo apenas de-<br />

pende de outro ser, como tambim n5o esti

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