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História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine

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34<br />

Capitulo de'cimo quinto - j\leoceticismo, Nro-aristotrlis~o, 11/2Cclio-platonis~~OO0<br />

--<br />

Enesidemo procurou desmantelar esses<br />

tris fun<strong>da</strong>mentos, insistindo sobretudo no<br />

segundo. Tambim a proposito dessa quest5o<br />

ele procurou elaborar um quadro de "tropos",<br />

isto i, de erros tipicos em que recai<br />

quem quer buscar a "causa <strong>da</strong>s coisas".<br />

Depois de denunciar a pretensio de encontrar<br />

as causas dos fen6menos, Enesidemo<br />

passa ao problema <strong>da</strong> inferzncia ou, para<br />

falar em linguagem antiga, ao problema dos<br />

"sinais", ao qual dedicou anilise especifica,<br />

talvez a primeira que tenha sido feita no<br />

imbito do pensamento antigo.<br />

0 nucleo essencial de seu pensamento<br />

i o seguinte: no momento em que pretendemos<br />

interpretar urn fen6meno como um<br />

"sinal", colocamo-nos ji sobre um plano<br />

metafenominico, enquanto entendemos o<br />

fen8meno como o efeito (que se manifesta)<br />

de uma causa (que niio se manifesta), ou seja,<br />

pressupomos simplesmente (indevi<strong>da</strong>mente)<br />

a existincia do nexo ontologico causa-efeito<br />

e sua vali<strong>da</strong>de universal.<br />

Sexto Empirico nos relata que Enesidemo<br />

conjugou seu Ceticismo com o Heraclitismo<br />

e, em seus Esbo~os pirr&zicos,<br />

escreve textualmente: "Enesidemo dizia que<br />

a orientaqiio citica C um caminho que conduz<br />

a filosofia heraclitiana." E isso C compreensivel.<br />

Com efeito, a medi<strong>da</strong> que Enesidemo<br />

resolvia o ser no aparecer, o "em-sin<br />

no "para-nos", a substincia no acidente (assim<br />

como Pirro), ele tolhia o fundo esthvel<br />

do ser e <strong>da</strong> substincia, devendo conseqiientemente<br />

desembocar no Heraclitismo, ou<br />

melhor, naquela forma de Heraclitismo que,<br />

deixando de lado a ontologia do logos e <strong>da</strong><br />

harmonia dos contririos, ji a partir de Cratilo<br />

pusera a infase no mobilismo universal<br />

e na instabili<strong>da</strong>de de to<strong>da</strong>s as coisas (ao passo<br />

que Pirro, como vimos, desembocara em<br />

uma forma de Eleatismo em negativo, paralela<br />

a essa).<br />

Enesidemo se ocupou a fundo <strong>da</strong>s idkias<br />

morais, sobretudo com o objetivo de desmantelar<br />

as doutrinas dos adversarios nesse<br />

campo. Ele negou que os conceitos de bem<br />

e ma1 e de indiferentes (preferiveis e niio-preferiveis)<br />

estivessem no dominio <strong>da</strong> compreens30<br />

humana e do conhecimento. Tambim<br />

criticou a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s concepqoes propostas<br />

pelos dogmiticos em relaqiio virtude. Por<br />

fim, ele pr6prio contestou sistematicamente<br />

a possibili<strong>da</strong>de de entender como fim a<br />

felici<strong>da</strong>de, o prazer, a sabedoria ou qualquer<br />

coisa semelhante, opondo-se a to<strong>da</strong>s as Escolas<br />

filosoficas; sem meios-termos, susten-<br />

tou a niio existincia de um telos, ou seja, de<br />

um "firn". Para ele, como para os CCticos<br />

anteriores, o unico fim, quando muito, po-<br />

deria ser a propria "suspensiio do juizo",<br />

corn o estado de "imperturbabili<strong>da</strong>de" dela<br />

decorrente.<br />

O Ceticismo<br />

de Sexto &wPivico<br />

Siio escassas as informaqties que temos<br />

sobre a historia do Ceticismo depois de Enesidemo.<br />

So conhecemos bem Sexto Empirico<br />

(cujas obras principais chegaram ate nos),<br />

que viveu cerca de dois siculos depois de<br />

Enesidemo.<br />

Sexto viveu na segun<strong>da</strong> metade do sic.<br />

I1 d.C. e talvez tenha morrido em principios<br />

do sic. I11 d.C. Niio sabemos onde ensinou.<br />

Parece que j i no tempo do mestre de Sexto<br />

a Escola saira de Alexandria. Alim dos Esbogos<br />

pirrGnicos, chegaram ati nos outras<br />

duas obras de Sexto, intitula<strong>da</strong>s, respectivamente,<br />

Contra os professores (matematicos),<br />

em seis livros, e Contra os dogmaticos,<br />

em cinco livros. comumente cita<strong>da</strong>s com o<br />

titulo unitario Contra os matematicos ("maternaticos"<br />

siio os homens que prof&sam<br />

artes e ciincias) e com a numeraqiio progressiva<br />

dos livros de um a onze.<br />

0 fenol~lenismo de Sexto revela-se formulado<br />

em termos claramente dualisticos:<br />

o fen8meno torna-se a impress50 ou altera-<br />

$20 sensivel do sujeito e, como tal, C contrapost0<br />

a0 objeto, a "coisa externa", ou seja,<br />

a coisa que i diferente do sujeito, pressuposta<br />

como causa <strong>da</strong> alteraqiio sensivel do<br />

proprio sujeito. Assim, pode-se afirmar que,<br />

enquanto o fenomenismo de Pirro e de Enesidemo<br />

resolvia a reali<strong>da</strong>de no seu aparecer,<br />

era um fenomenismo absoluto e, portanto,<br />

metafisico (basta recor<strong>da</strong>r que o fenomenismo<br />

de Pirro levava expressamente a admissiio<br />

de uma "natureza do divino e do bem",<br />

que vive eternamente, e <strong>da</strong> qual "deriva para<br />

o homem a vi<strong>da</strong> mais igual", e que o fenomenismo<br />

de Enesidemo levava tambim expressamente<br />

a uma visiio heraclitiana do real),<br />

o fenomenismo de Sexto Empirico, ao contr5ri0,<br />

era um fenomenismo de carater tzpicamente<br />

empirico e antimetafisico: como<br />

mera alteraqio do sujeito, o fen6meno niio<br />

resume em si to<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong>de, deixando fora<br />

de si o "objeto externo", o qual k declara-

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