História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
História da Filosofia – Volume 1 - Charlezine
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Segun<strong>da</strong> parte - $\ fun<strong>da</strong>c60 do penscamento filos6fico<br />
0s destinos do homem<br />
No Carme lustral, EmpCdocles tornou<br />
suas e desenvolveu as concepgdes orficas,<br />
apresentando-se como seu profeta e mensa-<br />
geiro. Em sugestivos versos, expressou o<br />
conceit0 de que a alma do homem C um de-<br />
mbnio que foi banido do Olimpo por causa<br />
de sua culpa originaria, e jogado a merct<br />
do ciclo dos nascimentos, sob to<strong>da</strong>s as for-<br />
mas de vi<strong>da</strong>, para expiar sua culpa:<br />
"TambCm eu sou um desses,<br />
errante e fugitivo dos deuses,<br />
porque confiei na furiosa conten<strong>da</strong>.. .<br />
Porque urn dia fui menino e menina,<br />
arbusto e pissaro e mudo peixe do mar ..."<br />
No poema, di as normas de vi<strong>da</strong> aptas<br />
para purificar-se e libertar-se do ciclo <strong>da</strong>s re-<br />
encarnaqdes, e para retornar entre os deuses,<br />
"<strong>da</strong>s humanas dores libertados, indenes,<br />
inviolados".<br />
No pensamento de EmpCdocles, fisica,<br />
mistica e teologia formam uni<strong>da</strong>de compac-<br />
ta. Para ele, s5o divinas as quatro "raizes",<br />
ou seja, a agua, o ar, a terra e o fogo; divi-<br />
nas siio as forqas <strong>da</strong> Amizade e <strong>da</strong> Discor-<br />
dia; Deus C o Esfero; as almas s5o dembnios,<br />
almas que, corno todo o resto, s5o consti-<br />
tui<strong>da</strong>s pelos elementos e forgas cosmicas. Ao<br />
contririo do que muitos julgaram, hi uni-<br />
<strong>da</strong>de de inspirag50 entre os dois poemas de<br />
EmpCdocles, n5o havendo de mod0 algum<br />
antitese entre dimensso "fisica" e dimens50<br />
"mistica". Quando muito, a dificul<strong>da</strong>de C a<br />
oposta: neste universo em que tudo C "divi-<br />
ng", at6 a propria Discordia, n5o se vg que<br />
coisa n5o o seja, nem como "alma" e "cor-<br />
po" possam estar em contraste, ja que deri-<br />
vam <strong>da</strong>s mesmas "raizes". So Plat50 tenta-<br />
ri <strong>da</strong>r resposta a esse problema.<br />
<strong>da</strong>s "G\ow\eow\eriasl'<br />
e <strong>da</strong> Jntelig&ncia ordenadora<br />
OM "homeomerias"<br />
$\ doutrina <strong>da</strong>s "sementes"<br />
Anaxagoras deu prosseguimento<br />
tentativa de resolver a grande dificul<strong>da</strong>de<br />
suscita<strong>da</strong> pela filosofia eleatica. Nascido por<br />
volta de 500 a.C. em Clazbmenas e falecido<br />
em torno de 428 a.C., Anaxagoras viveu<br />
durante trts dCca<strong>da</strong>s em Atenas. Provavel-<br />
mente, foi exatamente seu o mCrito de ter<br />
introduzido o pensamento filosofico nessa<br />
ci<strong>da</strong>de, destina<strong>da</strong> a tornar-se a capital <strong>da</strong><br />
filosofia antiga. Ele escreveu um tratado<br />
Sobre a natureza, do qua1 nos chegaram<br />
fragmentos significativos.<br />
Anaxagoras tambCm se declara per-<br />
feitamente de acordo sobre a impossibili<strong>da</strong>-<br />
de de que o niio-ser exista e, portanto, de<br />
que "nascer" e "morrer" constituam even-<br />
tos reais. Escreve ele: "Mas os gregos niio<br />
consideram corretamente o nascer e o mor-<br />
rer: com efeito, coisa alguma nasce e morre,<br />
mas sim, a partir <strong>da</strong>s coisas que existem, se<br />
produz urn process0 de composig50 e divi-<br />
s5o. Portanto, eles deveriam chamar corre-<br />
tamente o nascer de compor-se e o morrer<br />
de dividir-se."<br />
Essas "coisas que existem", as quais,<br />
compondo-se e decompondo-se, originam o<br />
nascer e o morrer de to<strong>da</strong>s as coisas, nio<br />
podem ser apenas as quatro raizes de EmpC-<br />
docles. Com efeito, a iigua, o ar, a terra e o<br />
fogo estzo bem longe de terem condigdes de<br />
explicar as inumer6veis quali<strong>da</strong>des que se<br />
manifestam nos fen6menos. As "sementes"<br />
(spe'rmata) ou elementos dos quais derivam<br />
as coisas deveriam ser tantas quantas s5o as<br />
inumerziveis quanti<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s coisas, precisa-<br />
mente "sementes com formas, cores e gostos<br />
de todo tipo", ou seja, infinitamente varia-<br />
<strong>da</strong>s. Assim, tais sementes s5o o originhrio qua-<br />
litativo pensado eleaticamente, n5o apenas<br />
como incriado (eterno), mas tambCm como<br />
imuthvel (nenhuma quali<strong>da</strong>de se transforma<br />
em outra, exatamente a medi<strong>da</strong> que C origi-<br />
n6ria). Esses "muitos" originarios Go, em su-<br />
ma, ca<strong>da</strong> um, como Melisso pensava, o Uno.<br />
To<strong>da</strong>via, tais sementes n5o s5o apenas<br />
infinitas em numero toma<strong>da</strong>s em seu con-<br />
junto (infinitas quali<strong>da</strong>des), mas tambCm<br />
infinitas quando toma<strong>da</strong>s ca<strong>da</strong> uma sepa-<br />
ra<strong>da</strong>mente, ou seja, s5o infinitas tambCm em<br />
quanti<strong>da</strong>de: niio ttm limites na grandeza<br />
(s5o inexauriveis) nem na pequenez, porque<br />
podem ser dividi<strong>da</strong>s ao infinito sem que a<br />
divisio chegue a um limite, ou seja, sem que<br />
se chegue ao na<strong>da</strong> (<strong>da</strong>do que o na<strong>da</strong> n50<br />
existe). Assim, pode-se dividir qualquer se-<br />
mente que se queira (qualquer substincia-<br />
quali<strong>da</strong>de) em partes sempre menores, e as<br />
partes assim obti<strong>da</strong>s serio sempre <strong>da</strong> mes-<br />
ma quali<strong>da</strong>de. Precisamente por essa carac-<br />
teristica de serem-divisiveis-em-partes-que-