História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
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Capitulo de'cimo quinto - j\leoceticismo, Nro-aristotrlis~o, 11/2Cclio-platonis~~OO0<br />
--<br />
Enesidemo procurou desmantelar esses<br />
tris fun<strong>da</strong>mentos, insistindo sobretudo no<br />
segundo. Tambim a proposito dessa quest5o<br />
ele procurou elaborar um quadro de "tropos",<br />
isto i, de erros tipicos em que recai<br />
quem quer buscar a "causa <strong>da</strong>s coisas".<br />
Depois de denunciar a pretensio de encontrar<br />
as causas dos fen6menos, Enesidemo<br />
passa ao problema <strong>da</strong> inferzncia ou, para<br />
falar em linguagem antiga, ao problema dos<br />
"sinais", ao qual dedicou anilise especifica,<br />
talvez a primeira que tenha sido feita no<br />
imbito do pensamento antigo.<br />
0 nucleo essencial de seu pensamento<br />
i o seguinte: no momento em que pretendemos<br />
interpretar urn fen6meno como um<br />
"sinal", colocamo-nos ji sobre um plano<br />
metafenominico, enquanto entendemos o<br />
fen8meno como o efeito (que se manifesta)<br />
de uma causa (que niio se manifesta), ou seja,<br />
pressupomos simplesmente (indevi<strong>da</strong>mente)<br />
a existincia do nexo ontologico causa-efeito<br />
e sua vali<strong>da</strong>de universal.<br />
Sexto Empirico nos relata que Enesidemo<br />
conjugou seu Ceticismo com o Heraclitismo<br />
e, em seus Esbo~os pirr&zicos,<br />
escreve textualmente: "Enesidemo dizia que<br />
a orientaqiio citica C um caminho que conduz<br />
a filosofia heraclitiana." E isso C compreensivel.<br />
Com efeito, a medi<strong>da</strong> que Enesidemo<br />
resolvia o ser no aparecer, o "em-sin<br />
no "para-nos", a substincia no acidente (assim<br />
como Pirro), ele tolhia o fundo esthvel<br />
do ser e <strong>da</strong> substincia, devendo conseqiientemente<br />
desembocar no Heraclitismo, ou<br />
melhor, naquela forma de Heraclitismo que,<br />
deixando de lado a ontologia do logos e <strong>da</strong><br />
harmonia dos contririos, ji a partir de Cratilo<br />
pusera a infase no mobilismo universal<br />
e na instabili<strong>da</strong>de de to<strong>da</strong>s as coisas (ao passo<br />
que Pirro, como vimos, desembocara em<br />
uma forma de Eleatismo em negativo, paralela<br />
a essa).<br />
Enesidemo se ocupou a fundo <strong>da</strong>s idkias<br />
morais, sobretudo com o objetivo de desmantelar<br />
as doutrinas dos adversarios nesse<br />
campo. Ele negou que os conceitos de bem<br />
e ma1 e de indiferentes (preferiveis e niio-preferiveis)<br />
estivessem no dominio <strong>da</strong> compreens30<br />
humana e do conhecimento. Tambim<br />
criticou a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s concepqoes propostas<br />
pelos dogmiticos em relaqiio virtude. Por<br />
fim, ele pr6prio contestou sistematicamente<br />
a possibili<strong>da</strong>de de entender como fim a<br />
felici<strong>da</strong>de, o prazer, a sabedoria ou qualquer<br />
coisa semelhante, opondo-se a to<strong>da</strong>s as Escolas<br />
filosoficas; sem meios-termos, susten-<br />
tou a niio existincia de um telos, ou seja, de<br />
um "firn". Para ele, como para os CCticos<br />
anteriores, o unico fim, quando muito, po-<br />
deria ser a propria "suspensiio do juizo",<br />
corn o estado de "imperturbabili<strong>da</strong>de" dela<br />
decorrente.<br />
O Ceticismo<br />
de Sexto &wPivico<br />
Siio escassas as informaqties que temos<br />
sobre a historia do Ceticismo depois de Enesidemo.<br />
So conhecemos bem Sexto Empirico<br />
(cujas obras principais chegaram ate nos),<br />
que viveu cerca de dois siculos depois de<br />
Enesidemo.<br />
Sexto viveu na segun<strong>da</strong> metade do sic.<br />
I1 d.C. e talvez tenha morrido em principios<br />
do sic. I11 d.C. Niio sabemos onde ensinou.<br />
Parece que j i no tempo do mestre de Sexto<br />
a Escola saira de Alexandria. Alim dos Esbogos<br />
pirrGnicos, chegaram ati nos outras<br />
duas obras de Sexto, intitula<strong>da</strong>s, respectivamente,<br />
Contra os professores (matematicos),<br />
em seis livros, e Contra os dogmaticos,<br />
em cinco livros. comumente cita<strong>da</strong>s com o<br />
titulo unitario Contra os matematicos ("maternaticos"<br />
siio os homens que prof&sam<br />
artes e ciincias) e com a numeraqiio progressiva<br />
dos livros de um a onze.<br />
0 fenol~lenismo de Sexto revela-se formulado<br />
em termos claramente dualisticos:<br />
o fen8meno torna-se a impress50 ou altera-<br />
$20 sensivel do sujeito e, como tal, C contrapost0<br />
a0 objeto, a "coisa externa", ou seja,<br />
a coisa que i diferente do sujeito, pressuposta<br />
como causa <strong>da</strong> alteraqiio sensivel do<br />
proprio sujeito. Assim, pode-se afirmar que,<br />
enquanto o fenomenismo de Pirro e de Enesidemo<br />
resolvia a reali<strong>da</strong>de no seu aparecer,<br />
era um fenomenismo absoluto e, portanto,<br />
metafisico (basta recor<strong>da</strong>r que o fenomenismo<br />
de Pirro levava expressamente a admissiio<br />
de uma "natureza do divino e do bem",<br />
que vive eternamente, e <strong>da</strong> qual "deriva para<br />
o homem a vi<strong>da</strong> mais igual", e que o fenomenismo<br />
de Enesidemo levava tambim expressamente<br />
a uma visiio heraclitiana do real),<br />
o fenomenismo de Sexto Empirico, ao contr5ri0,<br />
era um fenomenismo de carater tzpicamente<br />
empirico e antimetafisico: como<br />
mera alteraqio do sujeito, o fen6meno niio<br />
resume em si to<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong>de, deixando fora<br />
de si o "objeto externo", o qual k declara-